As histórias de superação, as chegadas emocionantes e a Guardiã que foi adotada
A primeira edição da Rio do Rastro Marathon, organizada pela Corre Brasil e o Mountain Do, já contou com um diferencial para os atletas. Um desafio dentro da maratona de estrada mais difícil do Brasil, com 2.560m de ganho de altimetria. Os corredores mais rápidos no trecho mais duro da prova foram premiados. No km 35 um tapete de cronometragem marcou o início do Desafio 7K da Santa. A partir dali, se iniciava mais uma busca pelo topo da serra.
No masculino, teve um resultado diferente do pódio. Daniel Rodrigues da Silva, que correu o trecho em 44m15s e fez o segundo melhor tempo do Desafio. O terceiro homem mais rápido também cruzou o pórtico na mesma posição, Vinícius Bernardon, com 45m56s. E o grande campeão dos 42km e do Desafio 7K foi Alan Frank Almeida Rosa, de Curitiba, com 44 minutos.
“Fiquei surpreso com mais essa premiação. Eu corri a prova de forma muito intensa do início ao fim. Eu não andei na serra, mas eu não sabia o tempo dos outros atletas que talvez estavam se guardando durante o percurso, para ter como grande desafio subir os últimos 7K da Santa pensando nessa premiação. Então, eu continuei minha intensidade, não focando separadamente, eu queria ganhar a prova e minha meta foi cumprida”, contou Alan Frank que dois meses antes esteve na Serra e fez questão de ir à Santa para mentalizar a prova que iria enfrentar. “Durante a maratona quando eu cheguei em frente a capela azul, eu lembrei quando estive lá para ter meu momento e subi super encorajado pra buscar minha vitória nos 42Km. Foi especial ter essa segunda conquista na prova”.
No feminino foram duas surpresas, diferente do pódio. Em terceiro lugar a maratonista Lorena Pin Lorenzoni Villas fez o trecho em 1h06m19s. O segundo melhor tempo nos 7km finais foi da atleta Raquel Rodrigues de Freitas, com 1h06m, e com 1h03m01s a campeã do Desafio foi Juliana Stolarski Uavnizack, de Orleans, que também foi a primeira mulher dos 42km. “Eu sabia do desafio, mas segui com calma, mantive meu ritmo. Venho de uma sequência bem dura de treinos e uma semana antes da Rio do Rastro Marathon, eu realizei o Desafio Rota da Baleia Franca 80 km solo, onde fui campeã da prova. Sabendo da magnitude do desafio queria muito largar em Orleans. Fiquei muito feliz em ter tanta companhia nos trechos do percurso, onde sempre estou só”.
As três mulheres e os três homens mais rápidos no trecho final da prova ganharam inscrição para a edição de 2022 da Rio do Rastro Marathon, nos dias 14 e 15 de maio, e vão receber em casa o troféu do Desafio 7K da Santa.
CHEGADAS E HISTÓRIAS EMOCIONANTES DA RIO DO RASTRO MARATHON
Foram 1.500 chegadas, 1.500 motivos para cruzar o pórtico no topo da Serra do Rio do Rastro. Cada vez que um atleta completava a prova, era mais um sonho realizado, mais uma vitória carregada de muita dedicação e superação. Momentos que foram muito aplaudidos pelo público que também se emocionou com o que estava vivendo no Mirante de Bom Jardim da Serra.
A atleta Rôsangela Vieira, de Curitiba chegou extremamente emocionada e com muita vibração da equipe que a aguardava. Ao completar os 25km, Rô como é conhecida pelos amigos, estava conquistando muito mais do que uma vitória e logo em seguida um troféu de quarto lugar geral feminino. “Em março eu tive Covid pela segunda vez, fiquei internada três dias. Tive embolia pulmonar e 45% do pulmão comprometido. Fiquei quase um mês sem correr, e quando voltei não conseguia trotar 100 metros. Tive sorte que a prova foi adiada para outubro e pude treinar”.
Depois de superar a doença, a meta da corredora, era conseguir terminar a prova. “Cruzar a linha de chegada seria uma vitória por tudo o que eu passei. Eu falei ‘vou pedir permissão à serra, e ela vai trilhar a minha história’ e foi o que aconteceu. Quando eu atravessei a linha de chegada, eu só agradeci a Deus por ter concluído. A serra me presentou com um troféu, mas eu falo que o troféu é consequência da dedicação, dos treinos. Passando o pórtico veio um filme na minha cabeça de tudo o que aconteceu, do quanto me dediquei e fiz o meu melhor”, completou Rôsangela.
