Joares Ponticelli (PP) e Caio Tokarski (PSD) foram eleitos prefeito e vice-prefeito de Tubarão com 26.555 votos (45,23%). Em entrevista ao Portal Sul in Foco, o futuro líder do Poder Executivo fez um balanço sobre a campanha eleitoral deste ano, falou sobre as reivindicações da população e também sobre as prioridades e planejamento, dentre outros assuntos.
Apesar de quase 20 anos dedicados à política, esta foi a primeira vez que Joares Ponticelli disputou o cargo de prefeito. De 1997 a 2000, atuou vereador em Tubarão. Em 1998, elegeu-se para uma série de quatro mandatos no Parlamento Catarinense (1999-2003, 2003-2007, 2007-2011 e 2011-2015). Além disso, assumiu o cargo de governador do Estado em novembro de 2013, durante dez dias.
Entre as principais ações por ele citadas, está o compromisso já assumido durante a realização da campanha eleitoral, de reduzir o número de secretarias e de cargos comissionados. Acompanhe abaixo quais as propostas e desafios do prefeito eleito de Tubarão e o que, segundo Joares, a população pode esperar de sua gestão.
Qual o balanço da campanha realizada neste ano?
Foi um aprendizado extraordinário para nós. A mudança na legislação eleitoral fez com que todos nós tivemos que reaprender a fazer eleição. Primeiro, a redução do tempo pela metade. De 90, passou para 45 dias. Então isso nos fez repensar e reavaliar tudo o que já havíamos feito até então. Na campanha em si, havia várias outras limitações também. Para mim, é um pouco mais difícil ainda, pois foi uma eleição que não estava no planejamento. Eu acabei entrando no processo aos 48 minutos do segundo tempo. Eu só assumi a candidatura no dia 1º de junho deste ano, quando o principal adversário já estava em campanha por pelo menos dois anos, assumidamente como candidato. Mas ele já havia disputado a última eleição. Então, era candidato de fato há quatro anos enquanto eu tive quatro meses.
Apesar de eu ter 20 anos de vida pública, eu nunca havia disputado como prefeito. Uma eleição municipal é completamente diferente das demais. Por isso, foi todo um processo de aprendizado. Não desanimei, mesmo no início, com apenas um dígito na pesquisa, enquanto o adversário tinha 42%. Por outro lado, eu tinha no máximo 5 ou 6% de rejeição e ele estava na casa de 30, 35%. A gente percebia que ali estava a possibilidade real de ganhar a eleição. O fato de termo montado um bom time auxiliou também. Foram 69 candidatos a vereador. A gente sabia que, se esse time pegasse junto, nós conseguiríamos levar a nossa proposta ao cidadão mesmo com o tempo curto de campanha.
Além disso, tivemos uma grande equipe de comunicação. Isso ajuda a fazer a diferença. Nossa equipe foi muito competente, alcançando repercussão positiva em tudo o que era reproduzido nos meios de comunicação. Tivemos também uma equipe de campanha extremamente competente e organizada, que definiu as estratégias e as executou com muita sabedoria. O fato de os candidatos, tanto eu quanto o Caio, vice-prefeito eleito, nunca termos disputado para prefeito ou vice, fez com que representássemos o novo, mesmo já tendo deputado outras eleições. Nossa equipe soube explorar isso muito bem e a população esperava uma proposta nova. Por isso, percebemos a aceitação mesmo com esse pouco tempo.
Aí, acredito que tenha outro aspecto fundamental, que é a forma como nós concedemos, divulgamos e debatemos o nosso plano de governo. Fizemos de uma forma nunca feita na cidade, envolvendo pessoas, lideranças, instituições. Naturalmente, as pessoas acabaram se envolvendo com a campanha. A partir disso, a campanha foi crescendo. Na metade de setembro, nós já estávamos a menos de dois dígitos de diferença e chegamos, no dia 2 de outubro, com quase 20% de diferença.
