Padre Agenor é natural de Grão Pará. Representantes de sete paróquias da Paróquia São Paulo Apóstolo, em Criciúma, se reúnem neste domingo (09), às 10h, na igreja do bairro Michel, para a missa em ação de graças pelos 50 anos de vida sacerdotal.
Agenor Pedroso nasceu no dia 04 de maio de 1935, na comunidade de Quinze, município de Grão-Pará, filho de Luiz Pedroso e Maria Silveira Pedroso, quinto de uma família de nove irmãos. O chamado à vocação, como na maioria da vida dos padres, surgiu ainda criança, em meio às brincadeiras com os irmãos, quando sempre tocava ao pequeno Agenor fazer o papel de padre. “Desde pequeno eu sentia, eu admirava o padre quando ia rezar missa no altar e então me vinha a ideia de ser padre. Meu irmão mais velho, todos os anos, comprava o Livro da Família. Naquele tempo era o Anuário Inaciano, depois mudaram o nome e o estilo, produzido pelos Jesuítas de São Leopoldo (RS). Ele comprava e eu gostava de ler. Ali sempre falava bastante de vocações. Mas aquilo tudo era tão difícil. Morava numas pirambeiras na encosta da serra (risos). Sair de lá e ir para o seminário, nem sabia como era, só ouvia falar. Fui crescendo e aquela ideia foi me acompanhando. Eu já estava com meus 15 anos e foi criada paróquia em Aiurê. Era um costão de serra, mas havia muita gente que morava lá. Tanto é que Grão-Pará, que hoje é sede do município, pertencia à Paróquia de Aiurê”, recorda o padre.
Com a criação da Paróquia, um dos padres que atuava na paróquia de Braço do Norte foi nomeado pároco de Aiurê. A localidade se desenvolveu a partir disso, mesmo assim, um grande êxodo envolveu a população. “De repente, o pessoal descobriu que o Paraná era o paraíso terrestre e começou a se mudar para lá. Havia semanas de saírem oito, dez mudanças para o Estado. Meu pai começou a idealizar sua ida também”, conta.
Com a intercessão de Maria
Enquanto o pai de padre Agenor projetava a nova vida longe das encostas da serra, Deus foi desenhando o caminho para o menino chegar ao seminário. “O padre que foi para lá era muito devoto de Nossa Senhora e fundou a Congregação Mariana. Eu já estava com meus 15 anos e logo entrei para a Congregação também, participando sempre das reuniões. Meu pai sempre foi linha de frente na Igreja, trabalhando, se doando e, quando, às vezes, eu falava de ir para o Seminário, ele me dizia: ‘Pois é, Agenor, se eu pudesse vender aqui e ir para o Paraná, faria gosto que tu fosses para o seminário, mas enquanto estivermos aqui, não dá’. Eu trabalhava na roça e sabia o que se produzia. O pai botou o terreno à venda e muitos compradores apareceram. Mas o terreno era montanhoso, seco; trabalhava-se e colhia-se muito pouco. Todos visitavam a propriedade e quando saíam diziam que se resolvessem, na semana seguinte voltariam. Não tinha jeito de vender. Minha família plantava milho, feijão, mandioca, batata, criava porcos, conduzia engenho de farinha e engenho de açúcar. A gente vivia meio apertado, mas dava para se virar. Naquele tempo, era diferente, a família tinha que arcar com as despesas do seminário e daí eu sabia, quando meu pai dizia que enquanto estivesse lá não dava, pois eu sabia que não havia condições mesmo, a despesa era alta”, relembra.
Na recém-criada Paróquia de Aiurê, as missas eram celebradas somente pela manhã, em latim, com o padre de costas para o povo e o altar encostado na parede. Padre Agenor conta que o pároco era muito devoto de Nossa Senhora e começou a fazer uma novena a Nossa Senhora das Graças.