A SERRA TRANSFORMA QUEM A ESCOLHE
O pernambucano Ademir Lima da Cruz fez a maratona de estrada mais difícil do Brasil e logo depois de fechar os 42km já disse que em 2022 vai voltar. “Tem que pedir licença para passar pela serra porque ela é desafiadora, ela transforma mesmo. Tem que correr, pensar e pedir a Deus. É muito emocionante, sempre serei um guardião.”
A Rio do Rastro Marathon tem agora guardiões espalhados por várias partes do Brasil. Atletas que escolheram a serpente de Santa Catarina para se desafiar em 25km, 42km e até mesmo 67km, porque teve corredor que se desafiou os dois dias. É o caso do Ronaldo Urbano, de Florianópolis. “Foi incrível, era o que eu queria fazer e graças a Deus eu consegui. Missão cumprida. Foi o maior desafio que já fiz na vida”, disse sorrindo com um fôlego de um jovem senhor de 73 anos.
Os atletas deram um show de superação e teve ciclista que surpreendeu ainda mais na linha de chegada. Samuel Mariot de Oliverio, que é de Lauro Müller (SC), mesmo conhecendo muito bem a Serra acabou tendo uma surpresa no percurso. Ele chegou com a bike nas costas. “O pneu estourou e saiu do aro faltando uns 3km antes do fim da prova. Então terminei meu desafio assim. Desistir nunca foi opção”, contou o ciclista que mesmo com toda dificuldade para terminar os 40km de MTB, ficou em 5º lugar na classificação geral.
GUARDIÃ DA RIO DO RASTRO MARATHON TEM NOVA CASA
A estreia da Rio do Rastro Marathon teve uma participação inusitada e que chamou atenção por onde passava, inclusive fazendo companhia para várias atletas da maratona. Uma cachorrinha sem raça definida. Assim como os maratonistas, ela começou a prova em Orleans inclusive passando pelo pórtico de largada em frente ao paredão das esculturas, e terminou no topo da Serra, em Bom Jardim da Serra.
“Durante o percurso dos 42km, a pergunta unânime entre os atletas era: ‘será que é a mesma cadelinha que estava na largada? Não pode! Sim, é ela’, os atletas comentavam. E assim, essa aventureira foi chamando a atenção km a km, correndo junto a todos, às vezes andando, com um olharzinho sempre feliz, e no final, cansada após cruzar a linha de chegada, não diferente do estado dos que terminavam o desafio”, relatou o maratonista Marcos Vinícius Oliveira.
Assim que ela cruzou a linha de chegada foi a sensação do momento. Logo foi batizada de Guardiã e recebeu uma medalha de participação, afinal, ela também fez a maratona. O diretor técnico da Corre Brasil, Ricardo Ziehlsdorff, não teve dúvidas ao vê-la na arena do evento, e a adotou. “Eu a conheci logo que chegamos em Orleans, no início da semana do evento. A nossa base era na rodoviária e ela ficava por lá, como um cachorro de rua. Nós dávamos comida e ela acabou ficando perto da gente o tempo todo. No dia da maratona eu fiquei sabendo que ela largou junto com os atletas. Quando me mostraram o vídeo, identifiquei que era a mesma. Agora a Guardiã é a nossa mascote, o nosso grude aqui na Corre Brasil. Quando eu saio ela fica a minha espera, olhando pelo vidro”.
Guardiã agora tem um novo lar, ao lado de outro cachorro e dois gatos que também foram adotados pela equipe da Corre Brasil. “Tenho certeza absoluta de que a Guardiã compreendeu que foi a estrela da festa, e seu prêmio, foi um lar, num lindo gesto de amor promovido pela Corre Brasil em adotá-la. Percorri com ela um trecho de aproximadamente 2km, a partir da Santa e percebi ainda mais o quanto é lindo o amor dos animais com as pessoas, ainda que tenham sido elas, 450 atletas aleatórios, num trajeto que trouxe uma explosão de emoções”, finaliza Marcos Vinícius.