Historiadores contam como a inauguração da ponte em 1926 ajudou a transformar a Capital catarinense e os seus entornos .
O principal cartão-postal de Florianópolis vai voltar a ter sua glória neste dia 30 de dezembro, com a reabertura da Ponte Hercílio Luz após décadas fechada. Uma ponte ousada que até hoje é de um estilo pouco visto ao redor do mundo, e que tem uma importância histórica e cultural para a região da Capital catarinense que supera o fator da mobilidade. Mais que ligar a ilha ao continente, a Hercílio Luz foi o ponto alto de uma série de obras que transformaram Florianópolis entre anos 1920 e 1930, impactando pra sempre a cidade e a região metropolitana.
Para o professor do departamento de história da Udesc, Reinaldo Lohn, a ponte foi a “joia da coroa” de uma época em que obras fizeram Florianópolis deixar de ser uma antiga vila colonial e virar uma cidade burguesa, moderna do século 20. Além da Hercílio Luz, Florianópolis teve obras de mobilidade que prepararam a cidade para o movimento de mais automóveis, grandes obras de saneamento como a abertura da “avenida do saneamento” (que viria a ser a Avenida Hercílio Luz, no Centro) e outros avanços na qualidade de vida dos moradores.
Para a época o impacto foi estadual. A melhoria da ligação entre a Capital e o conjunto do Estado foi favorecida, com o passar das décadas o impacto se restringiu muito mais ao regional e local. É uma questão de proporção. o Estado não tinha 1 milhão de habitantes na época. Essa melhoria vai favorecer a integração da Grande Florianópolis com municípios no pé da Serra como Santo Amaro da Imperatriz, que vão ter mais acesso para o mercado consumidor da Capital. Há uma circulação de caminhões, ônibus, uma densidade e uma dinamização que impactou bastante naquele momento da história.
Esse maior movimento entre as cidades vizinhas e a ilha possibilitou um crescimento do comércio de Florianópolis. Lohn destaca após a abertura da ponte a construção de novas edificações na região central da ilha cresceu, assim como o investimento em infraestrutura. Isso aumentou o custo de vida da região e alterou a dinâmica do comércio local, que até então girava especialmente no eixo das ruas Conselheiro Mafra e João Pinto. Após a Hercílio Luz, a Rua Felipe Schmidt foi alargada para receber o tráfego de veículos e começou a receber esse comércio, que acabou mudando de eixo para o outro lado da Praça XV, que passou na mesma época por um “embelezamento” que a deixou parecida com os moldes atuais.
“A ponte tem um impacto econômico e cultural significativo, pois muda a densidade urbana de Florianópolis e aumenta o comércio. As pessoas ganham mais acesso, compram mais, investem mais. Era uma época em que Blumenau era confundida como capital de Santa Catarina até por jornais de São Paulo, pois era a cidade com mais contato cultural com o resto do país e até a Europa. Florianópolis começa a mudar nesse sentido a partir da inauguração da Ponte Hercílio Luz” lembra o professor de história.
Ao incentivar o transporte rodoviário, a ponte também alterou outras dinâmicas da economia da Grande Florianópolis. Conforme a historiadora Norma Bruno, a obra ajudou a tirar a importância que o porto tinha na ilha:
“As pessoas chegavam com mais facilidade, e com isso o porto, que era a vida da cidade, vai gradativamente ao longo desse período perdendo a importância, porque junto de Florianópolis, no Brasil começava a crescer o transporte rodoviário. E a Hercílio Luz virou a grande estrela desse momento na cidade, em SC e até no país” conta.
A historiadora lembra que a Hercílio Luz era tão importante que, nas visitas oficiais, era a “grande atração” em Santa Catarina:
“Em 1927 o príncipe Dom Pedro (de Alcântara), filho da Princesa Isabel, vem com a esposa para Joinville e passa pela Capital. Em Florianópolis ele é levado a conhecer a ponte. O presidente eleito Washington Luís passou um dia em Florianópolis, veio de navio, e foi levado até Coqueiros, onde atravessou a ponte de automóvel. A Hercílio Luz era o que a gente tinha de melhor pra mostrar” lembra Norma.