O Tigre estava disposto, mas com um jogador a menos quase todo o segundo tempo, o time catarinense não conseguiu evitar o 1 a 0 para eles.
O Criciúma se segurou como pode, mas não conseguiu segurar o empate sem gols no Morumbi, pelas quartas de final da Libertadores de 1992. O Tigre quer minimizar o prejuízo porque tinha convicção que no jogo de volta, no Estádio Heriberto Hülse, o time teria muita força e plenas condições para vencer e avançar. No entanto, a expulsão do capitão Itá, aos 13 do segundo tempo dificultou a tarefa e a vantagem mínima do adversário ainda era considerada uma situação positiva.
Veja como foi o jogo – e também os bastidores – que seria a penúltima partida do Tigre na competição continental. O capítulo 14 da série “O Tigre descobre a América do Sul” está publicado na edição de fim de semana do jornal A Tribuna. O texto é do jornalista João Lucas Cardoso e a pesquisa do historiador Renato de Araújo Monteiro
Com a bola rolando, o embate era de igual para igual. O Criciúma era tão gigante quanto o São Paulo de Telê Santana. Porém, fora das quatro linhas, a força política do campeão brasileiro era maior. A pressão sobre a arbitragem penderia para o lado mais forte. Eis um dos fatores que poderia interferir no duelo brasileiro pelas quartas de final da Libertadores da América de 1992.
O Tigre estava disposto, e o jogo mostraria que seria possível, a sair do Morumbi com um empate sem gols, para deixar a definição para o caldeirão Heriberto Hülse. No entanto, com um jogador a menos quase todo o segundo tempo, o time catarinense não conseguiu evitar o 1 a 0 para eles.
Resultado que não desanimaria o Criciúma para volta. Isso porque diante do Morumbi o time mostrou que batia de frente com o São Paulo de Telê Santana. Os paulistas marcavam bem o ponta Jairo Lenzi, de onde costumavam sair as jogadas de gol do Tigre. Aos 33, Müller até balançou as redes, mas estava impedido. O atacante vivia a angustia de marcar seu 100º pelo São Paulo. Pelo Criciúma, a boa chance surgiu aos 42 minutos. Sarandí bateu falta na área e Vanderlei testou para o gol. Porém o jovem Alexandre, que substituía Zetti, evitou.
Capitão do Tigre, Itá travava duas batalhas: no jogo e outra enquanto a bola estava em outro setor do campo. Batia boca com Telê e não dava sossego para o árbitro Renato Marsiglia. “No primeiro tempo, levei um cartão amarelo quando nem na jogada eu estava. Quando deu o intervalo, sai discutindo com o Telê. Ele dizia que nosso time só batia e eu dava de dedo nele. Não sei se o árbitro viu”, relembra o camisa 6.
Deve ter visto e aproveitou para mostrar o segundo amarelo e deixar o Criciúma com um a menos aos 13 minutos do segundo tempo. Itá era expulso após chegar junto de Cafu. “Ele fez a maior cera do mundo. Fomos para dividir a bola e ele esperou o choque para se jogar no chão e ficar rolando”, recorda o capitão. O Tigre passava a segurar a placar fechado. “O Criciúma se segura, mas com muita valentia”, descreveu o narrador Galvão Bueno, pela Rede OM.
Vilmar era um gigante na defesa, fazendo uma bela apresentação. Quem também estava bem era o goleiro do Tigre, Alexandre. “Tínhamos nos planos um empate lá. Porém, com um a menos, procuramos contra-atacar e íamos segurando aquela volúpia que tinha o São Paulo”, comenta o eterno camisa um.
A pressão do São Paulo também era direcionada a arbitragem. Num lance em que o Criciúma errou um passe na intermediária. Pintado interceptou lançando rasteiro para Müller mais a frente. Ele saia na cara de Alexandre, mas foi derrubado por Vilmar quando estava dentro da área, ainda que o zagueiro tenha chegado antes. O árbitro Renato Marsiglia assinalou pênalti. No entanto, o bandeira Paulo Jorge Alves salvou o Tigre. Ele já havia levantado instrumento de trabalho indicando o impedimento. O lance gerou discussão entre adversários e arbitragem. Do banco de reservas, Telê Santana ria com ironia e mascava seu chiclete.
Mas, logo depois, aos 37 minutos nem os jogadores e nem a arbitragem puderam evitar que o empate prevalecesse. Pintado tocou em Müller que colocou para Macedo, antes da meia-lua. O meio-campista dominou no peito e com a perna esquerda desferiu o chute. A bola partiu alta e foi caindo certeiro no canto esquerdo de Alexandre. O goleiro do Tigre saltou, porém não o alcançou. “Ele dominou e girou batendo. Só pude utilizar o impulso, não deu tempo para me colocar melhor”, lamenta o goleiro do Tigre.
Com o placar, o Criciúma precisaria ganhar por dois gols na volta, na quarta seguinte. “Apesar de ter perdido, foi um jogo que manteve nossas esperanças porque o 1 a 0 para nós, na volta, levaria a definição para os pênaltis. Tínhamos condições porque ficamos na frente deles na primeira fase e vencemos o São Paulo jogando em casa”, explana Alexandre. Porém, enquanto o São Paulo esperava pelo jogo de volta, na quarta-feira seguinte, o Tigre ainda tinha dois jogos pela frente no Campeonato Brasileiro, ambos em Curitiba (PR), no sábado e segunda-feira.
A Tribuna