Em outubro, uma equipe de seis especialistas anunciou que havia registrado 424 testemunhos legítimos de supostas vítimas
Após ouvir centenas de vítimas, uma comissão de investigação divulgou nesta segunda-feira (13), que membros do clero do católico de Portugal abusaram sexualmente de pelo menos 4.815 menores de idade desde 1950.
Os membros da comissão de especialistas expuseram durante duas horas, nesta segunda-feira, de forma crua e detalhada, os ensinamentos dos 512 testemunhos validados, mas também de suas investigações nos arquivos da igreja e de suas entrevistas com seus altos funcionários da hierarquia.
“O informe publicado revela uma realidade dura e trágica. Esperamos que marque um novo começo”, afirmou o presidente da CEP (Conferência Episcopal Portuguesa), o bispo de Leiria-Fátima, José Ornelas, após assistir à apresentação do relatório.
A investigação foi solicitada em 2021 pela Igreja de Portugal, um país de arraigada tradição católica.
Em outubro, uma equipe de seis especialistas, liderada por Strecht, anunciou que havia registrado 424 testemunhos legítimos de supostas vítimas, mas advertiu que o número total era “muito maior”.
A maioria dos casos denunciados já prescreveu, mas 25 depoimentos foram encaminhados ao Ministério Público, que abriu investigações.
Assunto guardado a sete chaves
Um dos 25 casos é da Alexandra, o segundo nome de uma mulher de 43 anos que prefere permanecer no anonimato e relata ter sido estuprada por um padre quando se preparava para a vida de freira aos 17 anos.
“É muito difícil falar sobre o tema em Portugal”, um país no qual 80% da população se define como católica, explica Alexandra, que é mãe, formada em Ciência da Computação e trabalha como ajudante de cozinha.
“Eu guardava este segredo há muitos anos, mas sentia que era cada vez mais difícil administrar sozinha”, declarou à AFP em uma entrevista por telefone.
Ela chegou a denunciar o agressor às autoridades eclesiásticas, mas se sentiu “ignorada”. Três anos depois, os especialistas da comissão independente se ofereceram para ouvir seu depoimento e proporcionar apoio psicológico.
Igreja católica
Em abril do ano passado, o cardeal-patriarca de Lisboa e principal líder da Igreja Católica portuguesa, Manuel Clemente, se declarou disposto a “reconhecer os erros do passado” e a “pedir perdão” às vítimas.
O papa Francisco viajará a Portugal em agosto para a Jornada Mundial da Juventude e existe a possibilidade de um encontro com algumas vítimas, informou recentemente o arcebispo auxiliar de Lisboa, Américo Aguiar.
Diante dos milhares de casos de abusos revelados em todo o mundo e das acusações de acobertamento, o pontífice prometeu em 2019 erradicar o abuso sexual de menores por parte do clero na Igreja.
Vários países publicaram nos últimos anos relatórios sobre casos de pedofilia na Igreja, incluindo França, Irlanda, Alemanha, Austrália e Holanda.
Os bispos portugueses devem se reunir no início de março para tirar conclusões sobre o relatório e para “erradicar na medida do possível este flagelo da vida da Igreja”, como afirmou em janeiro o secretário da Conferência Episcopal, padre Manuel Barbosa.
Alexandra vê o trabalho da comissão como um “bom começo” para os que buscam “romper o muro” de silêncio que cercou o tema por tanto tempo.
Com informações do ND+