Jeferson Luiz Esmeraldino, 33 anos, foi ferido ao cruzar com os criminosos que sitiavam a cidade na noite de 30 de novembro de 2020.
Um ano após o mega-assalto a tesouraria regional do Banco do Brasil, em Criciúma, no Sul catarinense, o soldado da Polícia Militar Jeferson Luiz Esmeraldino segue acamado e sem conseguir se comunicar. Vítima de um disparo de fuzil que perfurou o colete e atingiu o abdômen, o homem de 33 anos ficou ferido ao cruzar com os criminosos que sitiavam a cidade.
“O tiro não atingiu só ele, atingiu a família toda. A gente está sofrendo até muito mais do que ele, mas eu dou graças a Deus por ter me dado a vitória de cuidar dele”, disse a mãe do soldado, Sandra Aparecida Nunes.
A ação criminosa começou por volta das 23h50 de 30 de novembro e terminou duas horas depois, já na madrugada de 1º de dezembro, com os criminosos levando cerca de R$ 125 milhões da tesouraria do banco, localizada na região central da cidade.
No assalto em que o soldado foi atingido, cerca de 30 homens com armas de grosso calibre cercaram a área central da cidade, provocaram incêndios, bloquearam ruas e acessos e fizeram disparos para todas as direções. Também foram feitos reféns durante a ação (assista ao vídeo abaixo).
PM depende de cuidados exclusivos
Esmeraldino foi promovido por ato de bravura em agosto deste ano. No cômodo da casa em que vive com os pais em Tubarão, na mesma região, ele fica deitado em uma maca, ligado a aparelhos e a alimentação é feita por sonda. Para se dedicar aos cuidados com a saúde do filho caçula entre três irmãos homens, Sandra, que é técnica de enfermagem, deixou o emprego.
O policial passou mais de dois meses internado no hospital após ser baleado. Neste período, foram 33 dias em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Antes, porém, chegou a melhorar e conseguiu falar com a mãe por videochamada. Em seguida, começou a passar mal e sofreu uma parada cardiorrespiratória, que teve como consequências graves lesões neurológicas.
“Ele falou comigo, disse, ‘mãe, vai dar tudo certo, ora por mim’. E quando chegou de madrugada, ele parou. Ele estava bem agitado, estava meio confuso ainda, como se estivesse na guerra”, disse Sandra.
Em setembro, o soldado chegou a fazer uma cirurgia para uma válvula no cérebro, uma vez que está com hidrocefalia. No entanto, o soldado pegou uma bactéria e precisou retirar o equipamento. Atualmente, ele segue em recuperação em casa.
“Mudou muita coisa nesse tempo. Ele teve umas três, quatro pneumonias em casa, por estar acamado. A nossa vida também mudou, porque a gente vive em torno dele”, conta Sandra, que desde o assalto faz acompanhamento psicológico.
Nos próximos meses, segundo a mãe, a família pretende se mudar. Uma vaquinha foi feita para reformar a casa da família, mas o valor arrecadado possibilitou comprar um imóvel. A mudança depende, no entanto, de instalação de aparelhos para ajudar o policial a respirar.
“A gente está com uma vaquinha aberta. Não deu para se mudar ainda porque o dinheiro acabou todo na cirurgia”, disse.
Momento do ferimento
Segundo a cronologia do crime, divulgada pela polícia logo após o ataque, os criminosos chegaram no município utilizando pelo menos dez veículos, lançaram um caminhão em frente ao 9º Batalhão da Polícia Militar e atearam fogo. Também foram espalhados miguelitos (apetrechos de metal capazes de furar pneus de carros) para dificultar a ação da polícia e dos bombeiros.
Houve troca de tiros entre criminosos que estavam em outro carro e policiais de uma equipe de Rádio Patrulha e outra do Pelotões de Patrulhamento Tático (PPT). Eles se cruzaram na altura do Shopping Criciúma e esse teria sido, segundo a polícia, o momento em que Esmeraldino foi atingido pelo fuzil.
Os criminosos seguiram em direção ao Centro e fecharam ruas, abordaram veículos e iniciaram uma série de disparos de arma de fogo.
Armamentos de guerra
Sandra e Esmeraldinho conversaram no dia que antecedeu o crime. O filho disse para a mãe que iria trabalhar e pediu que ela ficasse com a sua filha, hoje com 6 anos.
“Eles não esperavam que iam encontrar aquilo tudo, aquele armamento para a guerra, granada, e até para derrubar helicóptero se viesse por cima, explosivo. Então, tinha muita gente gritando. Hoje em dia, tem gente que morava lá e fazem tratamento psiquiátrico e só viram aquilo lá em filmes”, lamenta Sandra.
Com informações do G1 SC