O mel proveniente das flores de canudo-de-pito já foi eleito o melhor do mundo e pode vir a ser mais um produto catarinense a receber o reconhecimento de indicação geográfica
Entre os mais de 100 tipos de méis que a biodiversidade de Santa Catarina proporciona, um deles está chamando atenção dos profissionais de apicultura: o mel de canudo-de-pito. Essa planta (Escallonia sp.), nativa da região de São Joaquim, é frequente em regiões com altitude de 1000 a 1100 metros, comum no Planalto Catarinense. O mel proveniente das flores de canudo-de-pito já foi eleito o melhor do mundo e pode vir a ser mais um produto catarinense a receber o reconhecimento de indicação geográfica.
Segundo Rodrigo Durieux da Cunha, chefe da Divisão de Estudos Apícolas da Epagri, o mel de canudo-de-pito vem sendo considerado uma iguaria por suas características únicas. “É um mel monofloral, já que a maior parte da sua composição é proveniente de flores de uma mesma família, gênero e espécie. Outro destaque é o curto período de produção, devido ao pequeno ciclo de floração da planta, que vai de 10 de dezembro a 10 de janeiro. A limitação da localização geográfica onde essas plantas se desenvolvem, bem como a qualidade do produto torna esse produto singular”, diz ele.
O apicultor Joel de Souza Rosa, que soma 30 anos de experiência na área, afirma que colheita desse mel pode ser feita duas vezes por ano, se houver boas condições de tempo. A produção total de todos os seus apiários chega a três mil quilos por ano. Já a produção por colmeia chega a atingir 50 quilos de mel.
Indicação Geográfica
O mel de canudo-de-pito já foi mundialmente reconhecido quando ganhou o concurso de melhor e mais doce mel do mundo no Congresso Internacional de apicultura em Atenas, na Grécia, em 1979. A Epagri, em parceria com a UFSC busca agora outro reconhecimento do produto: a indicação geográfica (IG).
“A IG é uma forma de valorização de um produto. É uma garantia que o produto é genuíno e que possui qualidades particulares. São vários fatores que são analisados para uma IG, tais como: fitogeografia, clima, uso da terra, altitude, produção do mel e o saber fazer”, comenta Rodrigo.
Os estudos laboratoriais com o mel de canudo-de-pito ainda estão em fase inicial, mas os resultados levantados apontam que esse produto é um forte candidato ao processo de IG. Segundo a professora e pesquisadora da UFSC, Ana Carolina Costa, esse mel demonstrou ser rico no mineral potássio e possui maiores quantidades que as encontradas em méis de flores de vassoura e de macieira. “Outro resultado bem importante foi que o mel de canudo-de-pito apresentou substâncias antioxidantes em maior quantidade quando comparadas aos méis de flores de acácia, tília e de laranjeira”, explica a professora.
A pesquisadora da Epagri Mara Rúbia Romeu Pinto, doutoranda da UFSC, trabalha com técnicas avançadas para buscar a identidade desse mel através de seus compostos. Em seu projeto de pesquisa, ela busca um marcador, ou seja, uma impressão digital do mel de canudo-de-pito.
“Eu espero que juntamente com o trabalho desenvolvido pela professora Ana e o pessoal da Epagri a gente consiga construir todo esse processo de IG, levando o mel de Santa Catarina ao conhecimento do mundo todo e trazendo valorização ao produto e aos apicultores, que produzem esse mel com o maior carinho do mundo”, diz a pesquisadora.