Consumidores percebem alta no tomate e pimentão e especialistas trazem explicações para justificar a disparada que chega, agora, aos hortifrutigranjeiros.
O preço da carne afasta cada vez mais a proteína do prato do brasileiro, com isso, a ida à verdureira se tornou mais frequente. Mas o momento também exige cautela, pois os preços dos hortifrutigranjeiros não estão muitos atraentes ao bolso do consumidor, principalmente tomate e pimentão. No Direto do Campo, na quarta-feira (20), Valdemir Bento pretendia gastar, no máximo, R$ 30.
“No caso das verduras, o tomate principalmente, mas no geral está complicado. Precisamos deixar algumas coisas e mudar hábitos”, conta Bento, que tem três familiares em casa e abriu mão das compras mensais. “Hoje vou levar limão para fazer limonada e batata para fazer purê, fritas e ensopado”, diz.
O engenheiro eletricista aposentado José Silveira mora com a mulher e entende que a alta ocorre em função da pandemia. Diz que a família consome sempre a mesma coisa e só o básico. “Acho que tudo subiu, alguns um pouco mais, pelo fato de serem alimentos de difícil plantio, como o tomate, que precisa de controle maior”, avalia.
A recepcionista Jussara Bernardes mora com a filha de 13 anos. Também compra apenas o básico e está diminuindo itens ao comprar verduras. O tomate, quase R$ 9 o quilo, ela olhou, mexeu, mas não levou.
De acordo com o supervisor do Direto do Campo, Liseu Cardoso, todos os hortifrútis tiveram alta. Entre os fatores, cita a dificuldade dos caminhoneiros para entregar os produtos, pela alta nos combustíveis. “Encareceu bastante o tomate, pela questão dos combustíveis e da produção”, disse Cardoso. Os demais hortifrútis aumentaram.
Ele diz que o preço do tomate disparou mesmo no último mês, mas não observa impacto nas vendas. “No meio deste ano estava R$ 4,99 e chegou no máximo a R$ 5,99. Mas nem com esse preço deixamos de vender”, ressalta.
As explicações para o aumento no tomate e pimentão
O pesquisador da estação experimental da Epagri em Caçador, Leandro Hahn, está em contato direto com produtores e compradores de tomate. “Nessa época, Santa Catarina produz somente 20% do tomate que consome, os outros 80% vêm do Sudeste”, explica.
O Estado é autossuficiente de janeiro a abril, com destaque para as regiões de Caçador, além de Bom Retiro e Urubici. Na Grande Florianópolis, Santo Amaro da Imperatriz e Antônio Carlos também produzem.
Sobre a alta do preço, segundo ele, são três fatores. Eles abrangem também o aumento do pimentão, que passa dos R$ 20. “Um dos principais motivos é a produção menor nas regiões que produzem atualmente. O produtor de tomate – e pimentão não é diferente -, vem de um ano com baixa rentabilidade. Quem vendeu tomate no inverno e outono se descaptalizou”, ressalta Hahn.
Ele diz que os produtores estão há dois anos com a rentabilidade baixa na cultura do tomate. “O tomaticultor que plantava 10 hectares para colher nessa época, plantou cinco, porque não tinha capital”. O aumento na demanda e no custo de insumos também são fatores decisivos.
“Temos insumos que subiram até 50%. Então, se o produtor está com pouco dinheiro, porque ficou no prejuízo, e essa mesma lavoura custa o dobro, a oferta acaba diminuindo”, diz.
A expectativa é que o tomate continue com preço alto no curto prazo, com possibilidade de redução somente no verão, voltando a casa dos R$ 5 a R$ 6. “O produtor que está vendendo tomate agora está ganhando dinheiro, mas ele tem primeiro que pagar as contas do ano passado. Na prática, não está sobrando”.
O economista Lauro Mattei, professor da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), também atribui a variação de preço dos hortifrutigranjeiros à sazonalidade. “Pimentão e tomate não são commodities internacionais e variam muito conforme a demanda e a oferta no mercado interno”, explica.
Porém, ele acredita que esse fator não justifica aumento, porque não houve quebra de safra entre 2019 e 2021. “No processo inflacionário, todos os agentes econômicos vão tentar se defender e jogar o preço de acordo com os custos”, diz Mattei.
Ele usou o exemplo hipotético de um plantador de tomate que vem de Antônio Carlos duas vezes por semana vender produtos em Florianópolis. “Há três meses, o custo para transportar os alimentos era um, hoje é outro, em função da elevação no custo do combustível”, enfatiza.
O diretor do Procon-SC, Tiago Silva Mussi, promete visitar os estabelecimentos da região nos próximos dias para verificar se a alta é abusiva.
No mercado também subiu
O preço do tomate não disparou só na feira. Nos supermercados, também está nas alturas. No Imperatriz, o preço extrapola os R$ 9. Antonio da Silva e Dalva de Aguiar da Silva completam 50 anos de casamento no sábado (23) e, por isso, compraram carne graúda para comemorar a data em família e, na ida ao mercado quarta-feira, escolhiam os acompanhamentos.
“Normalmente, não compraríamos isso tudo, mas é ocasião especial, para fazer um jantar em casa “, diz o taxista aposentado. Dalva observa que tudo está mais caro e deixou de comprar produtos menos necessários.
“Essa alta pesa no orçamento. Tem que fazer uma manobra para vencer. Esperamos que pare por aqui”, comenta Antonio. Enquanto muitos fatores contribuem para a alta, o consumidor segue fazendo escolhas, mexendo na dieta e garantindo o que é possível na mesa.
Com informações do site ND Mais