Na semana passada, o professor Edson Foizer, 52 anos, de São Ludgero, divulgou em sua conta em uma rede social um vídeo em que ele arrancava com muita facilidade um pouco da camada asfáltica da Rua Hermínio Baggio, estrada que liga a SC-108 à comunidade do Santo Antônio.
O material tomou corpo após publicação em rede. Dois dias depois, outro vídeo relatando que a qualidade do asfalto colocado em outra rua, desta vez no Centro, era superior a outra localidade. Na segunda-feira, após a publicação alcançar enorme repercussão, a Administração Municipal e a empresa que executa os trabalhos nas duas frentes, a Setep Construções S.A, registraram Boletins de Ocorrência contra o homem que arrancou o asfalto e o seu colega que gravou os vídeos, Maurício Alves.
Nessa quarta-feira (20), tanto Edson quanto Maurício foram prestar depoimentos na delegacia de Polícia Civil de São Ludgero. Conforme Foizer, ele foi interrogado com base em uma acusação realizada pela empresa e pela Prefeitura por danos ao patrimônio público. “Como morador, tenho o direito de fiscalizar. Já fui servente de pedreiro e vi que alguma coisa estava errada. No Santo Antônio, há lugares que possuem apenas um centímetro, quando o ideal é quatro ou cinco”, reclama.
Alves também prestou depoimento e, em sua rede social, se mostrou desapontado com o ocorrido. Segundo ele, a surpresa não foi a intimação para prestar esclarecimentos na delegacia, mas de quem partiu o registro do BO, a Prefeitura, por meio do secretário de Obras Afonso Boing e do próprio prefeito Volnei Weber. “Estranhamos o fato de ter sido o gestor do município quem se dispôs a acionar os cidadãos que estão fazendo um papel de fiscalizadores das obras públicas. Em momento algum recebemos um convite da autoridade máxima da cidade para debatermos as denúncias de má utilização dos recursos públicos”, enfatiza.
Maurício, que é professor aposentado da Universidade Federal de Santa Catarina – Ufsc, questionou ainda o motivo da acusação. “Possível dano ao patrimônio público. Isso é estranho. Quando da divulgação do vídeo, a administração da cidade foi a primeira a se esquivar de qualquer responsabilidade, direcionando aos meios de informações que estavam ansiosos por explicações, diretamente para a Setep, sob a alegação de que a obra ainda não tinha sido oficialmente entregue e que, portanto, não caberia qualquer responsabilidade à prefeitura”, pontua.
Responsáveis pela obra garantem que não há nada errado
Após seis dias da postagem do primeiro vídeo, com os Boletins de Ocorrência já registrados, ontem, o chefe do poder executivo de São Ludgero, Volnei Weber; o secretário de obras, Afonso Boing; o engenheiro responsável pelas obras nas duas ruas do município, Israel Maccari Redivo; e o responsável pela empresa Pró-Vias, que fiscaliza as obras da cidade, Jonas Buzanelo, participaram de coletiva e pronunciaram-se sobre o ocorrido. Segundo Weber, o seu posicionamento não tinha ocorrido antes porque era necessária a realização de estudos técnicos.
“O contrato, de forma alguma pedia obra de má qualidade. Precisávamos levar a denúncia para a análise em laboratório e foi constatado que não havia nada de errado. Lamento esse tipo de coisa, o asfalto é para colocar peso e não para levantar. Moradores denunciaram que a pessoa utilizou-se de algumas ferramentas inicialmente para levantar o asfalto, ele não sai assim tão facilmente”, garante o prefeito, que destacou que a obra deverá ser entregue no próximo mês.
Maccari relatou que em 15 anos de profissão e oito de empresa foi a primeira vez que o episódio surgiu. “Executamos a obra dentro das especificações. Não há como concordar com o vídeo. O asfalto é feito para compactar e não para tração”, observa.
Buss, que é responsável pela fiscalização da obra, garantiu que todos os testes foram feitos e refeitos e não há nada de errado. “As normas foram obedecidas, temos quatro centímetros de asfalto, os ensaios e laudos aprovados. Os acusadores foram infelizes”, assegura.
Weber conta que registrou o BO porque a ação configurou dano ao patrimônio público. “Não recebemos a obra ainda, o que vai ocorrer em janeiro e, assim, a entregaremos à população, mas como administrador da cidade é minha obrigação cuidar, preservar e buscar que os demais também o façam. Por isso, fizemos o registro”, pondera.
De acordo com o agente de polícia da delegacia de São Ludgero, Vitor Mattos, o inquérito foi instaurado na última segunda-feira e será concluído dentro do prazo de 30 dias. “Estamos realizando o procedimento normal de ouvir as pessoas e na data aprazada os trabalhos serão concluídos”, garante.
Com informações do Portal Notisul