Entre os municípios pesquisados, Tubarão foi a região em que foram encontradas as maiores concentrações de metais pesados.
Diferentes estudos realizados nos últimos 20 anos mostraram que a região de Tubarão é propícia para a ocorrência de chuva ácida. As precipitações com um número abaixo do pH considerado ideal e inofensivo podem provocar danos à natureza e à saúde. Atualmente, a cidade não conta com nenhum tipo de aferição da qualidade da chuva.
Entre os estudos realizados sobre o tema está o do professor Henrique de Melo Lisboa, engenheiro civil especialista em Hidrologia, com doutorado em poluição atmosférica e pós-doutorado em odores. Em um trabalho realizado para o XIV Congresso Brasileiro de Meteorologia, de 2006, Henrique apresentou dados que comprovaram a presença de chuva ácida em Tubarão entre os meses de fevereiro e novembro de 2005.
Nesse período, o Laboratório de Controle e Qualidade do Ar da Universidade Federal de Santa Catarina (LCQAR/Ufsc) realizou uma pesquisa para analisar a qualidade das águas de chuva em quatro municípios de Santa Catarina, entre eles a Cidade Azul. A pesquisa foi a extensão de um trabalho realizado anteriormente, entre 1990 e 1992. As estações foram monitoradas por moradores voluntários dos locais em estudo, motivados pelo interesse no desenvolvimento da pesquisa. Eles receberam treinamento e orientações para que pudessem participar do projeto.
As águas de chuva apresentaram, na maioria dos casos registrados, valores de pH inferiores a 5,65, indicando características de chuvas ácidas. Entre os municípios pesquisados, Tubarão foi a região em que foram encontradas as maiores concentrações de metais pesados.
Região está mais sujeita às emissões ácidas
Estudo parecido também foi tema de uma dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental da Ufsc, em 2008, por Renata Fátima Martins. A pesquisa, realizada entre agosto e novembro de 2006, em Tubarão, mostrou que mais de 94% das medidas de pH de todas as parcelas de chuva coletadas apresentaram o pH menor que 5,70. O trabalho ainda diz que este dado comprova “como realmente esta região (de Tubarão) está mais sujeita às emissões ácidas”. Segundo a autora do estudo, Tubarão foi escolhida por conta da proximidade com a termoelétrica e as olarias.
Rafael Marques, que já foi secretário de Defesa Civil de Tubarão, também fez pesquisas referentes à chuva ácida na cidade, em 2010, numa dissertação submetida ao curso de mestrado em Geografia, da Ufsc. O trabalho também trouxe a constatação da ocorrência de chuva ácida em Tubarão, que demonstrava, na época, a existência de aerossóis ácidos, provavelmente óxidos de nitrogênio e enxofre (poluição).
“Coincidentemente, Tubarão é a localidade com maior incremento de chuva entre as cidades estudadas, podendo contribuir o fato de abranger a maior população, o maior número de veículos e de ser instalada próxima a atividades que utilizam carvão como combustível. A acidez dessa chuva pode ser de várias fontes: dos escapamentos dos veículos automotores, da usina termelétrica movida a carvão, das olarias, da marinha, das atividades industriais e das agropastoris em geral”, aponta o texto da dissertação.
O que é a chuva ácida
À medida que ocorre precipitações, a chuva absorve parte do ar atmosférico, acarretando na mudança do pH. É através do pH que é possível determinar se a água é ácida, básica ou neutra.
Pesquisas comprovam que os óxidos de enxofre e de nitrogênio são os principais componentes da chuva ácida. Esses compostos são liberados na atmosfera através da queima de combustíveis fósseis, como o carvão mineral. Ao reagirem com as gotas de água da atmosfera, formam o ácido sulfúrico e o ácido nítrico (HNO3). Juntos, esses dois ácidos provocam o aumento da acidez da água da chuva.
Na presença desses ácidos, o pH da água da chuva pode chegar entre 4 a 2, valores extremamente ácidos. As atividades humanas são as principais responsáveis por esse fenômeno, que também pode ser formado por causas naturais, como na liberação de gases durante a erupção de um vulcão – o que não faz parte da realidade da nossa região.
Com informações do Jornal Diário do Sul