Maçã, milho, trigo e carnes de frango e suínos estão entre os produtos impactados pela crise na Europa
Com reflexos na economia global, a guerra entre Rússia e Ucrânia segue preocupando o agronegócio de Santa Catarina, principalmente por conta da importação de fertilizantes daquela região, que afeta a produção do estado. Caso a crise se agrave, alimentos comuns na mesa dos catarinenses devem ficar mais caros e escassos, apontam especialistas e entidades do setor.
Conforme analista de socioeconomia da Epagri/Cepa, Rogério Goulart Junior, Santa Catarina importa cerca de 2,2 milhões de toneladas de fertilizantes por ano. Do total importado, 12,8% é originário da Rússia, da Ucrânia e de Belarus.
— Caso se confirmem as projeções de dificuldades na importação de fertilizantes, espera-se a elevação dos preços desse insumo, o que pressionaria os custos de produção das lavouras, resultando em prováveis aumentos de preços, especialmente dos grãos, com reflexos nos custos da produção animal — avalia o analista.
Alguns alimentos catarinenses sofrerão impactos diretos por conta das sanções econômicas e a crise na região. Veja quais:
Maçã
O analista da Epagri explica que a maçã pode ser o alimento mais afetado diretamente. Os russos foram responsáveis por 24,5% das receitas geradas pela exportação de maçã fresca de Santa Catarina em 2021, e a Rússia é atualmente o principal destino da maçã catarinense. Com isso, os produtores no estado podem ter perdas significativas.
Milho
Santa Catarina já possui um déficit de aproximadamente 5 milhões de toneladas de milho por ano por conta da estiagem, segundo a Epagri. Essa deficiência é suprida por meio do comércio interestadual e importações de outros países, como a Ucrânia.
O país do leste europeu é o 5º maior produtor mundial de milho. As dificuldades para importar o produto ucraniano podem dificultar o abastecimento do estado.
Trigo
O trigo é outro produto que deve ser afetado pela crise, já que o Brasil importa 50% do que consome. O analista de socioeconomia da Epagri explica que a maior parte do produto vem da Argentina, mas Santa Catarina e o país como um todo devem ser afetados pela elevação global dos preços do produto, que já chega a 100 dólares por tonelada, e dos alimentos derivados — pão, massas, bolachas, biscoitos, entre outros.
Carnes
O aumento de preço dos fertilizantes e dos combustíveis afetam os custos de produção da soja e do milho, que compõem a ração de animais, o que consequentemente reflete no preço das carnes em Santa Catarina.
Além disso, segundo Enori Barbieri, vice-presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (Faesc), a suspensão de exportação de aves e suínos para a região preocupa o setor de carnes, já que as duas maiores empresas de navios do mundo cancelaram todas as viagens para Rússia e Ucrânia.
— Tinham em torno de 2 mil toneladas de carnes ou em navio, em viagem, ou nos portos aguardando embarque, ou nas empresas já prontas para embarcar. Com o fechamento do financeiro pela Suíça, não sabemos como será o pagamento e se terão navios para levar. Estamos aguardando qual vai ser a solução do desfecho. Se terá como transferir essas cargas para outros países — explica.
Ele destaca que o prejuízo ainda não é mensurável, mas chegará aos consumidores:
— É lógico que o prejuízo que estamos tendo será indireto e não só para as empresas, mas para toda a sociedade. Não tem nem como calcular ainda, porque a guerra não acabou.
Caso a situação de guerra se prolongue, outros alimentos também podem ser afetados em Santa Catarina, como destacam os especialistas do setor. Principalmente com a dificuldade de importação de fertilizantes, aumento do dólar e do petróleo.
Com informações do NSCTotal