A professora e colunista Ana Maria Dalsasso, comenta sobre a proposta educacional do Governo Federal e alerta sobre os reflexos aos estudantes.
Desde a sua aprovação em 1998, as novas Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Médio (DCNEM) têm passado por discussões variadas em função das mudanças e exigências da nova sociedade, mas por incrível que pareça, pouco ou quase nada sai do papel, como em tudo que se refere à educação. Não há interesse da elite dominante (entende-se aqui: políticos) que o povo brasileiro tenha acesso à educação de qualidade. Atitude oposta dos países desenvolvidos.
É preciso que as escolas sejam reestruturadas para receber as mudanças. Isso requer um alto investimento, mas para a educação sempre falta dinheiro.
Em 2017, tomou vulto uma nova discussão criando a expectativa da mudança, mas novamente pouco se viu de fato. Ventilou-se a importância de escolas em tempo integral e ensino profissionalizante. Enfim, ideias inovadoras, mas quase tudo continua como antes. No entanto, nesta semana fomos surpreendidos com uma notícia, muito pouco divulgada, mas bastante preocupante, pois mais uma vez significa um retrocesso na educação: o ensino médio a distância. É preciso que as escolas sejam reestruturadas para receber as mudanças. Isso requer um alto investimento, mas para a educação sempre falta dinheiro.
Hoje no Brasil, apenas 10% dos alunos matriculados no ensino médio atingem nível satisfatório de aprendizagem ao concluir o 3º ano na rede pública. E, mesmo com este cenário, o Presidente Michel Temer vem defender a ideia de que 40% da carga horária do ensino médio pode ser feita a distância. Estranho para quem até então falava em escola de tempo integral. Se com professores cotidianamente, só 10% atingem índice satisfatório, como estudarão sozinhos os que, por dificuldade ou por desinteresse, não aprendem?
Quais serão os professores que conduzirão o processo? Como será o treinamento para os monitores? Como as aulas serão gravadas?
Costumo dizer que, “ confio no adolescente, mas não confio na idade dele”, pois falta-lhe maturidade para discernir as coisas e, por isso, precisa de alguém que lhe aponte o caminho. Na aquisição do conhecimento, o professor é insubstituível. O contato, a troca de experiências, o afeto e a convivência fazem parte do crescimento do ser humano. A máquina é incapaz de preencher este espaço. Não estou na contramão da evolução tecnológica, mas nem tudo a máquina pode nos dar. Lembrando também que, a proposta para o Ensino de Jovens e Adultos é de 100% a distância.
Mais uma vez, os jovens a quem não foi dada a oportunidade de frequentar uma escola, terão de aprender sozinhos. E então perguntamos: com que estrutura as escolas farão o trabalho? Quais serão os professores que conduzirão o processo? Como será o treinamento para os monitores? Como as aulas serão gravadas?
É preciso que a educação seja tratada com seriedade em qualquer lugar do mundo. Não podemos continuar fingindo que tudo está bem.
Vale esclarecer que, esta brecha de ensino a distância foi incluída na reforma do ano passado, mas a maioria dos educadores não tomou conhecimento. E mais: no decreto estava incluída também esta modalidade de ensino para alunos de 6º a 9º ano. Parece piada, mas felizmente o presidente acabou desistindo da ideia após severas críticas.0
É preciso que a educação seja tratada com seriedade em qualquer lugar do mundo. Não podemos continuar fingindo que tudo está bem, porque a realidade nos mostra a verdade. E como afirma professor Cesar Callegari do Conselho Nacional de Educação – CNE, “recursos a distância devem servir como complemento, jamais em substituição de professores e da escola como local de vivência presencial”.