Uma rede do jogo do bicho apoiada por agentes públicos e com interferência em políticos foi desmontada nesta quinta-feira no Sul de Santa Catarina. A Operação Castelo de Cartas, feita pela Diretoria Estadual de Investigações Criminais – Deic, em parceria com o Ministério Público – MP, prendeu seis pessoas temporariamente, além de ter cumprido seis mandados de condução coercitiva e 19 de busca de apreensão, que resultaram em aproximadamente R$ 1 milhão em recolhimento de 22 bens e dinheiro em espécie. A ação ocorreu em Araranguá, Criciúma, Balneário Arroio do Silva, Tubarão, Gravatal e Balneário Rincão.
Dentro os presos estão os grandes bicheiros da região e gerentes responsáveis pela atuação nas bancas. Eles estão detidos na Deic e nos presídios de Araranguá e Criciúma. A apuração iniciou há um ano, depois de denúncia anônima de que contraventores atuavam em Araranguá com a facilitação de servidores públicos. A força do grupo foi percebida pela polícia logo após o começo da investigação.
Um dos bicheiros da região fez contato com políticos locais com interferência no Estado para que o delegado responsável pelo trabalho fosse transferido já que ele estaria dificultando a ação dos contraventores. A intenção, no entanto, não se confirmou e o delegado permaneceu na cidade.
A rede se espalhou de Araranguá para as outras cidades da região, como uma hierarquia estabelecida. Com o passar do tempo, os investigadores perceberam que o grupo lavava dinheiro, além de cometer crimes de corrupção.
"O que nos chamou a atenção é que geralmente os grupos criminosos se preocupam em tentar esconder suas ações para evitar atrair a atenção da polícia. Mas essa organização criminosa não tinha esse cuidado e ainda queria tirar do caminho quem estava combatendo suas ações" explicou o delegado da Deic responsável pela investigação, Rodrigo Schneider.
Com essa etapa concluída, a investigação agora vai para a segunda parte do inquérito para apurar o envolvimentos dos agentes públicos e políticos nas ações dos bicheiros. O promotor de Araranguá Marcio Gaiveiga Vieira diz que ainda não é possível confirmar quem são os servidores envolvidos, mas os fatos já apurados apontam índices de participação.
A força da organização criminosa, explicaram os delegados da Deic e o promotor, se evidenciou em um encontro ocorrido no Rio de Janeiro em que um bicheiro de Tubarão esteve presente. Nessa reunião, esteve em debate a contribuição que seria reunida pelos contraventores para envio a representantes do Congresso Nacional. A intenção, diz Vieira, era que o projeto de lei que regulamenta os jogos de azar seja aprovado.
"Esse projeto permitiria que apenas um grupo com determinados requisitos pudesse atuar com o jogo do bicho, o que permitiria crimes como lavagem de dinheiro" argumenta o promotor.
Vieira afirma que há indícios de participação de políticos das três esferas no esquema: municipal, estadual e federal. Os estaduais teriam sido acionados para ajudar na troca do delegado responsável pela investigação. Para o delegado coordenador da Deic, Adriano Bini, o fato de a substituição não ter sido levada à frente demonstra uma maturidade das instituições.
Já na esfera municipal há suspeita de que o jogo do bicho tenha bancada a campanha de um candidato a vereador da região Sul do Estado. Outra pessoa que desistiu de concorrer também seria financiada, segundo o promotor. Na política federal a influência seria para a aprovação do projeto dos jogos de azar. Vieira lembra que a proposta foi apontada pelo presidente do Senador, Renan Calheiros – PMDB como uma das prioritárias a ser votada até o final do ano.
Segundo Schneider, a Deic estuda enviar documentos da investigação ao Ministério Público Federal (MPF) para apuração do envolvimento dos políticos do Congresso Nacional.
Com informações do site Diário Catarinense