Trecho entre Lauro Müller e São Ludgero ficou de fora da liberação.
O Departamento Estadual de Infraestrutura (Deinfra) vai liberar dois trechos de rodovias estaduais, no Sul Catarinense, para o tráfego de bitrens. A informação foi dada na manhã desta segunda-feira, pelo presidente do órgão, Paulo Meller, durante reunião com empresários do transporte, fabricantes e autoridades locais, na Câmara de Vereadores de Orleans. Mas a notícia não agradou a todos, porque a equipe técnica decidiu não liberar a rodovia que leva a Lauro Müller e outras regiões.
Depois de muita insistência dos transportadores e até do prefeito, Hélio Luiz Bunn, Meller prometeu rever o caso e pedir uma nova avaliação até o fim desta semana. Segundo o diretor de Planejamento e Projetos do Deinfra, William Wojcikiewicz, a geometria da rodovia, de subidas e descidas, impede a circulação desses equipamentos e a permissão seria um risco à segurança.
No final do encontro, os transportadores e fabricantes dos implementos decidiram que vão recorrer ao governador, Raimundo Colombo, garantiu o presidente da Fetrancesc, Pedro Lopes. Ele disse que os empresários da região de Lauro Müller estão cancelando os pedidos de bitrem, porque não podem usá-los. E isso está preocupando a indústria. O empresário, Valdir Fontanella, garantiu após o encontro que os representantes do segmento pretendem fazer contatos com os políticos e lideranças empresariais para uma mobilização em favor de uma solução. "Não vamos ficar aqui de braços cruzados".
Liberação deve acontecer só em 1º de março
Os transportadores da região Sul estão tendo dificuldades de usar os bitrens para o transporte das cargas, porque não é permitido o tráfego desses veículos na maioria das rodovias estaduais. No dia 1º de fevereiro já houve uma reunião, no Deinfra em Florianópolis para tratar do assunto, quando ficou acertado um novo encontro em Orleans. Na Câmara de Vereadores, que ficou lotada de transportadores, William Wojcikiewicz, apresentou um estudo das necessidades de mudanças nas rodovias estaduais para absorver o bitrem. E depois, falou dos dois trechos liberados para a circulação desses equipamentos.
Meller informou que a partir do dia 1º de março deverá publicar uma portaria com a autorização para os trechos, um de São Ludgero, Braço do Norte, Gravatal e Tubarão e o outro de Orleans, Urussanga, Criciúma, Morro da Fumaça e BR-101.
Apesar desse avanço, já que no primeiro encontro, Meller havia afirmado que a autorização dependeria de um detalhado estudo técnico das condições das rodovias, a preocupação ficou com o tráfego para Lauro Müller e região.
O prefeito Hélio Bunn fez um apelo ao presidente do Deinfra, pois segundo ele, empresas grandes de transporte podem se transferir para outros municípios para viabilizar o negócio. E isso traria prejuízos ao município.
Ramiris Fontanella ocupou a tribuna para protestar e dizer que a decisão do Deinfra era uma volta ao passado. "Hoje não podemos transportar, pois estão tirando Lauro Müller do mapa. Estamos tendo que voltar ao passado, usar as mulas. Mas temos que pagar emplacamentos e impostos."
O Sul não pode mais continuar sendo o mais pobre, reclama empresário
O engenheiro mecânico da Librelato, Ramirez Luciano, apresentou um estudo feito sobre as operações com bitrem e ressaltou as vantagens do uso do bitrem, especialmente no maior volume de carga e no menor impacto no desgaste do asfalto pelo distribuição do peso. Também garantiu que há maior durabilidade dos pneus, em torno de 200 mil quilômetros enquanto o pneu da carreta três eixos é de 120 mil quilômetros. Sem contar a redução do número de veículos. Tudo, isso, segundo os empresários, é o que faz o embarcador exigir carregar em bitrem e não mais em caminhões de menor volume. Essa preferência fez as empresas adquirirem esses implementos. Mas não podem se deslocar.
O empresário, José Carlos Librelato, que fabrica implementos, inclusive bitrens disse que do jeito que o governo quer tratar a questão está deixando o Sul mais pobre do que é. "Somos a parte mais pobre do estado". Reclamou do fato do Deinfra ter dito que vai controlar os acidentes para saber quantos ocorrem com bitrem. "Garanto que os veículos menores fazem mais acidentes. Têm argumentos que não temos que aceitar. Os culpados não somos nós. Nem deveríamos estar aqui. Minha indignação é que o governo está muito longe da população. Onde vamos estar em cinco anos? Onde está o estado? Vamos ter que esperar? Com essa lentidão, não vai dar", afirmou.
Planejamento para uma solução, defende presidente da Fetrancesc
O presidente da Fetrancesc, Pedro Lopes, disse que a entidade e os transportadores vão buscar um planejamento de estado para questão da qualidade das rodovias para o tráfego de bitrens. Ele lembrou que são em torno de 150 mil equipamentos no Brasil e segundo ele, se pode fazer um cronograma de estudos, desde que o fabricante pare de fabricar o veículo. Porque se faz o equipamento, mas o estado não dá condições – rodovias, para usar esses veículos.
No entanto, esse mesmo estado emplaca, cobra todos os impostos e taxas, enfatizou Lopes. Ele também lembrou que são consumidos anualmente dois bilhões de litros de diesel pelo transporte de carga, que representa R$ 538 milhões de impostos, inclusive a Cide que retorna ao estado para ser aplicada em rodovias. Lopes falou ainda, que o estado cobra ICMS sobre R$ 2,08 pelo litro de diesel, mas que na bomba é vendido a R$ 1,90. Um pagamento que não é devido. Todos esses recursos não são suficientes para pensar em uma solução para as rodovias estaduais.
Modelo de rodovia estadual não contempla bitrem
Não houve resposta sobre a pergunta se as rodovias novas estão sendo construídas para absorver os bitrem. Depois o diretor Wojcikiewicz afirmou que o modelo de engenharia e projetos de engenharia usados pelo Deinfra hoje não contempla o bitrem. Mas garantiu que o modelo catarinense é o mais avançado do Brasil. Perguntado quando isso iria mudar, Wojcikiewicz afirmou que a reunião era um começo. E que o Estado poderá criar corredores para bitrens.
O deputado, José Ascari, que representou também o presidente da Frente Parlamentar do Transporte da Assembleia Legislativa, Darci de Matos, informou que a Frente vai fazer uma audiência pública, nos próximos dias para debater o problema com todas as partes e depois tomar iniciativas que possam resolver esse impasse. Participaram do evento o presidente e vice presidente do Sindicato das Empresas de Transporte da Região da Amurel (Setram), Norberto Kock Mendes e Riberto Lima e o vice presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Carga do Sul Catarinense (Setransc), Lorisvaldo Piucco e o diretor-executivo, Claudio Honoratto.
Confira abaixo os depoimentos do prefeito Hélio Bunn, dos empresários Ramiris Fontanella e Lussa Librelato, e do presidente do Deinfra Paulo Meller.
Colaboração: Katherine Dalçóquio da Silva/Imprensa Fetrancesc
[soliloquy id=”387″]