A mulher estava na fila do transplante há quatro anos quando o acidente aconteceu
A espera por um órgão é desafiadora para os pacientes que aguardam um transplante e, quando o momento de recebê-lo enfim chega, costuma ser motivo de comemoração. Mas para uma moradora de São Paulo, a doação de um rim se tornou um misto de sentimentos: é que ela acabou recebendo o órgão do próprio filho, que morreu em um acidente.
“Quero que meu filho esteja em cada pessoa que ele salvar”, afirmou Graziele Furquim do Amaral, de 37 anos, quando autorizou a doação dos órgãos do filho, morto em um acidente de trânsito, em Birigui, no interior de São Paulo, na terça-feira (3). O que ela não esperava era receber um dos rins do próprio filho, Kauan Farias do Amaral, de 20 anos, após aguardar quatro anos na fila de transplante.
Ao portal R7, a irmã de Graziele, Nayara Furquim, contou que o sobrinho, que adorava andar de skate, já demonstrava o desejo de doar o órgão para a mãe durante a adolescência. “Quando eu chegar aos 25 anos, o meu rim será seu”, ele costumava falar.
Na noite de 31 de dezembro, Kauan passou a ceia com a família e, em seguida, saiu com os amigos para comemorar o Ano Novo. Os jovens se reuniram em um ponto conhecido como “última rua” em Birigui, onde costumam andar de moto.
Segundo Nayara, a irmã e o sobrinho conversaram pela última vez por telefone às 1h30. Durante a ligação, o jovem aproveitou para expressar o amor e orgulho que sentia pela mãe.
Ao longo da madrugada, Kauan pediu para dar uma volta com a motocicleta de um amigo. Sem capacete, ele colidiu com outro veículo e se feriu gravemente. Uma equipe do Samu foi acionada e demorou cerca de 15 minutos para ressuscitá-lo.
Após ser diagnosticado com traumatismo craniano, ele foi internado na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) da Santa Casa de Araçatuba, também no interior do Estado. De acordo com Nayara, depois de dois dias hospitalizado em coma profundo, os médicos comunicaram a morte à família.
Durante o período de internação, Nayara optou por esconder da irmã o acidente de trânsito para preservá-la. Graziele, que também tem uma filha de 8 anos, descobriu a morte do filho apenas na terça-feira (3), enquanto fazia hemodiálise em outro hospital. Sem pensar duas vezes, ela autorizou a adoção dos órgãos.
A descoberta da doença
Em junho de 2018, os rins de Graziele pararam de funcionar em consequência da elevação da pressão arterial. Nayara contou que a irmã também ficou hospitalizada em coma por 21 dias devido a uma infecção bacteriana.
Além de todas as dificuldades que estava enfrentando, em novembro daquele ano, ela foi diagnosticada com glaucoma, doença que a levou a perder a visão. Diante desse cenário, Kauan assumiu o papel de homem da casa com 17 anos. “Ele ajudava em tudo, a limpar e arrumar a casa, fazer as compras. Kauan também acompanhava a mãe três vezes por semana na hemodialise”, relembrou Nayara.
Agora, Graziela se recupera do transplante de rim, realizado com sucesso, na Santa Casa de Araçatuba, ao lado da família. Para os médicos, a expectativa é que ela possa voltar para casa em dez dias.
Com informações do ND+