Fernando contou que ele e a vítima consumiram álcool e crack quando começaram a discutir
Nem a chuva que caia espantou os poucos moradores curiosos de Timbé do Sul, localidade rural situada no Vale de Araranguá com pouco mais de cinco mil habitantes.
Diferente das cidades de maior porte, onde a população quer acompanhar mais de perto o trabalho policial, os moradores da pacata cidade, cenário de manchete policial durante a semana, de longe observavam a reconstituição protagonizada por Fernando Vanuti de Oliveira Silva, 18 anos, na tarde de ontem.
Com a mesma frieza desde quando foi preso pela Polícia Civil de Turvo na tarde de segunda-feira, o autor confesso do assassinato com requintes de crueldade de Lindomar de Barros, 44 anos, detalhava a polícia e a perícia cada passo do homicídio.
O cheiro no pequeno cômodo, nos fundos de uma igreja na área central do pequeno município, era insuportável. As marcas de sangue ainda estavam nos cômodos, aparelhos eletrônicos e na parede, assim como a bagunça e os resquícios de uso de entorpecente completavam a cena.
Álcool e crack
Segundo matéria do site Clicatribuna, Fernando contou que ele e a vítima consumiram álcool e crack quando começaram a discutir. Segundo o delegado responsável pelo caso, André Coltro, horas antes do crime foi comprado um litro de cachaça que foi totalmente ingerido pelo autor e pela vítima.
Lindomar teria partido para cima do jovem, que revidou, iniciando os primeiros golpes de facão. Com esta arma branca, o acusado ainda cortou a mão direita e o órgão genital do ex-colega de trabalho. Fernando ainda jogou um frasco de inseticida em Lindomar. A casa, conforme Coltro era utilizada para o consumo de drogas, e não raramente ocorriam desavenças entre os dois. Nos últimos dias, a Polícia Militar chegou a intervir.
Durante a briga, Lindomar fez conotações sexuais envolvendo a mãe e irmã de Fernando. Esses teriam sido o motivo do corte dos membros. A polícia acredita que, pela quantidade insuficiente de sangue, o homem tenha morrido logo no primeiro golpe no pescoço para depois ter os órgãos arrancados.
O jovem ainda cravava ferramentas e outros objetos enquanto abria constantemente a porta do cômodo para se certificar de que ninguém suspeitasse de algo.
Com uma luva e o sangue, Fernando escreveu na parede “Nunca mexa com minha filha”, e esfregou o tecido em outros espaços da própria parede, além de ter sujado de sangue a televisão e o aparelho de som.
Coltro alega que a grafia, desta vez reproduzida com tinta guache vermelha, não deixou dúvidas de que foi mesmo Fernando quem escreveu. Em relação a mão cortada, ele disse que não tinha colocado, nem muito menos fritado com óleo na frigideira, indo parar no utensílio após eles ter jogado o membro.
Essa versão foi aceita pelos policiais, já que eles fizeram o arremesso de uma luva por duas vezes, que teve como destino a mesma frigideira, pela pouco espaço e direção reta da cama. Vanuti disse ainda que fez uma fogueira dentro do cômodo e que ainda tentou por algumas vezes tocar fogo.
Crime esclarecido
Para o delegado o homicídio está esclarecido. “A reconstituição detalhou a dinâmica e a confissão dele durante todo o processo, deu mais veracidade e credibilidade a versão que ele tinha dado. Acredito sim que a mão pode ter parado na frigideira após ser arremessada. O óleo também poderia estar quente já que eles tinham acabado de almoçar. Os dois tinham uma amizade bastante conturbada e o crime iniciou com uma disputa de forças”, explica.
A autoridade policial irá indiciar Fernando por homicídio qualificado por meio cruel. “Dependendo da perícia também pode haver vilipêndio de cadáver, já que ele ficou agredindo o cadáver de Lindomar. Ele ainda diz que não está arrependido. Não temos dúvida da autoria”, garante Coltro.
O acusado é natural do Rio Grande do Sul (RS) e veio trabalhar no Vale do Araranguá com uma tia que, assim como a mãe, também o abandonou por conta do vício no crack. Quando adolescente, tinha passagens por crimes de menor potencial ofensivo, como furtos, injúria e vias de fato. Já era conhecido da polícia por furtos, muitos cometidos contra a própria família. A polícia descarta uma possível relação sexual entre autor e vítima.
Como paradeiro, o rapaz que cuidava de galinhas em Meleiro, tinha a rua e a casa do homem que assassinou de forma brutal. A vítima trabalhava de serviços gerias em uma transportadora, onde conheceu F., era separado e tinha cinco filhos. O delegado espera encerrar o inquérito policial nos próximos dez dias.
Ao todo foram aproximadamente 20 pessoas ouvidas. A prisão preventiva foi solicitada ontem ao Poder Judiciário, e até o fechamento desta edição F. aguarda detido na Delegacia de Turvo. Policiais civis de Araranguá também deram apoio na reconstituição. “O crime não foi premeditado, foi de ocasião”, caracteriza Coltro.
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