Nas nascentes, a situação é grave, em decorrência da contaminação com metais pesados provenientes da mineração de carvão
A ideia de que o Rio Tubarão é um rio muito poluído está difundida entre a população. Porém, pesquisas realizadas na Unisul apontam que não é possível generalizar a situação, pois os problemas existentes são diferentes ao longo do rio. Em algumas áreas, como na nascente, as condições são graves e a solução é mais difícil, Em contrapartida, há locais em que o rio é limpo.
As pesquisas sobre os bioindicadores do Complexo Laguna e Rio Tubarão são coordenadas pelo professor da Unisul e oceanógrafo Sérgio Antônio Netto. Alguns trabalhos iniciaram em 2010 e já foram concluídos, outros devem ser finalizados até o fim deste ano. A ideia de pesquisar a poluição no Rio Tubarão surgiu da observação do que as pessoas comumente falavam sobre o rio. “Além disso, há também um decreto federal, de 1980, que incluiu a região Sul de Santa Catarina entre as 14 regiões mais críticas em poluição do Brasil. Contudo, isso foi generalizado, o próprio Rio Tubarão tem suas peculiaridades”, explica o professor Sérgio.
Entre os resultados obtidos até agora pela pesquisa mostram-se três cenários bem distintos para o rio. Nas nascentes, a situação é grave, em decorrência da contaminação com metais pesados provenientes da mineração de carvão. “Nas nascentes, as amostras coletadas mostram a presença de metais pesados acima dos padrões das legislações nacional e internacional”, afirma Sérgio.
Já no médio e baixo cursos do Rio Tubarão, de Orleans a Tubarão, e de Capivari até a foz, respectivamente, o principal contaminante são os resíduos orgânicos. “Estes resíduos são provenientes da falta de esgotamento sanitário. Este problema foi encontrado principalmente na região de Tubarão, que é o maior município. Nestes pontos, o nível de metais pesados está abaixo dos padrões ou nem apresenta este contaminante, mostrando um rio saudável”, observa o professor.
Ações podem reduzir problemas de poluição
Além de pesquisar a situação do Rio Tubarão, principalmente em decorrência da inclusão da região entre as 14 mais críticas do país em poluição, os trabalhos coordenados pelo professor Sérgio Antônio Netto também trazem sugestões para encarar os problemas. Algumas destas ações são mais simples, outras demandam investimentos maiores e, principalmente, fiscalização por parte dos órgãos públicos.
O principal problema é o das nascentes e do alto Rio Tubarão, de Lauro Müller até Orleans, onde o principal contaminante são os metais pesados. “Nestes casos, é preciso a intervenção dos órgãos públicos, que devem fiscalizar a ação das empresas de mineração, exigindo o cumprimento da legislação e a implementação de tecnologias que tratam dos resíduos e também impedem que a água contaminada chegue ao rio”, observa o professor.
As pesquisas realizadas na Unisul apontam que, à medida que se desce o rio, vai ficando um pouco mais limpo, pois o contaminante muda, passando do metal pesado para o resíduo orgânico, proveniente da falta de tratamento do esgoto sanitário. “Isso pode ser resolvido com a instalação de sistemas de tratamento pelos municípios. O principal emissor é Tubarão, e espera-se que com a implantação do sistema de tratamento reduza-se a poluição nesta região. Cessando a causa da poluição, depois de certo tempo o rio entra em um processo de autolimpeza”, afirma Sérgio.
A terceira ação é relativa à preservação das margens do rio. Em decorrência da expansão das áreas urbanas e também da agropecuária, a mata ciliar do Rio Tubarão está comprometida em diversas áreas. O resultado disso é a erosão, que, por sua vez, causa o assoreamento do rio. Este assoreamento é um dos agravantes em casos de enchente. “É em momento de muita chuva, com a cheia dos rios, que os metais pesados e os resíduos orgânicos podem chegar a outros pontos do rio, porém, isso não é algo que ocorre todos os dias. Os eventos de chuva intensa são ocasionais”, relata o professor.
Para a coleta dos dados, os pesquisadores precisaram navegar pelo Rio Tubarão e as imagens obtidas impressionam pela diversidade. “Há pontos, como em algumas nascentes, em que o índice de contaminação por metais pesados é tão alto que até a fauna está prejudicada. Em outros, o rio está bem raso, em decorrência da erosão, mas há também pontos muito bonitos, com água limpa”, ressalta Sérgio.
Diário do Sul