Avelina Ana Dagostim Zanivan já não tem a força nas pernas que tinha quando jovem, mas conserva a mente e a lucidez de décadas atrás. Ermelina Raquel Dagostim Darós é o oposto: o corpo parece não sentir tanto o peso de um século vivido, mas a memória, às vezes, falha. Lado a lado na celebração dos 100 anos vividos, as diferenças das irmãs gêmeas se tornam meros detalhes. As mãos se tocam, os olhares se encontram e os sorrisos se abrem.
O evento mais esperado para as famílias de Avelina e Ermelina foi celebrado entre a tarde e a noite do último sábado, em um restaurante no bairro Quarta Linha, em Criciúma. Juntas, as irmãs têm 71 descendentes, entre filhos, netos e bisnetos.
Avelina foi a primeira a entrar, com filhos e netos conduzindo a cadeira de rodas para vencer os obstáculos pelo caminho. Ermelina chegou logo depois, caminhando com a ajuda de filhos. Ela andou até a metade do salão, onde se sentou e sorriu ao notar a presença de tantos familiares.
Antes da chegada das aniversariantes, um quadro na entrada do restaurante com fotos da vida de Avelina e Ermelina era a atração principal. Filhos e netos contemplavam as imagens e se divertiam tentando adivinhar quem era quem nas fotografias mais antigas.
“Acho que essa de preto é a minha mãe e a de branco é a tia”, arriscou o aposentado Ademar Darós, de 63 anos, filho de Ermelina, apontando para um retrato de corpo inteiro em que as gêmeas aparentam ter por volta dos 30 anos.
A única certeza que ele tem é que a vida de Avelina e Ermelina foi dura. A infância das duas se estendeu só até chegar a necessidade de ajudar no sustento da família. Ainda cedo, as brincadeiras de corrida de saco, descidas de morro deslizando sobre folhas de bananeiras e subidas em árvores deram lugar ao trabalho na lavoura, em engenhos de açúcar e na produção de cachaça.
“Se hoje a gente enfrenta algumas dificuldades, imagina na época delas. As duas trabalharam duro na agricultura, tinham uma religiosidade forte e o maior legado que deixaram a nós, pelo exemplo que deram, foi a honestidade. O sentimento hoje é de gratidão. Elas dedicaram a vida à família”, disse Ademar.
Da infância aos casamentos dos filhos
Avelina e Ermelina nasceram no dia 25 de julho de 1918, não muito distante de onde celebraram o centésimo aniversário. Filhas de Alfonso Dagostim e Olandina Zanetti, elas são parte de uma família com outros dez irmãs e irmãos, dos quais apenas um está vivo. Para Avelina, conservar a memória e a lucidez aos 100 anos traz o ônus de não esquecer a saudade dos que já partiram. Quando tem oportunidade, menciona a falta que sente dos irmãos.
As duas frequentaram a escola por pouco tempo, já que o avô materno, João Zanetti, era professor e a mãe, Olandina Zanetti, ensinava as filhas em casa. As gêmeas aprenderam dois idiomas ainda crianças, e até hoje falam português e italiano.
Elas viveram juntas até que os casamentos das duas e a vida adulta lhes deram rumos diferentes. Ambas são viúvas.
Ermelina foi a primeira a se casar. Aos 27 anos, uniu-se em matrimônio com o agricultor João Batista Darós e se mudou para o bairro São Luiz, onde vive até hoje. Além da filha que João já tinha do primeiro casamento, o casal teve outros dez filhos. Todos eles vieram ao mundo pelas mãos de Mimi, uma parteira conhecida na cidade à época. Hoje, a família de Ermelina já cresceu e ela tem 26 netos e 18 bisnetos.
Avelina se casou seis anos depois. Antes disso, tinha um jeito peculiar de lidar com todos os homens que eram atraídos pela beleza da jovem.
“Para escapar dos pretendentes, ela se trancava no paiol e ficava por lá escondida, bordando”, conta Valdira Zanivan, filha de Avelina.
O único a despertar a paixão de Avelina foi o sapateiro Pedro Zanivan, com quem trocou as alianças aos 33 anos. O casal se mudou para o bairro Morro Esteves, onde ela vive até hoje. Da união, nasceram quatro filhos (dois homens e duas mulheres), 11 netos e, por enquanto, dois bisnetos.
Entre os 18 bisnetos de Ermelina, estão as gêmeas Júlia e Giovana Mendes Beloli, de 12 anos. Presentes na celebração de sábado, as meninas têm na bisavó uma inspiração para a vida, mesmo não entendendo o italiano que Ermelina fala na maior parte do tempo.
“Quando chegar a nossa vez de fazer 100 anos, a gente vai dar uma festa bem grande”, projeta Giovana.
Com informações de Renan Medeiros / NSC Total