O maestro da banda Estrela do Oriente, também conhecida como banda Sinfônica do Unibave, Paulo Vick Debiasi, foi aplaudido de pé após crítica pela forma como o Poder Executivo de Orleans lida com a cultura no município intitulado de Capital da Cultura. O artista fez uso da tribuna livre na sessão da Câmara de Vereadores de segunda-feira (3).
Debiasi foi a primeira pessoa a se formar em música em Orleans, através da Universidade do Estado de Santa Catarina – Udesc, em 2008. Conforme o músico, apesar de a banda funcionar no Centro Universitário Barriga Verde – Unibave, as aulas de música são gratuitas para toda a comunidade de Orleans e de cidades da região. "Além de oferecer aulas de músicas gratuitas, nós ainda disponibilizamos os instrumentos para que os alunos estudem, pois são caros e, dificilmente, há condições de adquiri-los".
A principal reclamação do artista é com a falta de apoio e incentivo por parte do Poder Executivo. Conforme ele, sempre que algo é solicitado em prol da cultura, diz-se que há outras prioridades e que não há recurso. "Será que não há dinheiro ou será que falta qualidade na gestão e no manuseio do dinheiro público? Há mais de dois anos viemos procurando o representante do Executivo, que vem nos prometendo, sempre com desculpas. Essa banda só funciona hoje porque eu coloco dinheiro do meu bolso. Caso contrário, mais uma vez, vergonhosamente, na Capital da Cultura, mais uma entidade cultural estaria morrendo”.
O maestro questionou ainda de que forma é usado o dinheiro público no município. “Eu vi que havia orçado para a cultura em 2015 mais de R$ 1 milhão, e foi usado apenas R$ 67 mil, R$ 7 mil foi para despesas administrativas e o restante para o ProArt. Como assim não tem dinheiro, o que se faz com o dinheiro então? Será que há dinheiro para pagar funcionário laranja, goiaba, pêssego? Porque já virou uma salada de frutas. Para isso tem dinheiro, mas não há dinheiro para a cultura. O secretário de administração falou que há disponível R$ 200 mil para a cultura. O que será feito com esse dinheiro? Alguém pode me responder?”.
O artista fez ainda uma analogia entre a Rua Professor Maia, cujas obras foram paralisadas, gerando transtorno para a população, e a Administração Pública de Orleans. “Imagine um turista vindo para Orleans e entrando pela Rua Professor Maia. O que ele pensaria da cidade? Se alguém perguntasse para mim como é a cultura, a economia e a saúde aqui, eu não precisaria dizer uma palavra, bastava levar para conhecer esta rua. Minha sugestão é que se faça algo pela banda em Orleans, se o Executivo não faz, quem sabe o Legislativo possa fazer algo, porque não vejo a Secretaria de Cultura fazendo algo pelo município”.
A banda tocou a música We Are The Champions, da banda Queen, Hey Jude, da banda The Beatles, e também a valsa Regina Célia, composta pelo orleanense Osvaldo Pfützenreuter, popularmente conhecido como seu Vadico. "Ele escreveu essa música, da qual eu tenho a partitura original, no ano de 1963, no cinquentenário de Orleans. Neste aniversário do município, a banda desfilou pela cidade tocando duas músicas do seu Vadico. Um senhor que estava tocando há 52 anos, chamado de Raulino Rocha, também está tocando aqui nesta noite".
O músico realizou um resgate histórico contando a história da banda através de um livro escrito no Trabalho de Conclusão de Curso – TCC. Nesta pesquisa, mais de 200 partituras da banda Estrela do Oriente foram resgatadas. "Embora eu tenha pedido, não ganhei nem um centavo da Prefeitura de Orleans e, tampouco, da Secretaria Municipal de Cultura para apoiar essa pesquisa. Eu não aceitava que Orleans, dita a Capital da Cultura, deixasse morrer a banda, que foi fundada em 1912, quando Orleans nem era Orleans ainda. Inclusive, um ano depois, quando foi emancipada, a banda também tocou. No centenário de Orleans, nós também tocamos, mas apenas o professor Celso de Oliveira Souza se lembrou de nos convidar”.
O artista contou ainda que a ideia do projeto de mestrado que fez, também pela Udesc, é gravar as músicas da banda, cujas partituras e arranjos foram recuperados. O objetivo é que a sociedade tenha conhecimento. O presidente da Câmara de Vereadores, Mário Coan, entregou um presente para Paulo Vick Debiasi, em nome da Associação Empresarial de Orleans – ACIO. "Eu gostaria de lhe dar este presente, é um gesto simples, mas de agradecimento pelo trabalho de vocês", disse. “Esses instrumentos são realmente caros, então raramente o aluno tem condições de comprar, é uma importante ajuda", agradeceu o músico.
Resposta
O líder do Poder Executivo na Casa Legislativa, vereador Valter Orbem, respondeu o músico. "Nós combinamos que faríamos em conjunto com a ACIO um requerimento e um pedido, dentro das possibilidades dessa Casa, de que fosse repassado o valor de R$ 20 mil para a prefeitura para que se fizesse, através de um Projeto de Lei, dentro da legalidade, para que se passasse esse recurso para a banda Estrela do Oriente".
O vereador Mário Coan explicou que a Câmara de Vereador pega da prefeitura um valor menor do que o Poder Legislativo tem direito, que é 7% da receita do município. "No próximo ano, nós devemos criar um fundo de investimento e requerer todo o recurso que o Poder Legislativo tem direito, já que é jogado para a gente. Este ano nós já demos recursos para a Fundação Hospitalar Santa Otília no valor R$ 30 mil. Apesar das doações, nós conseguimos economizar R$ 80 mil nesta Casa. Se o prefeito nos der o direito de ajudar tudo àquilo que é justo, eu vou solicitar o orçamento completo da Câmara e nós iremos poder fazer mais cultura, saúde, educação e investimentos na sociedade. Nós iremos poder direcionar os recursos onde realmente há necessidade".
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