O slow fashion abre portas para a economia local, inserindo a possibilidade de criação de renda para pequenos produtores e novas marcas
Com a velocidade da informação, as mudanças no mundo globalizado podem ser vistas diariamente. Esse reflexo também é percebido na indústria da moda, em que cada vez mais rápido as tendências mudam, assim como a oferta e procura por novos produtos. Para exemplificar essa produção em massa, no Brasil, 8,9 bilhões de peças foram confeccionadas em 2017, segundo a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit). Porém, o surgimento de um novo conceito vem chamando a atenção tanto dos consumidores quanto dos criadores: o slow fashion.
O conceito, que se opõe ao modelo tradicional de produção, que prioriza o excesso de produtos, visa valorizar a produção em menor escala, importando-se com o processo de criação de uma peça, a sustentabilidade, o comércio justo e a consciência social e cultural. O modelo tradicional de produção possui várias consequências e algumas delas são os excessos de mercadoria descartada, as denúncias de empresas que contratam mão de obra ilegal em condições de trabalho análogo à escravidão moderna, e a compra descartável em prol da novidade da próxima estação (ou até mesmo da próxima semana).
A professora do curso de Design de Moda da Unisul, Suellen Cristina Vieira, estuda sobre a temática no Grupo de Pesquisas do Imaginário e Cotidiano da Unisul. “Nessa perspectiva, o movimento slow fashion finca sua bandeira pela diversidade: priorizando o local em relação ao global; promovendo consciência socioambiental; contribuindo para a confiança entre produtores e consumidores; praticando preços reais que incorporam custos sociais e ecológicos e mantendo sua produção entre pequena e média escalas”, explica.
Sustentabilidade desde a produção da matéria-prima
Durante uma de suas pesquisas, a professora teve a oportunidade de visitar a empresa Casulo Feliz. O empreendimento de tecelagem de fios de seda possui um grande diferencial, uma vez que optou por usar como matéria-prima justamente os casulos defeituosos, rejeitados pela indústria têxtil. “O que era defeito se transformou em efeito e essas pequenas imperfeições fazem de cada fio uma peça única e inimitável”, enaltece a professora.
Os fios de seda são elaborados por processos naturais, com mínima intervenção de maquinário. As cores dos produtos da empresa Casulo Feliz são feitas de forma natural, com tingimento vegetal, que vem de plantas e compostos. Esse processo de tingimento promove a reciclagem e remuneração extra para pequenos empresários e agricultores locais. Além disso, a empresa também contribui com o desenvolvimento de um bairro carente ao valorizar a mão de obra local.
Os impactos no dia a dia
O slow fashion abre portas para a economia local, inserindo a possibilidade de criação de renda para pequenos produtores e novas marcas. Além disso, preza pela qualidade e não pela quantidade, fazendo com que os produtos tenham um valor mais alto, pois a matéria-prima utilizada nas peças são de qualidade. Suas atividades propõem a utilização de matéria-prima com princípios ecologicamente corretos, de modo que o planejamento da redução ou eliminação dos resíduos sólidos passe por um sistema de distribuição mais enxuto e menos poluente. “Com isso, o slow fashion é considerado uma alternativa inovadora economicamente e ecologicamente, na medida em que fortalece o tecido social e quebra paradigmas e conceitos antigos da indústria da moda” conclui Suellen.
Colaboração Comunicação Unisul