Repito: foi uma eleição que foi de muito aprendizado. Durante o caminho, muitas dificuldades novas foram apresentadas, principalmente no fator arrecadação e prestação de contas. Foi uma experiência nova, mas muito positiva porque ela também limitou uma série de gastos. Na medida em que reduz o tempo e as possibilidades de divulgação, ela acaba por reduzir os custos também. Foi uma eleição nova para todos nós. Acho que a lei veio para ficar, então precisamos nos organizar mais internamente para poder vencer essas dificuldades.
Quais as principais reivindicações apresentadas pela população?
Saúde foi a grande queixa da população. Aqui em Tubarão, percebemos que, muito mais que dinheiro, o que falta na saúde é a gestão, um atendimento mais humanizado e a resolutividade. Nós temos uma grande rede física, são mais de 30 postos de saúde, mas uma rede que não consegue dar a resposta que o cidadão precisa. É necessário ter mais eficiência e eficácia para que o cidadão tenha o seu assunto resolvido em definitivo.
Ou seja, se o posto de saúde não resolver, ele precisa encaminhar para onde possa ser resolvido. Por isso, a nossa proposta é a implantação de um pronto atendimento. Nós temos outra dificuldade aqui que é o sobre carregamento da emergência do Hospital Nossa Senhora da Conceição, onde passam pela emergência em torno de 7 mil pessoas por mês. Destas, 60% não são casos de emergências. São casos não ou mal resolvidos pelo ambulatório. Nós precisamos separar esses pacientes, separar o que é caso de urgência e emergência do que são casos que podem ser atendidos pelo pronto atendimento para que a pessoa saia de lá com o problema resolvido.
Eu incluiria, ainda, como uma segunda reivindicação, a falta de vagas em creche e no ensino infantil. Nós temos hoje mais de 500 crianças fora da educação infantil. Nosso desafio também é implantar pelo menos mais duas unidades no próximo ano para poder reduzir essa demanda reprimida que existe.
Quais as principais prioridades e o planejamento para a sua gestão?
Nós continuamos leais ao discurso da campanha. Eu e o Caio estivemos em Brasília, visitando os gabinetes dos deputados e senadores para buscar parcerias, emendas parlamentares, e, de fato, encontramos bons parceiros. Nós estamos encaminhando prioritariamente estes investimentos para as áreas de saúde e de educação para que a gente possa retomar aquela obra do pronto atendimento. A construção, que foi iniciada há cinco anos, está paralisada há algum tempo. Nós precisamos retomar para concluir o pronto atendimento e para colocarmos estas duas escolas em funcionamento.
Mas, agora, nós temos que rever um pouco disso também. Nós tínhamos uma realidade até o dia 16 de outubro. Depois da tempestade, vamos avaliar e encaminhar outras prioridades. Uma delas é a solução para a travessia feita pela ponte pênsil, das margens do rio para a Unisul. Temos que encontrar uma solução. Eu não sei se revitalização é a melhor solução. Penso que não, que precisamos ousar e buscar recursos para, quem sabe, começar um projeto de anos já, que era a construção de uma passarela fixa para permitir essa travessia de pedestres e ciclistas, tendo em vista que precisamos resolver também a questão do trânsito, da mobilidade urbana.
Além dessa, temos outra prioridade. Mais de 100 mil pessoas vivem em Tubarão. Estamos chegando a uma frota de 85 mil veículos. Isso dá mais de um veículo por pessoa adulta. A cidade é cortada por um rio e uma rodovia. Nós precisamos mudar o hábito das pessoas. Precisamos fazer com que as pessoas substituam o carro pela bicicleta e pelo transporte coletivo. Então nós temos duas prioridades nesta área: ampliar a nossa infraestrutura de ciclovias e ciclofaixas e resolver o problema do transporte coletivo, que está judicializado há cinco anos. Enquanto isso não for resolvido judicialmente, as empresas detentoras da concessão não terão segurança jurídica para fazer os investimentos que o transporte coletivo da cidade necessita. Vamos atacar estes dois problemas para podermos melhorar a mobilidade e o trânsito da cidade.
