A esperança de uma vida melhor e muitos sonhos são praticamente a única bagagem trazida pela haitiana Guirlene Pierre, que está em Capivari de Baixo há pouco mais de duas semanas. Ela é uma entre os diversos imigrantes de países como Haiti e Gana, que têm buscado no Brasil a perspectiva de um futuro melhor.
Guirlene chegou em Santa Catarina há cerca de um mês, vinda do Acre. Ficou algumas semanas em Balneário Camboriú, mas teve a indicação de conhecidos que estão na região da Amurel e veio para Capivari. Na cidade, ela encontrou o apoio da Cáritas Diocesana, que tem recebido, abrigado e auxiliado imigrantes que chegam na região.
Feliz com a conquista de seu primeiro emprego na cidade, no Mercado Santo André, onde ela ajuda na reposição de mercadorias, limpeza e atendimento, a jovem de 26 anos não economiza nos sorrisos ao contar sua história – mesmo sendo permeada de dificuldades.
A vontade de vir para o Brasil foi alimentada por um dos três irmãos de Guirlene, que já está no país. “É muito difícil conseguir emprego em nosso país. Falta trabalho e temos muitas dificuldades, por isso eu vim, porque quero trabalhar e conseguir ajudar minha família”, diz a jovem, ainda com dificuldade para se expressar em português, embora seja fluente em francês, espanhol, inglês e creole, idioma falado em sua região.
Guirlene afirma que se sente bem em Capivari de Baixo porque tem um emprego e porque foi bem acolhida. “As pessoas recebem bem a gente. Tive muita ajuda das pessoas da igreja com móveis, copos, tudo que precisei para a casa”, afirma. Depois de ficar em uma casa de passagem, a jovem hoje se mudou para uma quitinete alugada, que divide com mais três pessoas, todos haitianos.
Para o futuro, seus planos são trabalhar, estudar para aprender o português e ajudar a família. “Minha mãe e meus outros dois irmãos estão no Haiti. Gostaria de ajudá-los e talvez um dia poder trazê-los para me visitar no Brasil”, conta. Guirlene diz, ainda, que gostaria de estudar informática e também de fazer um curso profissionalizante. “Gostaria de aprender uma profissão para o futuro”, planeja.
Ontem, o quarto ônibus vindo do Acre chegou a Florianópolis com 31 imigrantes haitianos, 14 a mais do que o comunicado pelo governo do Acre à Secretaria de Assistência Social da Capital. Outros três ônibus de imigrantes chegaram à capital do Estado esta semana. Os haitianos e senegaleses foram acolhidos no ginásio do Capoeirão e passam por triagem de saúde, recebem vacinas e fazem entrevistas individuais para serem encaminhados para as cidades de destino.
Comunidade acolheu estrangeiros
A história de Guirlene e de tantos outros imigrantes que têm chegado à região passa pelas mãos cuidadosas de Daisi Volpato, da Cáritas Diocesana, que abraçou a causa dos estrangeiros. Ela conheceu o problema que essas pessoas enfrentam quando foi chamada no hospital para prestar auxílio a um imigrante haitiano. “Ele ficou aqui mais de um ano, hoje já está no Haiti, mas outros imigrantes começaram a chegar”, conta Daisi.
Para abrigar os imigrantes, foi construída uma casa no terreno de Daisi – doada para a Cáritas – que hoje abriga imigrantes haitianos e ganeses. “O objetivo é que seja uma casa de passagem, onde eles ficam abrigados enquanto buscam emprego”, conta.
Quando um imigrante chega ao local, a Cáritas busca todos os documentos necessários para essa pessoa, auxilia na procura por uma vaga de emprego e faz campanhas na comunidade para arrecadar doações, além de ajudar na locação de imóveis.
Para auxiliar na adaptação, são fornecidas cartilhas para estudo do português e uma professora dá aulas semanais voluntariamente. “Precisamos lembrar que nós somos descendentes de imigrantes, que um dia nossas famílias já estiveram nessa situação. Ainda existe preconceito, mas aqui na comunidade as pessoas têm ajudado muito”, afirma Daisi.
Foi o que ocorreu com Solange Meurer de Paveri, proprietária do Mercado Santo André. Ela recebeu o apelo de Daisi quando uma vaga de emprego foi aberta no mercado. “Recebi esse pedido e achei que valia a pena fazer uma experiência. A Guirlene é uma funcionária muito esforçada e estamos gostando dela. A comunicação é difícil, mas ela aprende rápido”, diz Solange.
Ajuda
Aqueles que desejarem auxiliar no acolhimento dos imigrantes que têm chegado à região podem fazer contato com a Cáritas pelos telefones (48) 3622-4356 ou (48) 9956-5636. A maior necessidade dos imigrantes é de empregos, mas também há necessidade de auxílio na oferta de residências para aluguel, além de móveis e peças de utilidade doméstica. Também são úteis doações de alimentos, cobertores, roupas e agasalhos de inverno.
Com a chegada de novos estrangeiros em Florianópolis, é possível que alguns sejam direcionados para a Amurel. Hoje, a casa de passagem da Cáritas tem nove pessoas instaladas.
Com informações do jornal Diário do Sul