A realização das últimas provas do ENEM trouxe à tona mais uma vez a praga disseminada no país, aquela que, quanto mais se combate mais prolifera: a corrupção. E, como dizia minha mãe: “é um inço”. Mas, que fique bem claro: não o inço poupado durante a colheita para frutificar, mas sim a erva daninha que destrói o trabalho realizado. É a analogia do inço que podemos fazer com o atual momento político, quando vemos o país deteriorado pela insanidade de nossos políticos, pela má administração do dinheiro público, pela sede de poder, e agora com novos fraudadores no mercado, não políticos, mas talvez piores do que eles, porque operam exatamente no setor de maior importância para todo e qualquer país: o ensino. Uma afronta à sociedade.
Desde sua primeira edição, 1998, muitas falhas, oriundas do Ministério da Educação, ocorreram na realização do ENEM, mas com o tempo foi se aperfeiçoando , ganhou credibilidade, transformando-se no mais importante processo seletivo para ingresso no ensino superior, porque dá ao jovem, independente de condição socioeconômica, a oportunidade de frequentar gratuitamente uma universidade. É uma forma de realização do sonho dos menos favorecidos economicamente, pois grande parte dos jovens é oriunda de escolas públicas, desprovidas de todos os recursos necessários para competir com o ensino oferecido nas instituições de ensino particular, ou mesmo de grandes escolas públicas dotadas de estrutura compatível com o que exige a sociedade atual. São alunos que, usando sua inteligência e força de vontade, rompendo barreiras diariamente, trabalhando arduamente para sobreviver e vencer, competem com os bem favorecidos economicamente, que, às vezes, pouco valorizam a conquista, acostumados a ganhar tudo a qualquer hora.
Mas, o que tem a ver com as fraudes do ENEM o que acabo de escrever? A resposta é uma só: tudo! Porque só quem tem muito dinheiro se propõe a comprar um gabarito de prova por 180 mil reais. E que jovem em idade estudantil tem esse dinheiro disponível? Nenhum… Quem tem são os pais ricos, que pagaram escola a vida toda, mordomias, futilidades, e agora querem comprar uma vaga numa universidade pública, dando sustentação aos fraudadores, contribuindo com a proliferação de criminosos. Mas, mais degradante que a falta de caráter do corruptor, é a falta de caráter dos alunos e dos pais que põem o dinheiro acima da ética, da moral, dos bons costumes. Estes alunos, na maioria estudantes de medicina, certamente terão no exercício da profissão coragem e dinheiro para comprar, quem sabe, o silêncio de testemunhas em negligências que cometerem, sabe-se lá, até de mortes que provocaram. Quem não é fiel nas pequenas coisas, não o será em nenhum momento da vida. Caráter não se aprende, faz parte da trajetória de vida, é formação moral, é honestidade. Como sempre dizia o sábio mestre Professor Agenor Dela Giustina: “quem rouba uma galinha, se tiver oportunidade, rouba um avião”.
O fato aí está, mas graças ao brilhante trabalho da Polícia Federal a quadrilha foi desbancada, restando à justiça fazer a sua parte. Punam-se os culpados para que possamos acreditar que um dia a corrupção inexistirá!