“Ele convidava o povo e quem quisesse receber alguma graça, para que fizesse a novena, que Nossa Senhora era intercessora. Naquela indecisão de ir pro seminário e sem condições de arcar com a despesa toda, comecei a fazer a novena todo primeiro domingo do mês. Eu já estava com quase 18 anos. Morávamos uns 5km distantes da igreja, com estrada ruim que quando dava uma semana de chuva havia lugar que atolava até os joelhos, mas eu assumi comigo mesmo, não falei nada para ninguém em casa e comecei a ir a novena, pedindo a Nossa Senhora que me ajudasse a encontrar o caminho certo. Quando estava na sexta novena, num domingo à tarde, sentado num banquinho à sombra na frente de casa, lendo o livro que eu irmão comprou, num trecho que falava exatamente de seminário, meu pai passou por trás de mim, parou e disse: ‘Agenor, tu pensas ainda em ir para o seminário?’ Eu respondi: ‘Às vezes, penso. Mas eu sei que enquanto estamos aqui não dá’. Ele disse: ‘Olha, se tu queres ir mesmo, vai! Deus vai me ajudar e eu vou dar um jeito’. Ele entrou em casa, minha mãe estava na cozinha e ele falou com ela. No domingo seguinte ele conversou com o pároco, que já me conhecia muito bem porque eu ia na reunião mensal da Congregação Mariana. O padre marcou um dia da semana para o teste vocacional, me aprovou e deu um papelzinho com tudo o que precisava para levar para o seminário. Meus pais foram a uma lojinha que havia na praça, compraram o que precisava e a minha mãe começou a costurar naquela maquininha movida a mão em cima da mesa. Quando estava com o enxoval quase pronto, apareceu um comprador para o terreno, depois de tantos outros que tinham ido olhar e nunca mais voltaram. Meu pai o levou para ver o terreno e os engenhos. O homem se agradou e o comprou. O fato é que, passados alguns anos em que meu pai, com interesse de vender, nunca encontrou compradores, depois que decidiu, junto a minha mãe, que eu podia ir, pois eles dariam um jeito, apareceu o comprador e fizeram negócio. Quando eu estava com o enxoval pronto para ir para o seminário, meu pai já estava com o terreno vendido e decidido a ir para o Paraná. Eu ingressei naquele ano e eles se mudaram no ano seguinte”, relata padre Agenor.
Os trabalhos com a catequese
Em 1954, seguindo sua vocação, ingressou no Seminário em São Ludgero. Em 1957, foi estudar no Seminário Nossa Senhora de Fátima, em Tubarão e, em 1961, mudou-se para Curitiba (PR), onde ingressou no Seminário Rainha dos Apóstolos, para cursar Filosofia e Teologia.
Sua ordenação sacerdotal aconteceu no dia 09 de julho de 1967, em Aiurê (Grão-Pará), sua comunidade natal, sob o lema “Fazer bem feito aquilo que fizer”. Questionado sobre grandes feitos que lhes seriam motivo de orgulho, padre Agenor declara: “Eu não fiz muita coisa, nunca fui de fazer muito barulho,mas eu fiz coisas que me dão muita alegria”, disse, mostrando com alegria a carta de felicitação que recebeu do primo de segundo grau, Dom Juventino Kestering (Bispo de Rondonópolis/MT), com quem teve estreita relação nos trabalhos desenvolvidos com a Pastoral Catequética, no início de seu ministério. A experiência foi partilhada no Paraná, quando padre Agenor ainda era seminarista.
Segundo o jubilando, uma experiência que valeu para a vida dirigidas por padres que vieram da Bélgica, pertencentes à Diocese de Palmas (PR), hoje Palmas/Francisco Beltrão. Durante suas primeiras férias do Seminário de Curitiba, padre Agenor ficou na casa de uma família de amigos. A comunidade recebia a visita de sacerdotes duas ou três vezes por ano, que iam celebrar missas. Os acessos eram precários e o domingo era dedicado à oração do terço, na igreja.
“No final do terço, o capelão que conduzia a oração avisou que, na segunda-feira, iria começar um cursinho para catequistas naquela comunidade, o primeiro realizado por lá. Como seminarista, fiquei interessado em fazer o curso também para aprender. O curso era a semana toda, em período integral. Fiz o cursinho e houve um dia que um palestrante não pode ir. Os que estavam coordenando me pediram se eu não podia preparar aquela palestra e ministrá-la. Fiquei pensativo: nunca participei de um curso assim e agora vou dar uma palestra de última hora? Mas assumi o desafio. No fim da semana, o padre que celebrou a missa de encerramento do curso e quando terminou, foi falar comigo se eu não podia me encarregar de preparar outro curso daquele para dar nas férias seguintes, pois ele queria levar a iniciativa para mais comunidades. Pediu também se eu pudesse levar um colega do seminário para ajudar, pois a paróquia pagaria as despesas da viagem. Durante o ano, o padre belga dava os temas e nós preparávamos as palestras. Levei quatro colegas para ajudar. Coordenei este curso durante cinco anos. No último ano, levei 28 colegas para ajudar a dar cursos lá. Atingimos 1.500 catequistas!”, conta padre Agenor.
