Política

Ataque nos EUA chega a 21 vítimas, e Biden pede maior restrição às armas

Presidente americano, que estava em voo durante ataque, fez discurso emocionado após o ocorrido

Divulgação

As autoridades dos Estados Unidos já confirmam 21 vítimas fatais do ataque a tiros ocorrido em uma escola de Uvalde, cidade no sul do Texas, nesta terça-feira (24). É o pior massacre em uma instituição de ensino infantil nos EUA em quase dez anos.

Na ocasião, um homem de 18 anos parou seu carro, desceu armado, entrou em uma escola de ensino fundamental e matou a tiros ao menos 19 crianças e 2 adultos. Na cidade, três de cada quatro moradores são de origem latina.

O atirador foi identificado como Salvador Ramos. Por volta das 11h30 (13h30 em Brasília), ele entrou na escola com uma pistola e disparou contra os alunos e a professora — há a suspeita de que ele portasse também um rifle. Em seguida, foi morto pela polícia, segundo o governador do Texas, Greg Abbott.

Inicialmente, o republicano havia informado 14 vítimas entre as crianças, mas horas depois um porta-voz do Departamento de Segurança Pública do estado confirmou a morte de 19 crianças e 2 adultos.

Dois agentes que atenderam a ocorrência ficaram feridos, um dos quais foi o responsável pela morte do atirador, e hospitais da região tratavam ao menos dois feridos, incluindo uma mulher de 66 anos e uma menina de 10, em estado crítico.

O presidente Joe Biden usou o caso para, em um discurso emocionado, voltar a criticar o lobby pró-armas no país e a defender o controle no acesso a armamentos.

— Estou cansado disso. Por que? Por que estamos dispostos a viver com essa carnificina? Por que continuamos deixando isso acontecer? — disse, em uma fala de sete minutos.

Não são conhecidas ainda as motivações para o ataque, e a identidade das vítimas não foi revelada — o jornal The New York Times apontou que um dos adultos era a professora Eva Mireles, morta ao tentar defender seus alunos.

Segundo a polícia as investigações ainda estão no início, mas tudo indica que Ramos agiu sozinho. Ele era morador de Uvalde, cidade onde cursou o ensino médio. O condado tem 24 mil habitantes e fica a cerca de 100 quilômetros da fronteira com o México.

O senador estadual Roland Gutierrez disse, em entrevista à CNN, que o jovem teria atirado na avó em outro local e fugido da cena do crime pouco antes de atacar a escola. O político afirmou ainda que o atirador teria obtido as armas em seu aniversário de 18 anos e publicado ameaças a crianças em redes sociais.

A escola atacada, chamada Robb, tem pouco menos de 600 alunos matriculados. Os pais dos alunos foram orientados a não se aproximar do local para tentar buscar seus filhos e a se reunir em um centro comunitário para obter informações. A segurança do local foi feita inicialmente com ajuda de guardas da patrulha de fronteiras.

As instituições de ensino dos EUA vivem os últimos dias de aula antes das férias de verão. O ano letivo terminaria na Robb nesta quinta-feira (26), com uma festa de formatura programada para a sexta (27). Por conta do ataque, não haverá mais aulas na instituição por tempo indeterminado e a graduação foi adiada.

Biden estava em um voo no momento do ataque, voltando da Ásia. No começo da noite, fez um discurso emocionado na Casa Branca, no qual alternou momentos de tristeza com pedidos de ação.

— Quantas crianças testemunharam o que aconteceu e viram seus amigos morrerem como se estivessem em um campo de batalha? E os pais nunca serão os mesmos. Perder um filho é como ter um pedaço de sua alma arrancado — disse. Uma filha pequena do presidente morreu em um acidente de carro em 1973.

— A ideia de que um garoto de 18 anos possa comprar dois rifles é errada. Fabricantes estão há décadas oferecendo agressivamente armas que geram enormes lucros. Quando, em nome de Deus, vamos nos levantar e enfrentar o lobby das armas? — questionou Biden, que falou com lágrimas nos olhos em vários momentos.

