O laudo pericial do incêndio no hotel de Braço do Norte que matou três pessoas, foi apresentado nesta sexta-feira (02) para a imprensa da região.
O Corpo de Bombeiros Militar e o Instituto Geral de Perícias – IGP da Regional de Tubarão apresentaram na tarde desta sexta-feira (02), detalhes do laudo pericial sobre o incêndio que atingiu o Hotel Rech em Braço do Norte. No incidente que aconteceu durante a madrugada do dia 30 de abril, três pessoas morreram. Segundo o levantamento, o fogo teria iniciado no motor de uma geladeira de bebidas da lanchonete localizada no térreo do edifício.
No auditório da Associação Empresarias do Vale do Braço do Norte, a Acivale, o comandante do 8º Batalhão, Tenente Coronel Marcos Aurélio Barcelos, juntamente com o comandante do Corpo de Bombeiros de Laguna, tenente Marcos Leandro Marques, o comandante da 3ª Companhia de Braço do Norte, 1º Tenente André Corrêa Araújo e o coordenador regional do IGP, Odicson Pena, detalharam todo o levantamento referente ao incêndio aos jornalistas da região.
O incêndio iniciou no andar térreo onde está localizado uma lanchonete. Uma parede de madeira separava o estabelecimento e a passagem para os andares superiores onde ficam os hóspedes. Por volta de 2h46min daquele dia, o incêndio teria iniciado a partir do motor da geladeira de bebidas e se espalhado por toda a estrutura inferior, principalmente o acesso lateral aos hospedes. “Esse processo de combustão foi direcionado para essa rota. Todos os corredores foram tomados pela fumaça. Não existia nenhum tipo de visibilidade. Mesmo com máscara e equipamentos, os bombeiros não conseguiam avançar com velocidade. Nossas guarnições quando chegaram no local, tomaram providenciais iniciais de controlar o incêndio e salvar as vítimas”, afirma o comandante.
Foram detalhados ainda a situação em que as vítimas foram encontradas. Segundo o coordenador do IGP, indícios apontam a busca de uma saída do local de ambas as vítimas que vieram a falecer no ocorrido. “O calor e o barulho gerado complicou o cenário, o que nos traz o infeliz resultado destes óbitos. Ficamos sentidos com a família”, destacou Pena.
No interior do prédio morreram Cristina Schimitt de 59 anos (1º andar) e Alexandre Frontino de 32, que foi encontrado em um banheiro do terceiro andar somente horas depois das chamas serem controladas. A adolescente Yasmin Strege de 13 anos chegou a ser socorrida com vida, mas não resistiu e morreu no hospital.
O combate às chamas e o socorro às vítimas foram realizadas pelas guarnições de Braço do Norte e São Ludgero. A primeira equipe chegou ao local em menos de quatro minutos, após o comunicado de incêndio.
[soliloquy id="224198"]
O resgate dos sobreviventes
Na noite de incêndio seis bombeiros, militares e civis, atuaram no resgate às vítimas e no combate das chamas. No prédio, nove hóspedes. Deste montante, o incêndio deixou seis feridos e três mortos. Yasmin de 13 anos estava com os pais em um dos quartos no terceiro andar do hotel. A chegada do socorro até eles foi delicada e perigosa. A contagem de óbitos poderia ser maior, caso algumas atitudes não fossem tomadas no momento do incêndio.
Ao final da explanação do laudo pericial, o comandante do 8º Batalhão do Corpo de Bombeiros, Coronel Barcelos, fez questão de chamar à frente o Cabo Mendes e solicitar aos presentes uma salva de palmas. Ele foi o responsável pelo resgate de Yasmin, junto de seus pais.
Mendes já tem oito anos de corporação. Iniciou sua função como Bombeiro Militar em 2009, na sede do batalhão em Tubarão. Passou por Armazém e atualmente está na guarnição de São Ludgero. Em entrevista ao Portal Sul In Foco, Mendes detalhou o trágico resgate das vítimas:
A entrada
Recebemos o chamado e a primeira informação era de um incêndio com vítimas, sem sobreviventes. Quando cheguei ao local, visualizei de fora do edifício duas delas nas janelas dos quartos. Como eu já estava equipado, inclusive com o cilindro de ar, iniciei a subida para o primeiro andar pela única passagem que era a escada principal. Não consegui enxergar nada depois do terceiro degrau. Junto ao BC Diórgene, ao chegar no pavimento, iniciei a busca às cegas e coloquei a lanterna no chão para visualizar um local de toque. Fui tateando as paredes para tentar localizar a escada de acesso ao segundo andar do hotel.
Sem ar
Neste momento, o ar do equipamento estava se esgotando e necessitava de troca. Mesmo assim, conseguimos encontrar a escada e acessar o segundo andar. No corredor, encontramos a senhora Cristina Schimitt, já em óbito. Deixamos a mangueira no local para servir de guia e voltamos para fora do prédio e efetuarmos a troca do cilindro de ar. Ao retornar, o BC Israel me acompanhou e retornamos ao segundo andar. Lá, conseguimos encontrar a escada de acesso ao terceiro pavimento onde estavam os pais e a filha. Em meio a muita fumaça, fizemos o chamado e o casal respondeu por socorro. Suplicaram para retirasse a menina primeiro.
O resgate da família
Enrolada em um cobertor, peguei a Yasmin no colo e iniciamos a descida. No meio do caminho, encontrei o BC Diórgene e entreguei a jovem e os pais a ele para que continuassem a descida. A menina ainda estava com vida no momento do resgate. Eu sentia o pulso dela. Retornamos aos cômodos e com uma marreta fizemos a varredura em todos os quartos em busca de outros hóspedes.
O nono hóspede
Inicialmente eram oito hospedes, mas logo após descobrimos que eram nove. Alexandre Frontino era morador do local e foi encontrado momentos depois, dentro do banheiro de um dos quartos, já sem vida.
Dever cumprido
O meu sentimento é de dever cumprido. Em todo o estado, nenhum bombeiro chegou a se deparar com uma situação como essa. Quanto a menina que salvamos, fiquei cerca de uma semana aborrecido com a morte dela. A gente pensa que poderia ter feito mais. Mas, sei que ultrapassamos os limites. Fizemos o que era para ter feito. A minha vida também estava em risco. O sentimento de dever cumprido, se mantem. Espero poder não passar por uma situação semelhante.