Da experiência, veio o modelo aplicado também nas paróquias de Laguna e Pedras Grandes, esta última, onde permaneceu por mais de 12 anos e os cursos de catequese envolveram, entre os seminaristas, o primo Dom Juventino, que também seguiu o gosto pela pastoral, tornando-se assessor nacional e, mais tarde, bispo referencial na Animação Bíblico-Catequética.
Em 1968, padre Agenor trabalhou no Seminário Nossa Senhora de Fátima, em Tubarão. De 1969 a 1971, atuou na Paróquia Santo Antônio dos Anjos, em Laguna, de onde recorda a intenção visitação que fez às famílias na região de Cabeçudas. Em junho de 1971, foi trabalhar na Paróquia São Gabriel Arcanjo, em Pedras Grandes, onde permaneceu até 1983. Até hoje, a comunidade paroquial reconhece e agradece os trabalhos desenvolvidos pelo presbítero, com quem ainda mantém laços de amizade.
A relação com a Paróquia São Paulo Apóstolo
No dia 10 de janeiro de 1984, padre Agenor veio para Criciúma, com a missão de iniciar os trabalhos da nova Paróquia São Paulo Apóstolo, que estava em construção. “Nunca me esqueço de quando o bispo quis que eu viesse para cá. Padre Stanislau até então coordenava os trabalhos de construção da igreja e eu passei a coordenar, mas sempre ajudado por ele. Confessa que senti receio, pois vinha de uma paróquia rural, criado na lavoura e de repente assumir uma paróquia na cidade foi uma mudança que me deixou um pouco temeroso. Padre Stanislau me convenceu a vir e disse que ia me ajudar. Só que eu vim e poucos meses depois, ele partiu”, recorda.
Padre Agenor afirma que se há algo que lhe dá satisfação é ter a consciência de que não coordenou a construção, mas ajudou a construir. “Muitos dias não se achava servente de pedreiro e eu vesti a roupa de luta, mesmo, e fui para lá fazer massa e puxar para cima numa lata, na corda. Foi um tempo difícil, mas a gente recorda com alegria. As janelas foram uma ideia que tive que só pode ter sido inspiração do Espírito Santo, porque nunca vi em lugar nenhum igreja assim, colocando nas janelas uma catequese bíblica”, explica.
Mesmo em meio aos desafios, padre Agenor nunca desanimou. Com coragem e determinação, fez com que a comunidade participasse da obra que, além de material, teve grande importância espiritual: padre Agenor criou movimentos e pastorais e trouxe a Campanha do Movimento Apostólico de Schoenstatt – as capelinhas da Mãe Peregrina – que depois se espalhou por toda a Diocese de Tubarão e Criciúma.
Sua primeira passagem pela Paróquia São Paulo Apóstolo perdurou até o ano 2003, pois, em janeiro de 2004, foi nomeado reitor do Santuário Diocesano Nossa Senhora de Caravaggio, onde permaneceu até 2007. No ano de 2008, ajudou diversas paróquias. Em 2009, a paróquia Santa Bárbara; em 2010, a Paróquia Nossa Senhora da Natividade, de Cocal do Sul; em 2011, a Paróquia São José, até que, em 2012, retornou à Paróquia São Paulo Apóstolo. Ao todo, são mais de 24 anos dedicados à Paróquia, 19 na primeira época, quando pároco, e cinco nesta última, como vigário paroquial.
“Eu me sinto muito bem. Gosto do povo daqui. É um povo bom para se trabalhar. Dos meus 50 anos de sacerdócio, passei a maior parte aqui. E para mim é uma grande alegria, uma grande satisfação poder celebrar com esta Paróquia. Sinto-me muito feliz em poder ter feito o que consegui fazer, claro, sempre com a ajuda do povo, porque não são coisas que eu fiz: o povo fez! Eu estava na luta, junto, mas se o povo não ajudasse, nada aconteceria. Sou muito agradecido, mesmo, a esta Paróquia e a todas as pessoas que dela fazem parte. Todos aqueles que, de uma forma ou de outra, ajudaram, nesses anos que estou trabalhando aqui. Meu agradecimento a todos como também meu carinho ao povo de Pedras Grandes, pois foi de lá que vim para cá”, destaca padre Agenor.
Colaboração: Bibiana Pignatel – Pascom Diocese de Criciúma