Qual a proposta para a área de geração de empregos, tendo em vista que a tempestade afetou muitas empresas do município?
Até então, tínhamos uma faixa de 2 a 3 mil pessoas desempregadas na cidade. Imagino que, neste momento, tenha quase que dobrado. Muitas empresas foram afetadas e, em alguns casos, totalmente. Elas terão que ser reconstruídas para voltar às atividades. Nós precisamos fazer um esforço e já estamos trabalhando para a obtenção de uma linha de crédito especial junto a BNDES para que as empresas encontrem apoio financeiro para poder reconstruir as unidades.
Mas, além disso, precisamos correr ainda mais atrás de novos investidores. Estender a mão aos atuais, principalmente os que estão em dificuldades neste momento, mas também aproveitar essa oportunidade para, quem sabe, motivar outros investidores que possam vir para nossa cidade e aqui gerar novas oportunidades de emprego e renda para nossa gente.
Nós temos um mecanismo para isso, que está em construção. O nosso governo vai priorizar a conclusão e implementação do nosso Centro de Informação. Tubarão está no mapa de tecnologia e inovação de Santa Catarina e precisamos acelerar a conclusão da obra e a implementação dela para gerar novas oportunidades de emprego e renda.
Qual o planejamento para a área de cultura e festividades do município?
Nós temos outro desafio grande pela frente. Queremos fazer a nossa Arena Multiuso acontecer plenamente. Ela é uma grande fomentadora do turismo, da cultura e do esporte na região. Eu diria que possui repercussão regional e estadual, até porque tem capacidade para receber até 4 mil pessoas sentadas na arena principal e tem um teatro com capacidade para quase 900 pessoas. No entorno, pretendemos implantar um parque municipal, contemplando, inclusive, toda a área do antigo aeroporto municipal. Nosso desafio é fazê-la funcionar plenamente. Ela tem que estar em constante uso.
Temos que atrair eventos para cá. Já estamos em contato com uma empresa que capta recursos e investimentos para congressos e feiras. Estamos na tratativa de fazermos um grande evento na área de medicina, um encontro nacional envolvendo estudantes e profissionais. Vamos procurar outros eventos também para fazer com que a arena funcione. Este foi um compromisso que assumimos na campanha e entendo que, para ela funcionar com a rapidez que o município e região precisa, se faz necessário transformá-la em uma parceria público-privada para tirar as amarras da coisa pública e colocar nela a energia e celeridade da iniciativa privada. Aí nós vamos fazer acontecer.
Na área cultural, ainda, temos tratativas com uma das integrantes do Conselho Estadual de Cultura para fazermos a primeira reunião do conselho estadual aqui em Tubarão no próximo ano. Dessa forma, demonstramos a atenção que nosso governo dará para a área. Afinal de contas, somos a cidade do maior artista plástico de Santa Catarina, terra de Willy Zumblick. Temos uma universidade que já tem todo um trabalho voltado para esta área, com grupo teatral, eventos anuais e várias outras atividades que desenvolve. A Prefeitura pretende se aliar para poder fazer as coisas acontecerem naquele grande equipamento que é arena multiuso.
Como é a sua relação com os vereadores eleitos?
Eu estou muito satisfeito porque a nossa coligação conseguiu eleger a maioria. Foram eleitos nove dos 17 vereadores. Isso dá certa segurança de que a gente vai ter mais facilidade de promover as mudanças necessárias. Medidas duras terão que ser adotadas. Nós pretendemos, se não neste ano, no primeiro mês, convocar a Câmara de Vereadores para fazer uma profunda reforma administrativa. Já tínhamos assumido o compromisso durante a campanha de reduzir drasticamente o número de secretarias e cargos comissionados.
