Fenômeno raro está atrelado a diferentes motivos, desde as infecções antes do organismo produzir anticorpos até mesmo à 'validade' da vacina.
Os casos de morte por Covid-19 em pessoas que tomaram as duas doses da vacina são reais. O mais emblemático foi o do cantor Agnaldo Timóteo, que morreu devido a infecção dias após complementar o esquema vacinal. Apesar da repercussão, dados mostram que o fenômeno é raro.
É também associado a vários motivos, tanto os conhecidos como os ainda investigados: as vacinas não são 100% eficientes, o surgimento de novas variantes, infecção antes do corpo desenvolver anticorpos, maior exposição e ainda o desconhecimento sobre a ‘validade’ da imunização.
A FMS (Fundação Municipal de Saúde), em Tubarão, está acompanhando o número de infecções e mortes por Covid-19 em moradores vacinados. Dos mais de 28 mil imunizados com as duas doses até esta quinta (5), apenas duas pessoas contraíram a Covid-19 e não resistiram.
As vítimas eram dois profissionais de saúde – uma era agente comunitária e o outro atuava na ala reservada aos pacientes com Covid-19 no HNSC (Hospital Nossa Senhora da Conceição). Apesar de terem menos que 60 anos, estavam mais expostos ao vírus e tinham obesidade.
Ao todo, 40 pessoas completamente imunizadas contraíram o vírus no município. “A grande maioria não completou os 14 dias para desenvolver os anticorpos e positivaram sete, oito ou dez dias depois”, explica Chaiana Esmeraldino Mendes Marcon, enfermeira da FMS e professora da Unisul (Universidade do Sul de Santa Catarina).
‘Janela’ e idade
Existe um prazo de duas semanas após a segunda dose para que o nosso organismo desenvolva os anticorpos necessários. “Em muitos casos as vítimas pegaram o vírus antes de desenvolver a defesa”, explica a doutora Lorena de Castro Diniz, coordenadora do Departamento Científico de Imunização da ASBAI (Associação Brasileira de Alergia e Imunologia).
É o caso também do autor dos sucessos imortais o ‘Meu Grito’ e ‘Os Verdes Campos da Minha Terra’. Timóteo foi internado com Covid-19 apenas dois dias depois de tomar o reforço vacinal da Coronavac. A fragilidade do cantor se dava também pelos seus 84 anos.
“Existe um declínio imunológico a partir dos 60 anos chamado de imunosenescência. Ou seja, o corpo já não responde com força total”, detalha Diniz. É neste grupo que estão concentrados as pessoas que concluíram o esquema vacinal até então.
Incógnitas
Nenhum dos imunizantes contra a Covid-19 é 100% eficiente contra o vírus, mas reforçam o sistema imunológico contra a Covid-19. Entre os quatro imunizantes utilizados no país, as taxas de eficácia variam de 50 a 90%. A emergência global obrigou as farmacêuticas a desenvolverem as vacinas em tempo recorde.
O período de “validade” da proteção ainda é desconhecida, o que pode explicar a fragilidade dos grupos que tomaram a vacina no início da campanha – os idosos. “Ainda não temos respostas de quanto tempo dura tanto a doença como a imunização”, afirma Diniz. A vacina da gripe, por exemplo, “dura” oito meses, o que torna necessário a imunização anual.
O cenário fica ainda mais complexo quando se leva em conta que os testes e estudos de eficácia foram realizados apenas com o vírus “original”, excluindo mutações mais letais como a amazonense Gama e a preocupante Delta.
Segundo dose protege bem mais, atestam dados
Os dados da FMS ainda serão estudados, mas uma conclusão salta aos olhos. Enquanto 40 moradores de Tubarão tiveram Covid-19 com o esquema completo, o número salta para 284 quando considerados os infectados apenas com a primeira dose. “É significativo e mostra que as duas doses protegem mais”, ressalta Marcon.
Um estudo feito em Hamilton, na província canadense de Ontario, chegou a conclusão semelhante. Dos mais de 355 mil moradores vacinados com a primeira dose, cerca de 0,18% testaram positivo para o vírus. O número caí para 0,02% quando se considera os que tomaram as duas doses. É preocupante que 140 mil catarinenses não tenham comparecido para tomar o reforço.
“As futuras vacinas serão modificadas para atender este novo cenário de variantes”, acredita Diniz. A regra é continuar se vacinando. “O número de mortes após as duas doses é muito mais baixo quando comparados a queda enorme promovida pela vacinação”.
Com informações do site ND Mais