Estimativas mostram que uma doação poderia ajudar mais de 100 pessoas levando em conta pele e ossos.
Transformar uma morte em cinco novas vidas. A frase parece irreal, mas está ao alcance de todos nós, é isso que a doação de órgão pode fazer. O transplante de córneas, por exemplo dá a chance de duas pessoas verem o mundo pela primeira vez e não só isso, dá também um novo futuro para toda a família.
São histórias como a do João Pedro Espíndola, aos 17 anos o diagnóstico de cegueira parecia ser o fim da linha, ele contava com apenas 5% da visão e só uma chance de voltar a enxergar: o transplante de córneas.
“Quando eu ouvi que meu filho ia ficar cego na hora disse para a médica: Tira minha córnea e coloca nele doutora” conta emocionada Gabriela Appi, mãe do João Pedro.
A doença crônica ceratocone o acompanhava desde a infância e enquanto crescia João precisava lidar com o desafio de sentir o mundo desaparecendo diante de seus olhos.
“Era muito difícil, eu perdia aula por que o único tratamento possível era uma lente de vidro que me machucava muito. Até para pegar o ônibus eu dependia de alguém, não dava para ler as placas e aí eu não sabia para onde estava indo, era muito difícil fazer as coisas sozinha” relembra o jovem
Ele realizou a cirurgia nos dois olhos, a primeira operação foi feita no olho direito em 14 dezembro de 2013, após um ano e oito meses aguardando. O que João considera o melhor presente de natal poderia ganhar em toda a vida.
“Após a cirurgia quando eu tirei os pontos e realmente enxerguei pela primeira vez comecei a chorar. Eu estava maravilhado, olhava para os meus braços e não acreditava que podia ver detalhes do meu corpo” conta João
O segundo transplante aconteceu quase dois anos depois, em 2015. Desde então, o tempo médio de espera pelo tecido no Estado caiu consideravelmente é de três meses, uma das mais baixas do Brasil. Entretanto, esse período já chegou a ser de sete anos.
Informações da Revista Brasileira de Transplantes apontam para um aumento significativo nos transplantes de córnea em SC. Em 2018, entre janeiro e março foram feitas 96 doações já em 2019 o número saltou para 125, neste mesmo período. Um aumento percentual de 23,2%. O transplante de córneas é atualmente o segundo mais realizado no Estado, ficando atrás apenas do de rim, que pode ser feito com doação em vida.
O responsável técnico do Banco de Olhos de Florianópolis e Criciúma, Rodrigo Cavalheiro, explica os números com a retomada de atividades em hospitais catarinenses.
“No ano passado apenas o Hospital Universitário da UFSC e o Santa Isabel em Blumenau estavam aptos para fazer transplantes via SUS. Ficamos sozinhos para atender toda essa demanda durante 2018. O Hospital Regional retomou esse serviço agora e o Celso Ramos também também está trabalhando para isso. Com a rede funcionando normalmente, devemos ter um aumento ainda maior no segundo semestre deste ano” afirma Cavalheiro
O processo de coleta da córnea precisa ser rápido, as equipes têm apenas seis horas a contar da morte do paciente para concluir a captação. Os maiores hospitais do Estado possuem equipes que compõem a Comissão Hospitalar de Transplantes, eles são os encarregados por conversar com a família e explicar o procedimento. Por isso, o responsável técnico do Banco de Olhos ressalta a importância de se ter mais equipes deste tipo no Estado.
“O nosso grande obstáculo é ampliar o sistema para que ele chegue no máximo de lugares, ofertando a doação de órgãos para o maior número possível de pessoas. É fundamental ampliar a rede de hospitais que possuem equipes. Hoje elas estão concentradas nos centros de referência de cada região” explica Rodrigo
Entretanto, as condições estruturais não são o maior problema para a realização das operações, o que falta são doadores. Rodrigo, explica que está a duas semanas sem realizar transplantes por este motivo.
“A cegueira ela dá um medo muito grande, a pessoa sofre em vida, perde a autonomia, trabalho e em muitos casos a chance de ver os próprios filhos crescerem. Um doador devolve a visão para duas pessoas. É fundamental que as pessoas entendam que hoje temos condições estruturais de fazer com que a fila seja zero em SC, basta termos um fluxo constante de doações” comenta o oftalmologista.
Um ato que salva centenas
Só neste ano 273 famílias liberaram a doação de órgão e tecidos em Santa Catarina, o que ajudou 1.365 pessoas de acordo com a SC Transplantes. Em média um doador salva cinco pacientes, com rins, fígado e córneas, mas esse número pode ser maior: doando também pulmões, pâncreas, intestino e coração uma pessoa salva 10.
Joel Santana, coordenador da central de transplantes do Estado explica que mesmo que o coração seja descartado, as válvulas cardíacas ainda podem ajudar mais dois indivíduos.
“Há ainda a chance de doar a pele, que pode ser usada para inúmeros enxertos, na casa das dezenas e também os ossos, eles quando são retirados, processados e moídos o resultado são porções que se forem de um grama podem beneficiar centenas de pessoas. Por exemplo, um doador adulto de 80 Kg a 100 Kg, que tenha uma quantidade ossos pode auxiliar de 500 a 600 pacientes.”
Tipos de doador
Doador vivo: Pode ser qualquer pessoa que concorde com a doação, desde que não prejudique a sua própria saúde. O doador vivo pode doar um dos rins, parte do fígado, parte da medula óssea ou parte do pulmão. Pela lei, parentes até o quarto grau e cônjuges podem ser doadores. Não parentes, só com autorização judicial.
Doador falecido: São pacientes com morte encefálica, geralmente vítimas de catástrofes cerebrais, como traumatismo craniano ou AVC (derrame cerebral).
Com informações do site NSC Total