Dados do Tribunal Regional Eleitoral de SC mostram que agora são mais de 77 mil nessa faixa de idade; para professor da Udesc, campanhas na internet incentivaram os jovens
“O que forma a sociedade são os cidadãos. Se a pessoa não vota, como ela vai melhorar o lugar em que ela vive?”. O questionamento certeiro partiu da jovem eleitora catarinense Thayssa Rodrigues de Almeida, de 17 anos.
Aluna do 3º ano do ensino médio do IEE (Instituto Estadual de Educação), em Florianópolis, Thayssa fez o cadastro eleitoral este ano e espera exercer o papel de cidadã nas eleições do dia 2 de outubro. E ela não é a única.
A adolescente está entre os 77 mil jovens de 16 e 17 anos aptos a votar em Santa Catarina. O voto para menores de 18 anos não é obrigatório no Brasil.
Dados provisórios – há grande quantidade de solicitações a serem processadas – repassados pelo TRE-SC (Tribunal Regional Eleitoral) de Santa Catarina apontam que nas eleições municipais de 2020 foram 22.452 adolescentes aptos a votar, número que agora saltou para 77.386, um aumento de 244%.
Com esses dados, a participação dos eleitores de 16 e 17 anos representará 1,46% dos eleitores no Estado.
O crescimento exponencial é atribuído pelo TRE-SC à campanha “Bora Votar” iniciada em setembro do ano passado que incentivou o alistamento eleitoral e o voto consciente dos jovens dessa faixa etária.
Ao todo, o Estado deverá ter no pleito eleitoral deste ano 5.291.652 eleitores e eleitoras contra 5.205.931 aptos em 2020.
Vale destacar que o número ainda pode mudar, de acordo com o processamento dos dados computados até o dia 4 de maio, quando foi fechado o cadastro eleitoral. A relação oficial do eleitorado apto a votar no próximo pleito será divulgada pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) no dia 11 de julho.
Como pensam jovens de:
- Florianópolis: “Quero um futuro melhor para o país”, diz eleitora de 16 anos
- Joinville: Jovens de Joinville revelam desejo de participar do processo eleitoral
- Blumenau: ‘O nosso futuro depende disso’: mesmo sem obrigação, jovens de Blumenau decidem votar
- Chapecó: Expectativa pelo primeiro voto em Chapecó
- Criciúma: ‘A gente tem que se preocupar desde agora com nosso futuro’, afirma jovem eleitora em Criciúma
Campanha do TRE-SC
O crescimento exponencial dos jovens eleitores em Santa Catarina é atribuído pelo TRE-SC à campanha nacional “Bora Votar”.
Iniciada em setembro do ano passado, a campanha incentivou o alistamento eleitoral e o voto consciente dos jovens de 16 e 17 anos que, mesmo não sendo obrigados a votar, podem participar do processo eleitoral e escolher seus representantes nos Poderes Executivo e Legislativo.
O diretor-geral do TRE-SC, Gonsalo Ribeiro, diz que, por mais que a campanha tenha sido lançada em todo o território nacional, a Justiça Eleitoral de Santa Catarina “abraçou” a iniciativa e deu ainda mais fomento às ações.
“A Justiça Federal no Brasil lançou a campanha Bora Votar e em Santa Catarina teve um incremento maior do que o normal. Uma comitiva da Justiça Eleitoral do Estado percorreu vários municípios catarinenses. Já em dezembro tínhamos um número bastante considerável, em torno de 45 mil jovens eleitores, e agora, embora ainda não seja o número final das eleições, estamos com mais de 77 mil jovens eleitores. A campanha foi um sucesso e houve grande engajamento entre os jovens”, avalia o diretor-geral do TRE-SC.
A facilidade para realizar o cadastro eleitoral também atraiu os jovens, na avaliação do diretor-geral. O processo pode ser feito todo de forma online, sem a necessidade de sair de casa.
“A democracia pode ser beneficiada com o incremento de novos eleitores, em especial, os jovens porque todos os votos contam e voto não tem idade. Se nós temos um contingente maior de eleitores são mais pessoas decidindo o destino do município, Estado ou país”, completou Ribeiro.
Fatores que impulsionaram adesão
Daniel Pinheiro, professor de administração pública da Esag (Escola Superior de Administração e Gerência) da Udesc (Universidade do Estado de Santa Catarina) e coordenador do programa de extensão Educação e Cultura Política, avalia que a Justiça acertou ao lançar uma campanha para atrair os jovens ao voto com uma linguagem mais acessível e menos burocrática.
O fato do cadastro eleitoral ser disponibilizado via web facilitou a adesão dos adolescentes, segundo Pinheiro.
Além disso, as redes sociais tiveram papel fundamental nesse incentivo, com artistas e influenciadores divulgando a campanha para a retirada do título de eleitor.
“Figuras que, geralmente, não se envolviam nesse processo, começaram a criar discursos com uma linguagem que atingiu os jovens, o que ajudou no crescimento desse eleitorado. Nas redes sociais, elas chamaram os jovens a votar. Isso fez toda a diferença”, aposta.
O professor Tiago Daher Padovezi Borges, do Departamento de Sociologia e Ciência Política da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), diz que a pandemia da Covid-19 e o contexto econômico atual podem ter influenciado a adesão dos adolescentes ao voto.
Jovens de diferentes classes sociais sentiram os impactos da pandemia seja pelo viés econômico ou social e isso se transforma numa questão política, segundo o acadêmico.
“Vivemos um momento econômico delicado com uma inflação muito alta. Em momentos de crise mais acentuada, a mobilização também aumenta porque a pessoa se sente mais motivada a alterar o estado das coisas. Os jovens sentem os dramas vividos pelas famílias e pensam nas perspectivas que eles têm de emprego e de estudo. Eles estão atentos ao próprio futuro, ainda mais depois de terem passado pela experiência de pandemia”, avalia o cientista político.
A campanha promovida por instituições, imprensa, partidos, lideranças políticas e artistas incentivando o alistamento eleitoral entre os jovens também pode ter impactado nos números.
“Não lembro de ter visto isso sendo feito de forma tão intensa como foi agora. O incentivo partiu até de atores norte-americanos”, comenta o professor.
Borges acrescenta ainda que a eleição polarizada que está por vir pode ter estimulado os jovens a se alistarem para votar. “Será uma campanha delicada e difícil. À medida que se torna mais competitiva gera mais incentivo para que as pessoas participem”, conclui.
Com informações do ND+