Não nos surpreende a rapidez com que surgem novos brinquedos no mercado, tampouco a forma mais rápida ainda com que desaparecem, pois a tecnologia caminha a passos tão velozes que às vezes não conseguimos acompanhar em função de nossos afazeres cotidianos. No entanto, as crianças estão sempre informadas e inseridas, afinal o mundo delas lhes permite. O mais recente invento chama-se “hand spinner”, e já está causando polêmica, não pelo brinquedo em si, mas pela postura inédita do Ministério da Justiça.
É um brinquedo em formato de uma hélice de três pontas circulares feita de metal e plástico para se brincar com as pontas dos dedos, com objetivo de aliviar tensões e combater o estresse da criançada. Contudo, o que me leva hoje a abrir este espaço com o referido tema, não é o brinquedo na sua essência, até porque nada tem de ineditismo, mas sim as notícias que circulam nas mídias a respeito da preocupação das autoridades públicas sob a alegação de que pode machucar. Com tantas coisas a serem resolvidas no país, preocupar-se com um pedaço de plástico é uma grande palhaçada, uma falta de serviço.
Consta que o Ministério da Justiça está envolvido na abertura de investigação sobre os riscos de acidentes porque o produto não traz a certificação do INMETRO. Imagine se pião, bolinha de gude, taco, bola e tantos outros brinquedos que atravessam gerações divertindo, educando, formando nossas crianças, dependessem de certificação? Seria cômico, para não dizer grande imbecilidade. E quantas crianças são mortas com balas perdidas, vítimas de violência, de estupros, e passam despercebidas pela sociedade hipócrita?
Já tive contato com um “hand spinner”, experimentei a brincadeira, e achei “top”, como diz a criançada, nada de anormal. Não há perigo algum, a não ser o risco de se perder tempo e deixar de lado atividades enriquecedoras de conhecimento como: a leitura de um bom livro, assistir a um filme interessante, fazer tarefas escolares etc. O intrigante é saber que o Ministério da Justiça perde seu tempo, precioso e bem pago, para debruçar-se numa investigação descabida, enquanto a maconha, o crack, a cocaína e tantas outras drogas mortíferas são vendidas descaradamente a crianças e adolescentes em portões de escola, nas praças, bares, em qualquer lugar e a qualquer hora. Tanto bandido para prender, quadrilhas engravatadas continuam governando o país, é dinheiro na mala, é dinheiro no exterior, é dinheiro na cueca, é propina na troca de favores, é liberdade para bandido que deveria apodrecer na cadeia, hospitais fechando por falta de recursos, escolas despedaçadas, e a Justiça preocupada com um brinquedo que hoje é febre nacional, mas daqui um pouco dará espaço para outro.
Não é difícil entender: com a certificação o governo identifica uma oportunidade de gerar impostos e abastecer os cofres públicos para a sustentação dos detentores do poder. Sem faltar, quem sabe, uma propina, prática habitual no país.
Em se tratando de nocividade, vale lembrar que os três poderes da Nação são bem mais nocivos que o “hand spinner”. Que tal um selo do INMETRO para varrer os corruptos?