Saúde

Alesc debate falta de leitos de UTI em SC e Saúde anuncia estratégias para suprir alta demanda

Aumento da demanda causou colapso no atendimento em UTIs neonatais e pediátricas do Estado

Foto: Divulgação/Governo de SC

Audiência pública realizada pela Comissão de Saúde da Alesc (Assembleia Legislativa de Santa Catarina) na manhã desta terça-feira (21), tratou da falta de leitos de UTI pediátricos e neonatais disponíveis na rede pública de saúde de Santa Catarina.

O debate foi proposto pelo deputado e médico Vicente Caropreso (PSDB). Durante a audiência, a Secretaria de Estado da Saúde anunciou estratégias emergenciais para suprir a alta demanda dos leitos de UTI pediátricos e neonatais.

No dia 3 de junho, o governo do Estado decretou situação de emergência em saúde para agilizar a abertura de mais leitos e a contratação de profissionais.

Nesta terça, o painel do governo do Estado mostra que a taxa de ocupação de leitos de UTI neonatais é de 96,59% e de leitos de UTI pediátricos é de 96,88%.

Déficit na atenção básica

A presidente da Sociedade Catarinense de Pediatria, Nilza Maria Medeiros Perin, trouxe à tona a situação crítica das UTIs infantis. Segundo ela, o descaso e a falta de planejamento perduram por anos.

“O aumento de infecções respiratórias típicas da estação foi o estopim. Outro fator é que durante a pandemia, as crianças não foram à escola e ficaram menos doentes. Agora, houve um boom. Os pacientes têm procurado os hospitais e chegando com mais gravidade”, conta.

A médica diz que o problema começa já na atenção básica de saúde. “O atendimento básico está sendo feito, em sua maioria, por médicos recém formados ou enfermeiros. Retiraram pediatras dos postos de saúde da atenção básica. Consequentemente, as crianças acabam procurando serviços de emergência e chegam mais debilitadas”, diz.

Ela acrescenta: “todos que trabalham na saúde estão esgotados. Precisamos internar e não tem vagas. Há pacientes entubados em emergência, em locais impróprios. Há falta de planejamento. Pedimos providências não só a curto, mas a médio e longo prazo”.

O presidente do Simesc (Sindicato dos Médicos do Estado de Santa Catarina), Cyro Veiga Soncini, diz que as UTIS neonatais e pediátricas estão vivenciando uma alta demanda há anos.

“Não basta anunciar que vai abrir leitos. Tem que de fato abrir os leitos. Contratar mais médicos e regionalizar os leitos de UTI. Se não há leitos em determinada região, tem que levar para outro local”, comenta.

O presidente do CRM/SC (Conselho Regional de Medicina de Santa Catarina), Eduardo Porto Ribeiro, diz que a crise na Saúde é sintoma de um sistema que está sempre trabalhando no limite e numa situação de aumento da demanda, acaba entrando em colapso.

“A longo prazo há um problema crônico de planejamento. O aumento substancial da necessidade leitos é somente a ponta do iceberg. Há um déficit de atendimento na rede de atenção básica primária da gestante”, explica.

Aumento das internações

O superintendente de Vigilância em Saúde, Eduardo Macário, aponta que a ocupação de leitos de UTI envolve um ciclo complexo que vai desde a concepção da criança e que a saúde materna foi prejudicada ao longo da pandemia da Covid-19.

Segundo ele, não se trata apenas de uma situação de ampliação de leitos de UTI neonatais e pediátricos, mas envolve toda a cadeia da gestação até os primeiros anos da criança.

“Precisamos atacar o problema principal, mas é preciso ver o contexto e evoluir na assistência durante a gestação e o parto”, aponta. Macário também mencionou que a sociedade está vivendo uma nova onda de infecções causadas pela Covid-19.

“Já vivemos várias ondas provocadas por variantes de preocupação que sustentaram a pandemia ao longo dos anos. O que temos visto agora, mais recentemente, é uma nova curva de infecções por causa de novas variantes que estão disseminadas no Estado e boa parte dos vírus têm acometido de formas diferenciadas, principalmente, por conta da Covid longa e populações mais vulneráveis”, disse.

Conforme Macário, o Estado tinha em média 83 internações por semana de crianças de 0 a 4 anos por SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave). Entre o final de abril e início de maio houve um aumento de 40% na taxa de internações de crianças dessa faixa etária devido à síndrome.

Sendo assim, o sistema de saúde teve que absorver em menos de uma semana uma grande carga de novos pacientes.