Depois do ocorrido no dia 16 de outubro, nós vamos reduzir ainda mais. Nosso governo será muito enxuto. Nossa meta é reduzir pelo menos para a metade o número de secretaria e de cargos que temos hoje para podermos fazer frente aos investimentos e às contrapartidas que as emendas federais vão exigir. Então, o fato de termos nove vereadores da coligação eleitos, de certa forma, auxilia. Mas, além deles, nós pretendemos fazer um governo que vai dialogar muito com todos os vereadores.
Eu já fui vereador e o Caio, vice-prefeito eleito, é vereador. Então temos essa facilidade por conhecermos as dificuldades, as angustias e as expectativas dos vereadores também. Por isso, pretendemos fazer um governo que possa incluir todos. Vamos governar chamando a oposição para conversar, compor e auxiliar também no atendimento, dentro das possibilidades, das demandas que de lá vierem porque, na outra ponta, estarão os mais de 100 mil tubaronenses que esperam muito do nosso governo.
Como será o trabalho junto ao vice-prefeito?
O Caio já era meu amigo antes da coligação e nós só consolidamos ainda mais essa amizade e relação de muito respeito, carinho e parceria. Ele ajudou muito na campanha, está ajudando muito neste período de transição e será um vice-prefeito de muito trabalho. Eu estou muito tranquilo com relação a isso porque tenho dividido as tarefas com ele. Neste momento mesmo, eu fui chamado pelo atual governo para participar de uma reunião do grupo de trabalho da Defesa Civil e não estou participando porque o Caio está lá. Eu fico absolutamente tranquilo. Ele sabe que está lá com todo o poder de falar e de encaminhar em meu nome. Eu pretendo governar com ele muito próximo pela alta capacidade de gestão que ele tem. O Caio é muito qualificado, competente e capaz, além de ser muito leal. E é assim que nós iremos governar, com ele envolvido nas decisões.
O que a população pode esperar da sua gestão?
Primeiramente, muito trabalho. Nós temos uma agenda de trabalho intensa. Um governo ousado, mas com os pés no chão. Um governo que pensa grande para a nossa cidade e que quer ver nossa cidade como protagonista do desenvolvimento regional novamente. Este é o nosso papel, a nossa missão.
Um governo que será parceiro dos prefeitos da região, tal como demonstrei já na primeira reunião da Amurel, para, juntos, resolvermos as demandas regionais. São muitas demandas que não poderão ser resolvidas nos municípios individualmente. Por isso, temos que pensar nisso unidos. Demandas na área da segurança público; meio ambiente, principalmente com relação ao Rio Tubarão e complexo lagunar; a destinação de lixo e resíduos sólidos; ações de saneamento e transporte coletivo integrado.
Nós faremos um governo enxuto, transparente e de profunda austeridade, sem esconder a verdade da população, tanto na hora boa quanto na ruim. Nós iremos apresentar os números reais. O município tem graves problemas para serem enfrentados, mesmo antes do dia 16. O maior deles é a devolução dos recursos recebidos pela operação do leasing e do ISS dos bancos. São 60 milhões que o Município já foi condenado a devolver. Para um orçamento de pouco mais de R$ 150 milhões, estamos falando de um montante muito significativo.
Vamos precisar enfrentar isso com muita transparência e profunda austeridade na redução dos custos da Prefeitura e dos cargos. Eu sei que, politicamente, isso será difícil porque os partidos têm essa expectativa e é normal que tenham, mas nós teremos que fazer isso para poder fazer a travessia desse período de crise para um momento melhor que a cidade vai viver. O tubaronense é um povo diferenciado porque tem em seu DNA a força do enfrentamento e da coragem das marcas que a enchente de 1974 deixou. A gente viveu uma grande tragédia e conseguimos ressurgir da lama e voltar a ser uma cidade grande, sorridente e feliz. É isso o que faremos novamente. Esse povo é corajoso, trabalhador, não se entrega facilmente. Dessa forma, caminharemos juntos rumo a um momento melhor.