A professora aposentada Ivone Juracy Fernandes, 71 anos, conheceu Calil Bulos, o pintor Chachá. Tem um quadro do artista em casa e guarda na memória os bate-papos das tardes de domingo com o amigo. Nesta segunda-feira, ela voltou ao tempo revivendo os quadros do artista no espaço cultural Chachá. “Gosto muito. Ele pintava Laguna como ninguém”, disse.
Os traços de Chachá encanta muita gente até hoje. O pintor retratou o cotidiano dos pescadores de Laguna, nas décadas de 70, 80 e 90. As paisagens de suas telas apresentam as lavadeiras, venda de peixes e casebres, onde retrata o lado humilde da cidade. Suas obras podem ser encontradas em muitos lares do município, outras, no salão nobre da Escola de Aprendizes Marinheiros, na Casa do Jornalista e na Associação Polonesa de Santa Catarina. Em São Paulo, o Museu de Arte Naif, um dos museus mais importantes da América Latina, tem quadros do artista. Outras obras, ele doou para o patrimônio brasileiro. Na primavera de outubro de 2007, Chachá faleceu aos 72 anos.
O espaço cultural fica na rua Santo Antônio, uma das mais antigas ruas do município, numa antiga residência protegida pelo patrimônio histórico.
Um dos voluntários é o estudante Bruno Mendes Espíndola, fotógrafo nas horas livres e estudante universitário, junto com Jane Gariba, Artur Cook, Adilson Barros entre outros estão empenhados em promover a cultura lagunense. Além das telas de Chachá, outros talentos mostram seus trabalhos no espaço.
A programação do espaço está integrando a Semana Cultural em homenagens aos 338 anos de fundação de Laguna.
Até o dia 3 de agosto tem exposição de quadros do Chachá, das 14h às 20h, e permanece até o dia 3 de agosto.
Chachá
Sua técnica favorita foi acrílico sobre tela ou papelão. Usava, quase que, exclusivamente, os dedos para compor os fundos de suas pinturas e alguns pincéis, para com eles, realizar as suas características mais finas, como as redes de pesca e seus famosos personagens.
Na época, segundo o próprio Chachá, suas telas eram criadas pela manhã, sua hora de maior inspiração. O artista denominava sua arte como inocente, conhecida como naïf. “Na expressão ‘ingênua’, essa arte se expressa de forma mais clara, mais doce, todos nossos sentimentos”, descreveu.
Participou de numerosas exposições individuais e em grupo. No Brasil, uma mostra permanente de suas pinturas foi realizada por mais de dez anos, na Galeria Jean Jacques, no Rio de Janeiro.
Em São Paulo, o Museu de Arte Naif, um dos museus mais importantes da América Latina, tem quadros do artista. Outras obras, ele doou para o patrimônio brasileiro. Na primavera de outubro de 2007, Chachá faleceu aos 72 anos.
Pai doente chega em Laguna
Richard Calil Bulos nasceu em 6 de outubro 1935, na cidade do Rio de Janeiro. Filho de Abelardo Calil Bulos, filho de sírio-libaneses e Yvonne Rennée Albert, nascida na Suíça. Ambos se conheceram quando o pai de Chachá cursava a Faculdade Estadual de Medicina de Genebra. Dessa união nasceram cinco filhos.
Em sua especialização no Hospital Gafréguinle, situado no bairro da Tijuca, na capital fluminense, o pai de Chachá, contraí uma tuberculose. Após curar-se, a família de Chachá chega à Laguna no ano 1939, a bordo do navio Aspirante Nascimento. Chachá, então, com quatro anos de idade.
Naquela época seu avô, Paulo Calil Bulos, foi um dos prósperos comerciantes da cidade de Laguna, onde os estabelecimentos comerciais ficavam às margens da Lagoa Santo Antônio dos Anjos.
O pai de Chachá começava a trabalhar na Rádio Difusora e no semanário O Sul do Estado. Montou uma farmácia, e depois passa a diretor do Horto Florestal (atual IBAMA) .
Ao completar 18 anos, em 1954, Chachá alista-se na Polícia do Exército como armeiro. Foi expulso da corporação por fazer a caricatura de um comandante trajando somente uma cueca. Como castigo, foi removido ao batalhão Dragões da Independência, indo trabalhar nas cavalariças. Neste mesmo ano, montou guarda no Palácio do Catete, antiga sede do Governo.
Retornando à Laguna, Chachá começa a trabalhar como balconista na Farmácia São Paulo (de propriedade de seu pai) e conhece Terezinha Marta Soares, oito anos e meio mais nova, natural de Laguna. Casam-se em outubro de 1960, já à espera de sua primeira filha, Jacqueline, nascida a 11 de março de 1961, hoje residindo em Genebra e tendo seguido a carreira literária. O segundo filho, Karim Calil Bulos, nasce em 11 de fevereiro de 1963 e trabalhou até seu falecimento, aos 30 anos, no Consulado Geral do Brasil, em Genebra.
Chachá trabalhou também como caixeiro-viajante na multinacional Park Davis e Ciba, percorrendo os estados de Santa Catarina e Paraná entre os anos de 62 e 70. E logo após, cansado de suas viagens, inicia na vida artística como redator e editor-chefe em diversos jornais de Laguna, artista plástico, caricaturista e chargista. Além de ter sido locutor nas Rádios Difusora e Garibaldi, apresentando noticiário.
Durante os anos de 1991 e 1992, Chachá divide sua vida entre o Brasil e a Suíça, montando várias exposições de suas telas em alguns países da Europa. Chegou a ter um ateliê na Rue de Voisins (Rua dos Vizinhos), em Genebra. Chachá, apesar de filho de uma suíça, nunca desejou obter a nacionalidade.