Leitos conforme parâmetro federal

A superintendente de Planejamento em Saúde de Santa Catarina, Carmem Regina Delziovo, explicou que o Estado segue o panorama de necessidade do Ministério da Saúde que habilita novos leitos de UTI com recursos federais conforme o quantitativo do número de nascidos vivos.

O parâmetro estadual hoje é de dois leitos de UTI neonatal a cada mil nascidos vivos. Assim, seriam necessários 192 leitos de UTI neonatais, 192 leitos de cuidados intermediários e 96 leitos canguru, que é quando a mãe fica junto com o filho.

Hoje, o Estado conta com 244 leitos de UTI neonatais, sendo 166 pelo SUS e 78 privados; 113 leitos de cuidados intermediários, sendo 84 pelo SUS e 29 privados; 28 leitos de cuidado canguru, sendo 20 pelo SUS e 8 privados;

“A nossa realidade é muito próxima da necessidade de acordo com o parâmetro imposto pelo Ministério da Saúde”, defende Carmem.

Estratégias

A superintendente destacou estratégias que serão adotadas pelo Estado nos próximos meses para fortalecer a rede de atenção à saúde.

“Há portarias públicas pelo Estado que ampliam a possibilidade de leitos de UTI com recursos estaduais mediante convênios. Além disso, vamos ampliar o atendimento nas unidades de pronto-atendimento pediátricas. O Estado também está repassando recursos a 164 municípios para que contratem médicos pediatrias”, antecipa.

Confira algumas estratégias:

  • Estruturar novos leitos de UTI pediátrica e neonatal nos hospitais filantrópicos ou municipais repassando recursos estaduais, por meio de convênio com a instituição hospitalar, para locação e aquisição de equipamentos e materiais específicos para essa finalidade;
  • Custear mediante convênio, com a instituição hospitalar, os novos leitos de UTI pediátricos e neonatais disponíveis para a regulação estadual no valor de R$ 2 mil/dia independente da ocupação do leito;
  • Repassar recursos para cofinanciar ampliação do horário de atendimento nas unidades básicas de saúde na atenção primária. O recurso deverá ser utilizado para custeio de horas trabalhadas de profissionais de saúde na ampliação de carga horária de atendimento da unidade básica de saúde e para custeio da manutenção desta atividade assistencial;
  • Recomenda a intensificação das ações voltadas à diminuição de síndrome respiratória aguda na população catarinense. Intensificar as campanhas de vacinação com foco na criança, adolescentes, gestantes, puérperas e portadores de comorbidades, promovendo a busca ativa desse público para completar o esquema vacinal;
    Promover a aquisição de medicamentos, equipamentos e materiais permanentes necessários para reforço no atendimento à população.

Novos leitos

O governo do Estado diz que nos últimos 15 dias foi realizada a abertura de mais 47 leitos para atender à população catarinense, sendo que, destes, 20 dedicados ao atendimento neonatal e pediátrico.

Buscando suprir a demanda de forma imediata, além da ampliação da rede SUS, o Estado está realizando a compra de todos os leitos disponíveis na rede privada que, por conta da demanda, também está sofrendo pressão na assistência.

Além disso, a SES diz que está pactuando junto à rede privada a ampliação dos leitos de UTI.

Nesse primeiro momento, já foram abertos seis novos leitos de UTI neonatal, sendo um no Hospital Infantil Joana de Gusmão e cinco no Hospital Hélio dos Anjos Ortiz, em Curitibanos; oito de cuidados intermediários pediátricos, no Hospital Infantil Joana de Gusmão; e seis leitos de UTI pediátrica, no Hospital Pequeno Anjo, em Itajaí.

A implementação dos novos leitos prevê, ainda, 62 leitos infantis e mais 5 adultos. No próximo período ainda estão previstas as aberturas nas seguintes unidades:

  • Hospital e Maternidade Jaraguá do Sul, com 6 de UTI pediátrica;
  • Hospital Azambuja, em Brusque, com 10 de UTI neonatal e 2 de UTI pediátrica;
  • Hospital Seara do Bem, em Lages, com 5 de UTI pediátrica;
  • Hospital Governador Celso Ramos, Florianópolis, com 4 UTI adulto;
  • Hospital Regional de Araranguá, com 5 de UTI neonatal;
  • Hospital e Maternidade Carmela Dutra, Florianópolis, 3 leitos intermediários canguru;
  • Hospital Infantil Jesser Amarante Faria, em Joinville, com 10 de UTI pediátrica;
  • Hospital Regional Alto Vale, em Rio do Sul, com 4 de UTI neonatal;
  • Hospital Materno Infantil Santa Catarina, em Criciúma, com 7 de UTI neonatal;
  • Hospital Regional de São José, com 10 de UTI neonatal e 1 de UTI adulto.

Com informações do ND+

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