"O espaço suave e curioso que é criado na relação entre pais e filhos é o que gera a aprendizagem. A conversa é um ritual mágico que marca a memória do ser humano", defende Ana.
Por Ana Maria Dalsasso
O sinistro jogo da “Baleia Azul” tem tomada a atenção das mídias num sentido de orientar as famílias, educadores e a sociedade em geral sobre os cuidados a serem dispensados aos jovens e adolescentes a fim de evitar que se transforme numa epidemia, mais um sério problema de saúde pública.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) o suicídio entre jovens e adolescentes é responsável por 7,3% das mortes no mundo anualmente, ficando em segundo lugar, depois de acidentes de trânsito com 11,6%.
Mas, por que razões pessoas na plenitude da vida, cheias de facilidades, com tantas possibilidades e sonhos a serem vividos, têm perdido o sentido de viver? Pesquisas apontam que mundialmente há um aumento significativo de pessoas com transtorno de ansiedade e com depressão, sendo o Brasil apontado como o quinto do mundo em número de pessoas depressivas.
Como se explicar num mundo cheio de facilidades, tecnologia avançada, tudo ao alcance a todo tempo e a qualquer hora, que tantos jovens tenham perdido o encanto pela vida? O mundo não está fácil para ninguém. As dificuldades mais intensas podem desencadear processos depressivos com consequências graves e extremas, mas será que um jovem com toda vitalidade é menos resistente do que aquele pai, aquela mãe que trabalham incansavelmente para dar à família a subsistência? Do que aqueles pais que renunciam seus sonhos em favor dos sonhos dos filhos? Do que aquele desempregado que se desespera diante do caos?
Os problemáticos de hoje são os que perdem horas e horas em redes sociais no mundo virtual alienando-se do mundo real
Com exceção dos portadores de transtornos mentais, devo admitir que a vida cheia de facilidades que é proporcionada às crianças, adolescentes e jovens faz com que percam o encanto de batalhar pelos seus sonhos, porque tudo vem com muita facilidade, não existe o esforço para conquistas a exemplo de jovens que levam uma vida difícil para sobreviver sem tempo para loucos devaneios.
Os problemáticos de hoje são os que perdem horas e horas em redes sociais no mundo virtual alienando-se do mundo real, desperdiçando o tempo com futilidades, esquecendo que cada minuto perdido na vida é irrecuperável.
A precocidade e o viciamento nas tecnologias, a negligência dos pais em não estabelecer limites, a falta de atitude perante os desmandos de filhos bem-criados, mas mal-educados, a competitividade do mundo moderno, a ausência de projetos de vida, a superproteção, uso de drogas, baixa autoestima, enfim tantos outros fatores que transformam os jovens em cidadãos frouxos, parafusos de geleia (se apertar desmancha).
O espaço suave e curioso que é criado na relação entre pais e filhos é o que gera a aprendizagem. A conversa é um ritual mágico que marca a memória do ser humano
A família é a responsável pela formação ou deformação do caráter dos filhos, pois é ali que são vividas as primeiras e melhores lições de amor, de respeito, de responsabilidade, de ética, dignidade, comprometimento, que eles levarão quando baterem asas na busca da realização de seus sonhos. Uma vez crescidos os filhos já não serão mais nossos, porém as lições apreendidas no seio familiar os acompanharão pelo resto de suas vidas.
Assim, os pais precisam aprender a viver com os filhos, mas um viver gostoso, compartilhando brincadeiras, dedicando tempo a eles, não necessariamente em quantidade, mas em qualidade. Dar informações e não conviver com os filhos de nada adianta. O espaço suave e curioso que é criado na relação entre pais e filhos é o que gera a aprendizagem. A conversa é um ritual mágico que marca a memória do ser humano