As estatísticas não metem: o Brasil é líder mundial na incidência de raios por ano. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – Inpe, 1.790 pessoas morreram entre 2000 a 2014 por descargas elétricas provocadas por raios. E se você é uma daquelas pessoas em que acredita que raio não cai duas vezes no mesmo lugar, é melhor rever seus conceitos. Porém, a chance de uma pessoa ser atingida por um raio é ínfima: apenas uma em um milhão.
Juliano Modesto Vitório, de 39 anos, já carrega a palavra vencedor no sobrenome e, desde o dia 4 de junho, possui uma nova data de nascimento. Ele foi atingido por uma descarga elétrica provocada por um raio. O mecânico e estudante de engenharia mecânica se recupera em casa com apoio e carinho da família, depois te ter passado por uma situação traumática.
No domingo, dia 4 de junho, Juliano seguia sua rotina de ir trabalhar de motocicleta, para Jaguaruna. Tudo ocorria normalmente, até ele ver um clarão na sua frente e “apagar”. O morador de Capivari de Baixo só acordou quase duas horas depois do ocorrido, jogado às margens da Br-101, sem conseguir se mexer e a chuva caindo sobre seu corpo.
Há 20 metros da rodovia, lentamente ele seguiu se arrastando até levantar a mão e um caminhoneiro o ajudar. O que em um primeiro momento pareceu ser uma queda de moto, logo se notou que foi algo extraordinário: Juliano foi atingido por uma descarga elétrica. O motociclista foi encaminhado ao Hospital de Caridade de Jaguaruna e transferido para o Hospital Nossa Senhora da Conceição – HNSC, em Tubarão.
As marcas de queimadura no corpo, a roupa dilacerada e o capacete com partes queimadas não deixam dúvidas. Em um primeiro momento os médicos trataram o ocorrido somente como uma queda de motocicleta. O diagnóstico e o tratamento para as queimaduras iniciou mais de 48 horas, após o acidente. Mesmo sendo raro, Juliano sobreviveu à descarga elétrica. O motociclista teve uma lesão no mastoide ( que é o osso do crânio que fica localizado logo atrás da orelha e é formado por células neumáticas que possuem a função de drenar o ouvido médio).
Além disso, os dois tímpanos foram perfurados e nove dias depois, em decorrência do fato, uma paralisia facial também foi diagnosticada. “Diante de tudo que aconteceu, não temos que reclamar de nada. Só realmente agradecer a Deus. Ele tinha tudo para não estar mais aqui conosco, o importante é que ele está aqui com a gente”, relata a esposa de Juliano, Roberta Vitório.
Depois de ter sido atingido pela descarga elétrica, caído de moto e resgatado com hipotermia, além das complicações decorrentes, Juliano se considera uma pessoa abençoada. “Me sinto protegido. Abençoado por Deus. A recuperação é lenta, mas vamos seguindo. Amigos pesquisaram e sobreviver nestes casos realmente é raro.”, conta Juliano.
E realmente Juliano pode se sentir um abençoado. Isso porque, segundo o mestre engenheiro eletricista Jean Luca Colombo, caso um indivíduo encontre-se no ponto de choque, ele pode receber choques com correntes de pico que podem variar de 120 quilo Amperes (raios carregados negativamente), até 300 quilo Amperes (raios carregados positivamente – 5% de chance de acontecimento). Para se ter uma noção, um chuveiro demanda correntes de 30 à 50 Amperes.
“A região esférica de dissipação de energia se comporta de uma maneira diferente. O solo ao redor do ponto de choque fica extremamente carregado. Já as regiões mais afastadas do ponto de impacto ficam menos carregadas. Assim, caso nossos pés estejam à mesma distância do ponto do raio, ambas as partes estão em regiões com o mesmo potencial. Desta maneira, nos comportamos como passarinhos em um fio de energia. Já, se uma parte do nosso corpo está mais perto do raio, e outra mais longe, uma diferença de potência é gerada, e nosso corpo recebe um choque. Este choque que recebemos pode sim ser fatal, mesmo que não tenhamos recebido o raio diretamente”, explica o engenheiro.
Medidas de segurança em tempestades
Ainda de acordo com o engenheiro eletricista Jean Luca Colombo, algumas medidas de segurança devem ser tomadas, principalmente em tempestades. Vá para um edifício com para-raios: “Sim, raios caem no mesmo lugar mais de uma vez. O para-raios é um destes lugares, e ele vai proteger a sua vida.”, destaca Jean Luca.
Se estiver dentro de um carro, permaneça. A carcaça do carro vai te proteger eletricamente. A isso denomina-se gaiola de Faraday. Dirija até um prédio com para-raios e mantenha a calma.
Saia da água – Raios atingem a água. E a água, diferentemente do solo, conduz energia. Piscinas, rios, praias, fuja daí.
Se estiver em um campo aberto, procure uma região mais baixa, longe de elevações. Fique também longe de árvores e postes. Procure uma estrutura para se abrigar. Não deite, nem sente no chão. Tente manter a calma, e pensar no abrigo mais próximo.
Com informações do Portal Notisul