A professora e colunista Ana Maria Dalsasso critica o "funk" e defende o investimento na educação das crianças para produção cultural no país.
Vivemos uma época em nosso país em que tantas coisas nos envergonham: corrupção, violência, caos na educação, na segurança, na saúde, dentre tantas outras anormalidades, mas hoje vamos refletir sobre algo tão vergonhoso quanto nojento e desrespeitador que está ao alcance de todos, em especial das crianças e adolescentes, pela forma como a mídia se dedica à divulgação: o verdadeiro lixo da música brasileira.
O “funk” nos envergonha e revolta, pois é uma verdadeira apologia à prostituição, às drogas, ao crime, revestida de um palavreado obsceno num ritmo repetitivo e abusado.
Sabemos que a música é uma arte e perpassa o mundo inteiro tendo o poder de influenciar na sociedade, pois o fato de cantar ou escutar qualquer canção pode causar efeitos emocionais dos mais variados numa pessoa, além de ter o poder de desencadear movimentos sociais, desenvolver senso crítico, mudar posturas. Daí a importância de se produzir músicas com qualidade, pois pode tanto educar quanto deseducar. E então questionamos: como está a produção musical no Brasil? Uma vergonha, um caos, um verdadeiro lixo que em nada contribui para o desenvolvimento cultural do país.
Não vamos generalizar, porém somos conscientes que pouco se aproveita do que se produz em música em nosso país, mas me atenho aqui a falar especificamente do chamado “funk” que nos envergonha e revolta, pois é uma verdadeira apologia à prostituição, às drogas, ao crime, revestida de um palavreado obsceno num ritmo repetitivo e abusado.
Boa parte de músicas brasileiras são de baixa qualidade, mas muitas se superam pela inutilidade.
Certamente o que aqui se afirma sobre essa febre do momento vai de encontro à opinião de muitos jovens que se envolvem pelo ritmo, mas não analisam as consequências e verdades escondidas nas letras. Há quem defenda porque diz refletir a realidade dos morros ou comunidades onde vivem, mas por que não batalhar pelo respeito que lhes falta, ao invés de incentivar a prostituição, tratar a mulher como objeto sexual, enaltecer facções criminosas, deturpar a sexualidade, incentivar a prática do estupro?
Não há como negar que boa parte de músicas brasileiras são de baixa qualidade, mas muitas se superam pela inutilidade. No entanto o que preocupa é a manipulação da mídia levando ao declínio cultural, em especial as classes mais pobres. Estamos agora com a tal “Que tiro foi esse”, uma imbecilidade, tocada e cantada aos quatro cantos do país, televisão patrocinando a exibição de uma jovem que expõe o corpo na busca de seus minutos de fama, com a desculpa de retratar a realidade que vive. É apenas um exemplo da degradação da cultura brasileira.
O país precisa investir em produção cultural de verdade para mudar a cultura da sociedade, e isso começa na educação das crianças
Estão longe os tempos em que boas músicas eram produzidas, com verdadeiro cunho cultural, pois o artista tinha de saber compor e tocar. Era mais elitizado para não descaracterizar o verdadeiro sentido da arte musical. Os tempos mudaram para pior. O que fazer para pôr fim a este lixo que deteriora a cultura do país?
É preciso resgatar a boa música, o país precisa investir em produção cultural de verdade para mudar a cultura da sociedade, e isso começa na educação das crianças. Incentivar a criança a valorizar e a trabalhar com a música e outras artes, é a única forma de propiciar uma revolução na cultura. É um desafio em longo prazo, mas é preciso começar urgentemente, porque a ignorância de um povo reflete na sua qualidade de vida.