82% das espécies de árvores exclusivas da Mata Atlântica estão ameaçadas de extinção no Brasil
Espécies de árvores conhecidas em Santa Catarina fazem parte de uma lista preocupante: a de ameaçadas de extinção. Um estudo inédito, que teve a participação de pesquisadores do Estado, mostra que 82% das mais de 2 mil espécies exclusivas da Mata Atlântica no Brasil têm risco de desaparecer.
Isso coloca árvores bem conhecidas do catarinense, como as famosas araucárias, o palmito-juçara e a erva-mate, na categoria “em perigo” de extinção, já que tiveram declínios na quantidade de pelo menos 50% ao longo dos anos, conforme apontam os modelos estatísticos desenvolvidos na pesquisa.
As categorias foram estabelecidas com base nos critérios da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês), maior referência global em espécies ameaçadas. A IUCN considera que, acima entre 30% e 50% de queda, a espécie é considerada “vulnerável”, o primeiro “nível” do risco de extinção. Na sequência, o “em perigo” significa entre 50% e 80% de redução. Acima disso é “criticamente em perigo”, a pior situação.
A Mata Atlântica tem 4,9 mil espécies arbóreas mapeadas, sendo que mais de 2 mil só existem nesse bioma. E das quase 5 mil espécies de árvores, 65% estão ameaçadas. O estudo foi publicado na revista Science na primeira quinzena deste mês e foi o primeiro a avaliar todas as 5 mil “populações”. O resultado assustou o coordenador do estudo, o professor da Universidade de São Paulo (USP), Renato Lima.
— O número [de 82% de espécies endêmicas ameaçadas] foi um susto para nós, porque usamos uma abordagem conservadora. Levamos em conta se as espécies tinham ou não floresta disponível, independentemente de ser ou não uma floresta saudável, por exemplo. É possível, que a realidade seja ainda mais preocupante — lamenta o pesquisador.
Docente na Universidade Regional de Blumenau (Furb), André Gasper foi um dos dois professores de Santa Catarina a participar do levantamento. Ele detalha que pelos cálculos desenvolvidos pelo grupo foi possível estimar quantas árvores de cada espécie existem e quanto deveria existir se não houvesse o desmatamento.
— Houve muito desmatamento, a gente percebe que essas espécies perderam muita área de ocorrência e consequentemente caíram em grau de ameaça — lamenta.
Para Renato, as informações são primordiais para a criação de políticas públicas de conservação e reflorestamento:
— Pode-se priorizar áreas mais degradadas e espécies mais ameaçadas, sem deixar de considerar locais em que há florestas que podem não ser mais viáveis no longo prazo se algo não for feito agora — comenta o pesquisador.
Espécies em risco
Entre as centenas de espécies ameaçadas, 75% estão na categoria “em perigo”. É o caso da araucária, do palmito-juçara, palmito-doce, pinheiro-brasileiro e da canela-sassafrás. Já o emblemático pau-brasil foi listado como “criticamente em perigo”, dada a redução estimada em 84%. O mesmo ocorreu com o Ilex brasiliensis, usado para fabricação de erva-mate (a pesquisa considera apenas mata nativa, não plantações).
Cinco espécies consideradas extintas na natureza foram redescobertas no estudo, mas nenhuma delas ocorre em Santa Catarina, detalha André. Outras 13 espécies de árvores exclusivas da Mata Atlântica foram reclassificadas como possivelmente extintas. De novo, nenhuma com registro no Estado, apenas em outros pontos do país.
Com informações do NSC Total