Passado pouco mais de dez dias, parece que a tragédia que se abateu sobre Mariana já começa a ser um capítulo virado na história, uma vez que existe interesse em que se encubram as causas, evitando que possamos entender que a proporção deste desastre vai muito além da lama que avança descontroladamente. Os danos são incalculáveis e irreparáveis, pois impacta no ser humano, no meio ambiente e na economia do país. Mas, por que aconteceu? Quem responderá por isso? Quais as causas de ela ter tomado tamanha proporção? Por que não foi possível evitar? Quem poderia ter evitado? Quem se esconde atrás dessa lama? São interrogações que talvez fiquem sem resposta, mas a sociedade não pode calar.
Sabemos que a indústria da mineração traz significativos lucros aos proprietários, mas é uma grande inimiga à vida do Planeta pela destruição que causa aos ecossistemas, sendo responsável por grande parte de desastres ambientais. Rege-se por uma legislação frouxa, resultado de favorecimento político como recompensa pelos financiamentos em campanhas eleitorais. É o “toma lá dá cá” jogando com a vida, sem perceber que com a lama que avança se foram sonhos, histórias, vidas, esperanças. Quem sobreviveu levará consigo a marca da tragédia, a dor da perda, a certeza da impunidade, pois vivemos num país em que a justiça caminha a passos lentos e a corrupção permeia todos os setores da sociedade.
Num país de primeiro mundo certamente já estariam na cadeia diretores, acionistas, enfim os responsáveis pela tragédia, mas aqui não, parece que quase nada aconteceu. Até a imprensa omite informações tentando esconder a dimensão dos danos ao meio ambiente e à saúde pública, para proteger culpados. Muitos brasileiros nesta semana cometeram algo tão ridículo que me senti envergonhada. Foi deprimente deparar nas redes sociais um número razoável de cidadãos, muitos até bem instruídos, ostentando em seus perfis a bandeira da França em solidariedade ao ataque terrorista. Rendem-se a outro país, mas esquecem que têm uma pátria com problemas tão sérios tanto quanto, talvez até mais.
Parece não tomarem conhecimento do que se passa aqui em terras brasileiras. Há pouco mais de um ano aconteceu a grande tragédia na boate Kiss em Porto Alegre, ceifando a vida de quase trezentos jovens, e não lembro alguém colocando a bandeira do Brasil num gesto de humanidade. Deixo claro que também sou solidária ao drama da França, mas nem por isso devo me vestir com as cores francesas. Precisamos aprender a olhar ao nosso redor, valorizar o que é nosso!
Mas, enquanto a lama de resíduos minerais em Mariana segue seu curso, a lama podre oriunda do mau exercício do poder se prolifera entre nossos políticos, com raras exceções, em todos os níveis de poder, denegrindo a imagem do país perante o mundo, tirando-nos a esperança de um futuro promissor para as próximas gerações. É hora de vestirmos verde e amarelo em defesa dos direitos que temos para eliminar a lama imunda que cobre nossos governantes. E aos nossos irmãos de Mariana, a nossa solidariedade!