Grupo de arqueólogos e pesquisadores da Unisul resgatou esqueletos de tribos sambaqueiras
No local onde serão fixados os pilares da nova Ponte Anita Garibaldi, sobre o Canal de Laranjeiras, em Laguna, o passado e o futuro convivem lado a lado. Ou melhor, praticamente no mesmo lugar.
Nesta área, um grupo de arqueólogos e pesquisadores da Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul) faz o resgate de dezenas de esqueletos indígenas de um sítio arqueológico com existência estimada em mais de 4 mil anos.
As escavações comandadas pela coordenadora do Grupo de Pesquisa em Educação Patrimonial e Arqueologia (Grupep) da Unisul, Deise Scunderlich Eloy de Farias, acontecem no local que já havia sido mapeado por um diretor do Museu Nacional do Rio na década de 1950. No ano passado, uma nova expedição da mesma instituição passou três semanas dando continuidade aos trabalhos de pesquisa.
A área demarcada para a construção de um pilar da ponte, que terá 2,8 quilômetros de extensão, no sentido sul-norte da BR-101, tem 20 metros quadrados e revelou uma grata surpresa aos pesquisadores. Ao aprofundar a escavação em cerca de um metro e meio foram descobertos vários esqueletos de crianças e adultos de tribos sambaqueiras.
— Eles teriam vivido aqui mais de dois mil anos antes de Cristo, isso foi bem antes dos Guarani e Carijós habitarem essa região. Aqui é uma área de sepultamento — afirma a arqueóloga.
Além dos 15 esqueletos encontrados nos últimos dias, dois somente na terça-feira, o grupo de pesquisadores também descobriu artefatos cerimoniais como resto de alimentos e ocre, uma espécie de argila colorida utilizada por povos pré-históricos em artes rupestres. Todo material foi catalogado e encaminhado ao laboratório da Unisul, onde serão feitas análises para tentar descobrir informações como hábitos alimentares e causas da morte.
Como os integrantes do grupo residem em Tubarão todos voltam para casa depois das 17h sem precisar acampar ou pernoitar em Laguna. A única situação curiosa que eles presenciaram nesse período de pesquisa às margens da BR-101 foi o caos provocado pelo congestionamento na rodovia na véspera do feriado de 7 de setembro.
Trabalho deverá seguir por mais duas semanas
A previsão é de que a pesquisa atual continue por mais uma ou duas semanas. Alguns moradores da região veem com desconfiança o trabalho de preservação.
— Muitas pessoas pensam que a pesquisa vai atrapalhar a obra da ponte, o que não é verdade. O resgate do sítio arqueológico está dentro do cronograma — ressalta a coordenadora do trabalho de campo.
Diário Catarinense