Moradora de Lauro Muller, Marlene Righetto Shuch, 61 anos, perdeu parcialmente a audição após diagnóstico de infecção nos ouvidos e uma tentativa frustrada de cura por meio de uma cirurgia. Por longos 15 anos, ela ouviu parcialmente com a ajuda de aparelhos auditivos convencionais e seguidas tentativas sem sucesso de tratamentos convencionais e medicamentosos. Neste período o problema foi se agravando e Dona Marlene perdeu totalmente a audição.
A mulher, que não ouvia completamente nada, se comunicava apenas por meio da leitura labial e quando não conseguia entender, pedia para que as pessoas escrevessem em um papel.
Depois disso, mais dezessete anos se passaram, até que um dia, sua cunhada Gerusa leu uma matéria no jornal Diário Catarinense, recortou o jornal e entregou à sua filha Daniela. O anuncio falava de um método inovador e de uma cirurgia no Hospital das Clínicas em São Paulo.
Tudo parecia tão impossível e distante até que ao ligarem para o referido hospital, ficaram sabendo que o implante, se recomendado e após exames para verificar a eficácia, poderia ser pago pelo Sistema Único de Saúde – SUS. Procuraram a Secretaria de Saúde de Lauro Müller e Dona Marlene foi encaminhada para Florianópolis, no Centro Auditivo e ao Hospital Universitário. Ali, novas tentativas com aparelhos tradicionais foram realizadas e mais uma vez sem sucesso, até que então a Secretaria de Estado da Saúde deferiu o pedido do tratamento inovador em São Paulo. Após várias viagens, muitas consultas e exames realizados na capital paulista e aproximadamente dois anos de idas e vindas, finalmente a cirurgia foi realizada.
O equipamento é dividido em duas partes, o externo que capta o som e o interno, implantado atrás da orelha, que leva esse som ao celebro através de um feixe de eletrodos. Os dois são ligados por um imã.
Após quase duas décadas sem ouvir, Dona Marlene estranhou o som do mundo atual. Ainda na sala da fonoaudióloga minutos antes da alta médica, Dona Marlene detectou o som do cooler do computador do consultório e ao sair para a rua disse: “Meu Deus que mundo louco”.
O som do mundo para Dona Marlene realmente é outro. Tudo mudou. Hoje Dona Marlene contempla as maravilhas do privilégio de poder ouvir novamente após tanto tempo, mas o que mais lhe motivou foi o nascimento de sua netinha Camila, pois desejava muito ouvir seu chorinho, suas risadas e suas futuras palavras. “Espero que vovó, seja uma das primeiras”, brinca.
Esperança para milhares de surdos
No Brasil cerca de 18 milhões de pessoas apresentam algum tipo de problema de audição e pelo menos 300 mil precisam de cirurgia auditiva. A cirurgia coclear ou ouvido biônico é a melhor alternativa para quem nasceu surdo ou para quem perdeu a audição.
Apesar da eficiência desse implante, nos últimos 12 anos aqui no Brasil, apenas cinco mil pessoas fizeram esse tipo de cirurgia. Um dos motivos é o preço, cada aparelho custa R$ 65 mil.
Os convênios são obrigados a cobrir esse custo, o Sistema Único de Saúde também. Mas além da fila há outro problema. Os convênios e SUS só autorizam a cirurgia em um dos lados do ouvido. O Ministério da Saúde diz que estuda a possibilidade de oferecer o implante nos dois ouvidos. Quem já fez a cirurgia, comemora a nova vida, bem mais alegre e cheia de sons.
Colaboração: Júlio César Cardoso
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