Morreu, na madrugada desta segunda-feira (21), o José Fernandes, aos 87 anos, mais conhecido como Zé Diabo. Trata-se do artista responsável por esculpir as famosas Esculturas do Paredão, em Orleans. Conforme informações, a morte ocorreu em decorrência de problemas cardíacos e Alzheimer.
Ele nasceu em Orleans, no dia 19 de março de 1930. Frequentou a escola até o quarto ano primário. Desde então, o interesse dele era voltado para o desenho. Além disso, objetos de barro também o encantavam. Aos doze anos, começou a trabalhar na pedraria de seu pai, nas proximidades do Paredão de Orleans. Foi nesta época que surgiu o sonho de esculpir naquele lugar.
Zé Diabo trabalhou também como pedreiro, pintor na construção civil e artista plástico. Em 1958, recebeu o primeiro convite para pintar obras sacras na Capela Imaculada Conceição, em Rio Pinheiros Alto, Orleans. A partir de então, recebeu outras encomendas para pintar obras sacras em capelas e igrejas da região. Além disso, o artista fazia também esculturas e pinturas em tela com a técnica óleo sobre tela.
Demais obras
Dentre outras obras do artista, destacam-se a pintura na Igreja Matriz Santa Otília, no centro de Orleans/SC; pintura na Igreja de São Miguel Arcângelo, na localidade de Invernada, Grão Pará/SC; obra na Igreja Matriz São Marcos de Nova Veneza/SC; escultura do busto do Papa João XXIII, na parede da Sede João XXIII, pertencente à Igreja Matriz Santa Otília de Orleans/SC; Esculturas do Paredão, em Orleans/SC; Pórtico Municipal de Orleans/SC; esculturas em cimento, na Igreja Santo Antônio de Pádua, em Sombrio/SC; técnicas de óleo sobre tela: Retrato de sua esposa Eunice (1985), Autorretrato Zé Diabo (1986), “A alcunha Zé Diabo” (1990), “Noite romântica” e entre outras obras realizadas.
Por que Zé Diabo?
O apelido de Zé Diabo surgiu quando o artista foi convidado a pintar na Igreja São Miguel dos Arcanjos, em Grão Pará. Na época, os fieis ficaram espantados com o realismo retratado pelo painel de 2,5 x 5,0m. Sempre que o artista voltava à localidade, as pessoas se referiam a ele como o “homem que pintou o Diabo” ou o “Zé do Diabo”, até que foi simplificado para Zé Diabo e se tornou apelido e assinatura nas obras por ele pintadas. A Igreja São Miguel dos Arcanjos foi demolida, não restando registro da obra “A briga de São Miguel Arcanjo com o Diabo”.
Com o passar dos anos, o artista foi cansando de fazer apenas as pinturas em igrejas. O desejo de fazer as esculturas do paredão, que já era antigo, ressurgiu. Zé Diabo resolveu então fazer esculturas em pedras e, em sua concepção, o melhor lugar para isso era no paredão aberto de Orleans para a construção da estrada de ferro. A dificuldade, entretanto, estava em encontrar recursos para a realização desta obra.
Alguns amigos, tais como Luiz Carminati, que apresentava um programa de rádio, e o padre João Leonir Dall’Alba, então presidente da Fundação Educacional Barriga Verde – Febave, se interessaram foram uns dos primeiros a se interessar pela ideia. A busca por recursos então iniciou. Não se imaginava, contudo, a proporção que as obras teriam.
As Esculturas do Paredão: um projeto inacabado
No projeto inicial, estava prevista a criação de 28 painéis. Juntos, somariam 1,3 mil m². Nove painéis seriam de obras sacras, sendo cinco do Antigo Testamento (A Criação do Homem, O Sacrifício de Abraão, Passagem do Mar Vermelho, O Templo do Rei Salomão e os Profetas) e Quatro do Novo Testamento (Anunciação, Nascimento, Morte e Ressureição de Cristo). Os outros 19, retratariam a história do Brasil (A Família Imperial, Os Senhores do Engenho, Ciclo do Ouro, Ciclo do Café, Criação de Gado e entre outros).
Zé Diabo iniciou as esculturas em 1980 com dois painéis para ensaio: “A Primeira Missa no Brasil” e “A Catequese dos Índios”. Os trabalhos experimentais foram realizados para testar como o artista se sairia na realização dos trabalhos.
Para a criação da obra, o escultor fez estudos em esboços e utilizou modelos vivos. Todos os painéis são inéditos, representam a visão do artista a respeito de cada acontecimento esculpido. Dos vinte e oito painéis projetados, sete foram realizados. Cinco deles, com cenas do Antigo Testamento: A Criação do Homem, O Sacrifício de Abraão, A Passagem do Mar Vermelho, O Templo do Rei Salomão e Os Profetas. Os outros dois representam passagens do Novo Testamento: A Anunciação e o Nascimento de Cristo, este não concluído. Ao total, soma-se 161 m² esculpidos, sendo que os maiores painéis medem 50 m² e o menor 9 m².
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Durante os oito anos em que trabalhou no local, o número de visitantes ultrapassou os sessenta mil. Ver de perto as Esculturas do Paredão interessava tanto as pessoas da região, quanto aos moradores de outros estados e países. Além disso, o trabalho foi pauta de muitos veículos de comunicação do Brasil.
Em 1988, o contrato do escultor foi rescindido. Zé Diabo e o filho Joel Fernandes, que o auxiliava, foram afastados da função na qual exerciam na Fundação Catarinense de Cultura. Assim, tornou-se inviável continuar os trabalhos e as obras foram paralisadas. O fato do projeto inicial não ter sido concluído não desmerece as Esculturas do Paredão. As obras continuam sendo um dos principais pontos turísticos do Sul Catarinense. As cenas esculpidas no Paredão dão vida a um espaço que, até então, estava morto.
Contudo, a falta de valorização por parte do poder público entristecia o artista. Durante anos, o desleixo com o local, devido à falta de manutenção e limpeza, não condizia com a grandeza das obras. Aparentemente, isso estava para mudar.
Dentro das comemorações do aniversário de 104 de Orleans, organizada pela Administração Municipal, contempla a inauguração da revitalização das Esculturas do Paredão. O evento será realizado no dia 30 de agosto, às 13 horas, com a Banda do Exército. Agora, tal celebração ficará marcada como uma homenagem póstuma ao artista. O atual prefeito, Jorge Koch, garante que o local voltará a receber o reconhecimento que merece e tal cuidado será lembrado como uma das marcas de sua gestão, ao lado do vice-prefeito Mário Coan.