Esporte

“Um fenômeno chamado Criciúma Esporte Clube”

Calma. Antes de pegar uma pedra na mão para jogar no blogueiro, pare por um instante, relaxe. Leia o texto. Mesmo sem ter craques mirabolantes, com certo jejum de títulos e uma má fase bem recente, o Criciúma Esporte Clube é um fenômeno nacional. Repito: não é pelo futebol bonito. É pelo heroísmo em que o clube se mantém vivo. Porque convenhamos meus amigos: manter um clube de futebol no Brasil é muito caro. Não é tarefa para qualquer um, nem para qualquer cidade. E manter um clube entre as principais divisões do Campeonato Brasileiro então…coisa de maluco!
O Brasil tem 26 estados e um distrito federal. São 5.553 municípios e 27 capitais ao todo. Destas 27 capitais, somente nove tem clubes de futebol na primeira divisão do campeonato brasileiro. Quinze capitais sequer tem times na série B do nacional, sendo que destas 15, pelo menos 11 não tem clubes nem na terceira divisão. Vejam bem: estamos falando das capitais, que são os centros administrativos de cada estado. Porém, há que se admitir que algumas capitais não têm realmente um potencial econômico elevado. Ser uma capital é uma condição de vantagem, pois atrai maior população. Porém, nem toda capital é superpopulosa ou rica. Temos cidades de interior que se destacam tomando posições importantes em seus estados. Um exemplo clássico é Joinville, que não é a capital de Santa Catarina, mas é a cidade mais populosa e mais rica do estado.
Vemos muitas cidades mais ricas e mais populosas do que Criciúma, com grande potencial para o futebol, mas que não prosperaram neste esporte. Cito o emblemático caso de Blumenau: uma série de dissidências e brigas internas impediu a bela cidade de ter um clube de ponta em Santa Catarina. Vamos também outros exemplos do sul do Brasil: Londrina, Cascavel, Maringá, Ponta Grossa, Santa Maria. São as maiores cidades do interior do sul, mas sem representatividade do campeonato brasileiro de futebol, em nenhuma divisão.
Então vamos refletir: Criciúma não é capital, não é grande, não é populosa, mas tem um clube de futebol que contraria todas as projeções, fugindo à lógica. Em uma cidade com menos de 200 mil habitantes, tem um time que figura entre os 40 melhores do país. Sendo que por várias oportunidades já figurou entre os 20 melhores. E não é tudo. O notável clube de futebol do interior de Santa Catarina, sem aeroporto, sem BR duplicada, não se limita às participações, que convenhamos, pelo contexto já seriam um feito brilhante. Obteve os maiores êxitos do futebol catarinense, sendo campeão de três competições nacionais, sendo uma delas de grande importância. Vamos deixar a participação na Libertadores como um plus à estas façanhas, que jamais foram sequer repetidas por outros clubes do mesmo estado.
O Criciúma teve a sorte de nascer em uma terra de apaixonados pelo futebol. Gente que não mede esforços para representar sua terra, a qualquer custo, sob vários sacrifícios. É uma bandeira levantada por todos. Nos momentos delicados e decisivos, nunca houve o abandono. Pelo contrário: se fizeram as mobilizações necessárias para unir forças em prol de um filho querido. Uma cidade com menos de 200 mil habitantes, com um clube que teve mais de 10.000 sócios em uma Série B. Que colocou quase 33.000 pessoas em sua lotação máxima. Uma torcida que está presente em todos os jogos, inclusive fora de casa. Uma torcida que acompanha treinos, aos milhares. Que deixa o adversário intimidado, desde a madrugada, perturbando o seu sono. Que acompanhou suas derrotas com lágrimas nos olhos, mas com a gana e a vontade da superação.
O Criciúma é notável. E grande. Tão grande quanto o coração de cada torcedor do Tigre. Porque são os torcedores que levaram o clube à suas conquistas, e o manterão sempre vivo, a qualquer custo, nem que seja na marra, na força, na união do povo. É uma paixão tão intensa que contagiou as cidades irmãs, nos arredores, e cativou paixões em Santa Catarina, e até fora do estado. Gente que torce para o Criciúma do Rio de Janeiro, do Piauí, sem ter nunca pisado no estádio Heriberto Hulse. Torcer para o Criciúma é algo forte, intenso, grandioso. É este sentimento que carrega o clube, entre os maiores do país, contrariando todas as expectativas, lógicas e cálculos. Suas conquistas atraíram os olhos do país para esta cidade do interior, causando espanto, escândalo e uma legião de admiradores do pequeno “Davi” do futebol.
O Criciúma é único. Inimitável, incomparável. Uma incógnita, um contra-senso. Por isso é tão maravilhoso torcer para este clube. Porque ele é nosso, é nossa terra, nossa cidade e nossa região se fazendo presente frente ao eixo Rio-São Paulo, em um caldeirão que nunca deixou o adversário ser maioria. E quem acha isso pouco para chamar o Criciúma de fenômeno, que me apresente algo espetacular. Nada de trivial: precisa superar todas as expectativas, quebrar barreiras, conquistar vitórias impossíveis.

O Criciúma somos nós!

Saudações tricolores!
Alexandre E. P. Dagostim
Blog: http://enderecoinvalido.wordpress.com