Apesar da espécie de golfinho conhecida como Toninha integrar, desde 2003, a Lista Oficial das Espécies da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção, o trabalho de sobrevôos do Projeto Toninhas, realizado entre Florianópolis/SC e Chuí/RS, no último ano, trouxe a confirmação de que o número de animais nesta região diminuiu pela metade.
O trabalho foi realizado por meio de sobrevoos com avião bimotor em toda a região compreendida entre Florianópolis/SC e Chuí/RS. Linhas transversais à costa foram percorridas para a contagem dos animais. Até então, a mais recente estimativa de abundância de toninhas nesta região tinha sido realizada há 10 anos. Para aquele período, a estimativa era de que 16.500 animais viviam na região.
O número já era considerado preocupante pelos pesquisadores e o alerta já havia sido dado, pois a toninha está na Lista de Fauna Ameaçada de Extinção desde 2003. Contudo, as novas análises, concluídas recentemente, comprovam que a situação é alarmante: o número de animais foi reduzido quase à metade. As novas análises estimam em 9.500 o número de animais que vive atualmente nesta região, considerada a de maior abundância da espécie no Brasil.
“Embora o governo brasileiro tenha produzido um Plano de Ação Nacional para a Conservação da Toninha, publicado em 2010, poucas ações práticas, voltadas a redução das ameaças, foram realizadas, o que levou a espécie a se aproximar ainda mais da extinção”, revela a coordenadora do Projeto Toninhas, a bióloga Marta Cremer, da Universidade da Região de Joinville. Segundo ela, a captura acidental em redes de emalhe, utilizadas na atividade pesqueira, continua sendo o principal fator de mortalidade da espécie em toda sua distribuição. “Mas, principalmente no Brasil, a degradação dos ambientes costeiros tem contribuído muito para dificultar ainda mais a sobrevivência da espécie”, enfatiza.
Normas mais rígidas que restrinjam o uso das redes de emalhe e a criação de unidades de conservação são as principais estratégias indicadas pelos especialistas como necessárias para evitar a extinção, todas apontadas no plano de ação. “A extinção desta espécie de golfinho em águas brasileiras será um marco negro para a política ambiental brasileira, pois a problemática já é conhecida há muitos anos”, lamenta a pesquisadora.
Para este trabalho, o Projeto Toninhas contou com a parceria do Instituto Aqualie, que tem uma experiência de mais de 10 anos em estimativas aéreas de mamíferos marinhos. A equipe de sobrevoo teve o apoio de instituições locais para o monitoramento do avião, uma importante medida de segurança. Foram parceiros neste trabalho o Laboratório de Zoologia da Udesc, de Laguna (SC), o Ceclimar/UFRGS, de Imbé (RS), e o Laboratório de Ecologia e Conservação de Megafauna Marinha da Universidade Federal do Rio Grande (FURG), de Rio Grande (RS).