Os relatos dos profissionais de saúde chocam. Trazem um misto de exaustão, indignação e sensação de impotência.
Falhamos em conter o caos. Não há outra maneira para relatar o cenário de colapso que Santa Catarina tem vivido ao longo dos últimos dias, com UTIs lotadas e centenas de pacientes na fila de espera por uma vaga de terapia intensiva.
Os relatos dos profissionais de saúde chocam. Trazem um misto de exaustão, indignação e sensação de impotência. Ouvi de uma médica, esta semana, que gostaria que as autoridades vissem o que é ver um paciente asfixiado, com falta de ar, e não ter o que fazer. Há improviso, há choro, há desespero.
Um drama que é apenas parcialmente conhecido, já que os dados oficiais trazem apenas os muitos pacientes com Covid-19. Outros milhares, que frequentam as listas de espera por procedimentos cirúrgicos e outros tratamentos complexos, sofrem com a suspensão de atendimentos. É a espera angustiante para retirada de um tumor, é o receio de necessitar de uma internação de emergência, é o convívio com a dor.
O colapso foi desde sempre o principal risco da Covid-19 ao sistema de saúde apontado pelos especialistas. Exemplos trágicos se repetiram à exaustão, e sabíamos o que ocorreria se não conseguíssemos controlar a doença. Os pesquisadores alertaram para o perigo do surgimento de mutações devido à transmissão desenfreada. Mas fizemos ouvidos moucos.
Santa Catarina tem uma das mais qualificadas equipes de cientistas do país. É lar de uma das mais conceituadas universidades federais brasileiras. Tem um braço e representantes de peso no Observatório Covid-19, reconhecido nacionalmente. Mas dispensou dados, gráficos, alertas e a oferta de apoio feita pela Sociedade Brasileira pelo Progresso da Ciência (SBPC).
Deixar o vírus ‘à vontade’ era o caminho mais cômodo para nossas autoridades, ocupadas em evitar as decisões impopulares. O neurocientista Miguel Nicolelis, que entrevistei para o NSC Total, relatou como a sequência de eleições, temporada e Carnaval empurraram todo o país para uma tragédia simultânea. Alertas não faltaram: seria diferente se não tivéssemos desprezado a ciência.
Favor
Pressionado pela falta de recursos, o ministro da Infraestrutura, Tarcisio Gomes de Freitas, recheou de elogios a confirmação de que o Estado vai injetar R$ 50 milhões nas obras travadas da BR-163, além dos R$ 200 milhões anunciados para a BR-470. “Inédita”, “histórica” e “salvadora” foram alguns dos adjetivos despejados sobre a proposta pelo ministro. O fato é que Moisés fez um grande favor ao governo federal.
Privilégio
Aliás, já é lendária em Brasília e a insistência do governador Carlos Moisés na posição de ‘anti-privilégios’ e ‘gente como a gente’. O governador mandou retirar até a placa especial do carro oficial do governo que fica na Secretaria de Articulação Nacional.
CURTAS
– Em um ano de pandemia, o Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) instaurou mais de 4,4 mil procedimentos relacionados ao combate à Covid-19.
– Marcado para 26 de março, o julgamento do impeachment de Moisés tem tudo para ocorrer em meio ao período crítico da pandemia.
– No Centro Administrativo o entendimento é que, embora o cenário seja favorável, a possibilidade de afastamento ainda assombra o governador.
Com informações do site NSC Total