Secretário do Estado da Fazenda de Santa Catarina desde 2013, Antonio Gavazzoni deixou o governo do Estado nesta segunda-feira (22). A decisão ocorreu após uma conversa com o governador Raimundo Colombo (PSD) e o agora ex-secretário deve falar sobre a saída do cargo à tarde, em uma entrevista marcada com jornalistas catarinenses.
Antes disso, ele divulgou uma nota oficial (leia o conteúdo completo no fim do texto) em que diz não ter mais “forças para seguir comandando os homens e mulheres de grande capacidade técnica que pertencem aos quadros da Fazenda”. A vaga será assumida por Almir Gorges, ex-secretário-adjunto da pasta e funcionário de carreira do governo do estado.
Gavazzoni deve anunciar que foi uma decisão pessoal, com apoio de Colombo e do presidente estadual do PSD, Gelson Merisio. Formado em Direito, ele deve atuar como advogado a partir de agora.
A saída do até então homem forte de Colombo no governo ocorre em meio à crise política nacional que também chegou a SC, com as citações do governador e do próprio secretário em delação premiada de diretores da JBS. Conforme os delatores, ele teriam recebido propina no valor de R$ 10 milhões. Os dois negam participação em qualquer crime.
Citação em delações
Conforme o diretor da JBS, Ricardo Saud, Colombo e Gavazzoni teriam recebido ao menos R$ 10 milhões da empresa. Na delação, realizada em maio deste ano, o executivo conta que os valores, considerados pela PGR como propina, foram para a campanha de 2014.
A empresa teria intenção de comprar a Casan através de um braço de construção civil da gigante do setor alimentício. Encontros entre Joesley Batista, sócio da JBS, e o governador teriam ocorrido em meados de 2013, mesmo ano que em que houve a compra da Seara. As delações já foram homologadas pelo STF.
Também há citação do ex-secretário em delações da Odebrecht. De acordo com delatores da empreiteira, Colombo e homens de sua confiança — Gavazzoni entre eles —, teriam pedido um total de R$ 17,1 milhões em doações não contabilizadas (caixa 2) para representantes da empresa entre 2010 e 2015. O destino dos valores seria campanhas do PSD catarinense, segundo relatos de colaboração premiada de dois ex-executivos da Odebrecht Ambiental, braço de saneamento da construtora.
“Supersecretário” de Colombo
Considerado um “supersecretário” pelos governistas, Gavazzoni sempre foi um dos homens fortes de Colombo, que o consulta sobre os mais diversos assuntos. Teve participação fundamental em programas como o Plano de Gestão da Saúde, pacote para melhorar a performance dos hospitais públicos do Estado, o gerenciamento do Fundo de Amparo aos Municípios (Fundam), e o Programa de Demissão Voluntária Incentivada lançado em 2013.
Também foi um dos responsáveis pela Tese de SC, que questionava junto ao STF os critérios da cobrança da dívida de SC com a União e abriu caminho para o debate sobre a renegociação da dívida dos Estados.
Perfil
Natural de Xanxerê, Oeste catarinense, Antonio Marcos Gavazzoni é formado em Direito pela Universidade do Oeste de Santa Catarina (Unoesc), mestre e doutor em Direito Público pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Foi Procurador Geral do Município de Chapecó e professor na Unoesc, na Escola Superior da Magistratura de Santa Catarina (Esmesc) e na Universidade Paranaense (Uniapar).
De 2007 a 2008 foi secretário de Estado da Administração e entre dezembro de 2008 e março de 2010 foi pela primeira vez secretário de Estado da Fazenda. Em janeiro de 2011 assumiu as presidências da Celesc Holding e suas subsidiárias integrais, Celesc Distribuição e Celesc Geração, onde permaneceu até dezembro de 2012. Reassumiu a Fazenda em 2013.
Nota oficial de Gavazzoni
“Nesse tempo em que fui secretário de Estado e presidente de estatal me concentrei sempre em enfrentar problemas e crises. Nunca fui seduzido por assuntos que gerassem publicidade positiva, como inaugurações ou festas políticas.Zelei cada dia pelo interesse público, trabalhei dando toda minha força, energia, conhecimento e capacidade para enfrentar grandes problemas públicos, desde a crise econômica e climática de 2008, depois à frente do grupo Celesc e, sobretudo, na Secretaria da Fazenda nestes últimos anos da pior crise econômica que o país e o Estado já viveram em toda sua história.
Vencemos por não aumentar impostos nem atrasar salários.Se isso tivesse ocorrido, a Segurança, a Saúde e a Educação teriam entrado em colapso, como aconteceu em vários estados. O progresso econômico e social estaria severamente comprometido.Porém, apesar de todo meu entusiasmo pelas missões públicas, neste momento não tenho forças para seguir comandando os homens e mulheres de grande capacidade técnica que pertencem aos quadros da Fazenda.Não vou descansar, mas me dedicar a mostrar a cada pessoa que confiou em mim ao longo desses 11 anos, que nada do que foi dito por criminosos confessos é verdadeiro.
Todos os encontros narrados foram presenciados por terceiros que testemunharão para esclarecer a verdade. Os heróis brasileiros em que se transformaram os Procuradores da República e os Magistrados sabem e saberão julgar aqueles com quem lidam. Esses criminosos confessos, que buscam a qualquer preço montar versões que justifiquem a troca de penas alongadas por liberdade e vida milionária no exterior, não podem vencer.
Na nossa vida tudo tem um limite. A minha enérgica disposição para enfrentar problemas no Estado encontrou o seu: os dois fatos envolvendo questões eleitorais, injustas e improcedentes quando citam meu nome e, por isso, doloridas. Abro mão do foro privilegiado porque nada temo. Agradeço ao governador Raimundo Colombo pela confiança e amizade recíprocas, bem assim a todos os colegas de Governo. Tenho Deus por testemunha de minhas palavras e, mesmo passando por tudo isso, só agradeço às amizades e simpatias que conquistei”.
Na tarde desta segunda-feira, o governador Raimundo Colombo se manifestou sobre a decisão de Gavazzoni em uma declaração compartilhada em áudio para a imprensa:
“É um momento de muita tristeza porque está se cometendo uma injustiça. E o resultado é a saída do Gavazzoni do governo por uma iniciativa dele. Ele foi uma das pessoas mais brilhantes, mais inteligentes, mais dedicadas. Era sempre um dos primeiros a chegar e um dos últimos a sair. Uma colaboração extraordinária com uma eficiência incrível. Nós resolvemos problemas seríssimos nesse período, como por exemplo na renegociação da dívida (dos Estados), onde houve uma liderança sobre todos os Estados do Brasil. Isto equilibrou muito, ajudou a equilibrar nossas contas.
O Brasil hoje discute a Reforma da Previdência, nós já fizemos isto aqui e o Gavazzoni foi um protagonista importante nesse processo. Fizemos lá em 2012 um Plano de Demissão Incentivada que trouxe um equilíbrio para as contas e a sua correção, sua dedicação, a contribuição ao Estado de Santa Catarina eu preciso ressaltar nessa hora, destacar. Além de suas qualidades humanas, a gente se tornou amigos. Gosto muito do Gavazzoni, o admiro profundamente e lamento que esta tenha sido sua decisão. Por outro lado, entendo que a gente precisa cuidar da parte jurídica, dar atenção a isto. Ele é um advogado brilhante e eu respeito sua decisão, mas lamento muito porque ele foi uma das pessoas que mais contribuiu com o governo e com o Estado. Tem um potencial extraordinário e eu insisto que ele não abandone a vida pública e continue contribuindo com Santa Catarina”.
Com informações do site ClicRBS