Raul Seixa nos anos 70 embalou o rock roll nacional ao som de: “Mamãe não quero ser prefeito, mas pode ser que eu seja eleito, e alguém pode querer me assassinar…”. Tinha razão o cantor. E pode mesmo! Não são poucos os que promovem o conflito na política. Querem assassinar o vereador, o prefeito, o governador, o presidente.
O exercício da política e do poder sempre foi marcado por uma relação conflitual. O filósofo Maquiavel, em sua obra, O Príncipe (1513), dizia que a política no seu complexo é um ambiente cheio de riscos e de oportunidades para “lobos” e “leões”, onde o comportamento ético quase sempre é suprimido. Afirmava o filósofo: “O príncipe deve haver dois temores: um interno por conta de seus súditos; e outro externo, por conta das potestades (reinos vizinhos); para governar, defenda-se o Príncipe, com boas armas e com bons amigos”.
O príncipe, segundo o filósofo, é o prefeito, o governador, o presidente. Os dois temores que descreve são as possibilidades de ataques, seja no interno do governo, o fogo amigo, ou externo, o ataque que vem da oposição. A política é enfim uma anarquia conflitual que rende necessário a segurança do Príncipe e do Reino, diria o contratualista Thomas Hobbes, em Levitano (1642): “O homem é o lobo de outro homem”.
Vereadores, prefeitos e governadores não dormem em paz. O perigo e as ameaças que os rondam vêm de dentro e vêm de fora. É TRE caçando vereadores, são secretários sendo investigados pelo Ministério Público com apoio do Gaeco, é vice-prefeito guerreando com prefeito, é oposição semeando informações incompletas e distorcidas, quando não, excitando a população e promovendo a insegurança e a instabilidade da pólis (cidade). É a saúde e a educação servindo como armas de ataque para enfraquecer o Rei, uma falácia ilusória, não para melhorar a qualidade de vida dos súditos (cidadãos), mas, para atingir o Rei.
O conflito não tem cor! Não tem sigla e não tem bandeira. É uma questão de poder. Alguns atacam para deixar as fileiras de oposição e alcançar o poder, outros, se defendem e atacam para permanecer no poder. Essa é a lógica da política conflitual: uma arena de combate e de força. Lógica destrutiva que somos chamados a superar.
Somos convocados no exercício da política cívica a fazer o bem. A desarmar os grilhões da violência, da impunidade, do medo, da corrupção e do preconceito. A esvaziar as pedras que portamos em mãos, nos bolsos e no coração. Talvez recordarmos o exemplo daqueles que empunhavam pedras para condenar à prostituta, e foram surpreendidos pelo mestre, que os advertiu dizendo que quem arremessa pedras também está com o coração prostituido.
A política não se faz arremessando pedras. A política não se faz no horizonte da destruição; proliferando o conflito, o medo e a insegurança. Premissa que vale para todos: governo e oposição, direita e esquerda.
Raul Seixas cantou o que filosofou Maquiavel e Hobbes: “a política é um continuo perigo”. E fez sucesso!
Sinto muito que a melodia filosófica de Aristóteles (384-322 a.C) e de Tomás de Aquino (1226-1274) não emplacou nas paradas de sucesso: “o fim da política é promover o bem comum”. Esses, que pensavam a política como vocação e não como um tratado de poder, foram conduzidos a ocupar o “lado B” do CD. Eis o problema!
Conexão
Tive a oportunidade de conhecer o prefeito de Tonadico um pequeno município nas montanhas do vale trentino italiano, com cerca de 1.413 habitantes. Fiquei impressionado com o modelo de gestão implantado. O prefeito não persegue indicadores e metas estabelecidas por marqueteiros de plantão. Governa a partir da relação de confiança, respeito e integração estabelecida entre os munícipes e a gestão municipal. Em Tonadico, tive a impressão de respirar uma gestão de paz.
Tonadico pertence à província de Trento. Trento é a cidade com a melhor qualidade de vida na Itália. Tonadico e Trento têm muito a nos dizer.
Até a próxima semana!