— Quando me tornei presidente, torci para que não precisasse fazer isso de novo — afirmou. A cena lembrou a do então presidente Barack Obama ao falar sobre o massacre de Sandy Hook, em 2012.

O ataque em Uvalde ocorreu dez dias depois de outra ação similar. Em 14 de maio, um homem de 18 anos matou dez pessoas negras na cidade de Buffalo, no estado de Nova York.

O atirador, Payton Gendron, abriu fogo contra clientes de um supermercado, numa ação transmitida ao vivo pela internet — ambiente no qual também publicou um manifesto para justificar o ataque, baseado em teorias racistas, como a de que os negros estariam tomando o lugar dos brancos na sociedade.

O caso desta terça foi o maior ataque à uma escola primária desde Sandy Hook, em Connecticut. Naquela ocasião, um homem de 20 anos matou 26 pessoas, sendo que 12 eram crianças com idade entre seis e sete anos.

Novos pedidos por restrições no acesso a armas nos EUA foram feitos nesta terça, após a notícia do massacre no Texas. “Outro ataque a tiros. E o Partido Republicano não fará nada sobre isso. Que inferno somos nós se não conseguimos manter nossas crianças seguras. Isso pode ser prevenido. Nossa inação é uma escolha”, publicou Gavin Newsom, governador democrata da Califórnia, em uma rede social.

Ken Paxton, republicano que é procurador-geral do Texas, sugeriu que uma saída para evitar ataques assim seria armar os professores.

— Agentes geralmente não conseguem chegar a tempo para conter um ataque. Temos que fazer mais coisas nas escolas, ter pessoas no local treinadas para reagir — disse, em entrevista ao canal Newsmax.

O estado foi cenário de outro ataque em 2019, quando um atirador matou 23 pessoas em um supermercado em El Paso, cidade que faz fronteira com o México. O autor do crime, que tinha 21 anos na época, havia publicado um manifesto contra os imigrantes latinos.

O porte de armas é garantido pela Constituição, mas muitos especialistas, ativistas e políticos defendem maior controle de acesso, como medidas para impedir que pessoas com problemas psicológicos ou histórico de violência tenham acesso a armamentos de alto calibre.

No entanto, políticos ligados ao Partido Republicano costumam barrar medidas nesse sentido, pois veem o direito a se armar como um símbolo de liberdade a ser preservado.

Enquanto isso, indicadores têm mostrado que o número de ataques a tiros vêm aumentando. Dados do jornal Education Week apontam que 2021 foi o ano com mais tiroteios em colégios americanos desde 2018, quando o veículo começou a monitorar o assunto. Foram 28 episódios com ao menos uma pessoa morta ou ferida contra dez em 2020, quando as escolas estavam fechadas devido à Covid, e 24 em 2019 e 2018.

O caso recente de maior repercussão se deu em dezembro, em uma escola de Oxford, cidade próxima a Detroit, em Michigan. ​Quatro estudantes, com idades entre 14 e 17 anos, morreram e outros seis ficaram feridos, além de um professor. O autor do ataque, um jovem de 15 anos, foi acusado de homicídio e ato terrorista e poderá passar o resto da vida na prisão, pois é processado como se fosse maior de idade.

Na segunda (23), relatório divulgado pelo FBI, a polícia federal americana, mostrou que o número de incidentes provocados por atiradores dobrou nos EUA nos últimos três anos. O documento registra que, em 2018, foram contabilizadas 30 ações perpetradas por um ou mais indivíduos com a intenção de matar em áreas populosas. Em 2021, esse número chegou a 61.

A velocidade de crescimento dos episódios também subiu. Em 2019, a cifra se manteve estável em relação ao ano anterior, em 30 casos -em 2017, foram 31-, mas subiu para 40 em 2020, aumento de 33%. Na sequência, houve um salto de 52,5% nos registros em 2021, de acordo com o relatório do FBI.

Reportagem de Rafael Balago, com informações do NSCTotal

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