Devo confessar que em toda minha vida nunca vi nem ouvi falar tanto em dinheiro como nos últimos anos, porém a forma como tem chegado a uma minoria da população, causa espanto a qualquer ser humano, da mesma forma como a falta dele ao cidadão aqui da base da pirâmide social causa revolta e desencanto pela podridão instalada no país em função da busca obsessiva de enriquecimento fácil e ilícito.
O dinheiro surgiu para facilitar a vida das pessoas, mas gradativamente foi se tornando o foco de grande parte do nosso tempo, energia e atenção, levando muitos, por ganância, a colocá-lo acima de tudo: suas vidas, familiares, valores. Dinheiro significa poder e, como o poder, fascina de tal forma que o cidadão de posse dele jamais quer perdê-lo, buscando-o cada vez mais, e para isso compra consciências, vende a dignidade e, se preciso for, a própria alma. Desaparecem a ética, o respeito ao próximo, a honestidade, a responsabilidade, o senso de justiça.
Ter dinheiro faz parte das necessidades de todo cidadão, mas ele será bom ou ruim dependendo da forma como é feito seu uso, pois exerce uma força dominadora sobre as pessoas chegando-se à triste conclusão de que a honestidade desaparece quando o objetivo é enriquecer de maneira fácil e inescrupulosa.
Tudo o que a operação Lava Jato vem trazendo à tona tem impressionado bastante, porém o caso do megaempresário Eike Batista serve muito bem para uma reflexão. Um homem inteligente, empreendedor, invejado por muitos, mas a fascinação pelo dinheiro levou-o por caminhos tortuosos ao enriquecimento, e hoje viu seu mundo desmoronar, levando-o ao fundo do poço. Com um mundo a seus pés, sai de ricas mansões, extravagâncias, luxo, viagens, iates, vinhos finos, e tudo que que de bom se possa imaginar, para um espaço de quinze metros dividido entre cinco, numa condição subumana ( para um ser humano normal), porém um ambiente próprio para bandido, pois todo bandido é desumano pelos atos que pratica, devendo por eles pagar.
O que está acontecendo em nosso país mostra-nos claramente que o dinheiro cuja função é “ser escravo do homem” está passando a ser “seu senhor”, levando-o por caminhos tortuosos cuja chegada é desastrosa. A queda é demasiadamente dolorosa, pois além de perder o poder econômico perde o que o ser humano tem de mais precioso: a liberdade. E liberdade não se compra com dinheiro, conquista-se traçando o próprio caminho, sendo nossas conquistas resultados das escolhas que fizemos.
Infelizmente a ganância humana não tem limites. As pessoas têm colocado o dinheiro em primeiro plano. E quando o amor ao dinheiro se sobrepõe a sua real função, começa a ter os efeitos de uma droga: quanto mais se tem, mais se quer e mais apego a ele. Com o fascínio pelo poder econômico, aumenta o orgulho, a avareza, a cobiça, a maldade, o individualismo, o egoísmo.
O dinheiro é uma necessidade em nossas vidas, por isso é preciso saber se relacionar com ele. A ganância faz as pessoas pensarem que ele é responsável pela felicidade e nele colocam a culpa pelas maldades que acontecem no mundo, mas só existe uma resposta: o mal não está no dinheiro, e sim nos atos que as pessoas fazem para consegui-lo.