Ação é desenvolvida pelo MPSC em parceria com a prefeitura da cidade e a Polícia Militar. Em 2023, 28 escolas receberam a roda de conversa sobre o tema.
Uma parceria entre o Ministério Público de Santa Catarina (MPSC), o Município de Criciúma e a Polícia Militar oportunizou nos últimos meses a realização de palestras sobre violência doméstica para alunos do oitavo e nono anos e da Educação de Jovens e Adultos na cidade do Sul do estado. Desde abril, cerca de 1.900 estudantes de 28 escolas da rede pública de ensino receberam a roda de conversa do programa “Meu Lar Protetivo”, que busca conscientizar e orientar os estudante sobre o tema.
O último encontro do ano foi realizado na Escola Ludovico Coccolo, no Bairro São Luiz. “Nós estamos encerrando hoje este ciclo de visitas às escolas em que tivemos a oportunidade de apresentar a cada um desses alunos, inclusive com material impresso que foi disponibilizado, os meios de denúncia, as formas de apoio às vítimas e os indícios de violência doméstica a que eles podem estar atentos no seu ambiente doméstico e grupo de amigos e assim ajudar a evitar, prevenir e denunciar”, aponta o Promotor de Justiça Samuel Dal Farra Naspolini, da 12ª Promotoria de Justiça de Criciúma.
Nos encontros, os estudantes têm a oportunidade de entender o que é violência, como as autoridades agem diante dos casos e como denunciar. “Foi uma palestra muito importante. Acredito que muitas pessoas aqui sabem o que é violência contra a mulher, mas muitas vezes um familiar ou parente nosso não sabe exatamente os tipos de violência nem o que fazer, e assim é importante a gente ampliar o conhecimento sobre isso. A escola é um meio muito legal para falarmos sobre isso, algo que não sabíamos que acontecia tanto na nossa cidade. Eu, por exemplo, sempre pensei que acontecia só em cidade maiores”, relata o estudante Pedro Fagundes.
A escolha do público que recebeu as palestras diz respeito à idade, já que os jovens de 13 a 15 anos normalmente estão iniciando seus relacionamentos nessa fase. “Nesse momento os jovens são incríveis potencializadores do tema e estão iniciando seus relacionamentos muitas vezes, então é importante ter essas dicas e informações a respeito da violência contra a mulher para que eles possam identificar qualquer situação que presenciem ou venham a viver. Sendo potencializadores, eles também estão levando o que ouvem aqui para outras pessoas, levando informação às suas casas e à realidade de cada um”, lembra a psicóloga do Centro de Referência de Assistência Social de Criciúma Maria Antônia Denski.
Violência doméstica e os reflexos em sala de aula
Além de afetar diretamente as mulheres vítimas, casos de violência doméstica influenciam no comportamento dos estudantes em sala de aula. “Nós, enquanto Secretaria de Educação, vivenciamos diariamente os reflexos da violência contra a mulher nas famílias. Isso reflete nas relações em sala de aula, no impacto do desenvolvimento, no rendimento escolar, nas questões de evasão escolar. Por isso tudo, é muito positivo para os alunos essa proximidade com o Ministério Público e com a própria Polícia Militar para tratar deste tema”, conta a assistente social da Secretaria de Estado da Educação Marilaine Scheffer.
A diretora da escola, Milena Aparecida Fernandes, também ressaltou a importância do programa na aproximação dos estudantes com as forças de segurança. “Essa ação é primordial para aproximar os jovens que às vezes só tem contato com a polícia pelo 190 ou com o Ministério Público por um site, e assim eles veem quem são pessoas reais que estão disponíveis para ajudar, tirar as dúvidas, esclarecer suas vivências familiares”, diz.
Participação de policiais gera aproximação e já resultou em relatos de violência
Nos encontros, policiais militares especializados na Rede Catarina também conversaram com os alunos, apresentando as formas de acionamento da guarnição e os tipos de violência contra a mulher e compartilhando experiências. O programa Rede Catarina, da Polícia Militar, se dedica à prevenção da violência doméstica e familiar contra a mulher, com base na filosofia de polícia de proximidade e buscando conferir maior efetividade e celeridade às ações de proteção à mulher.
Além de aproximar a PM dos jovens, as palestras já oportunizaram denúncias de violência. “Os encontros foram muito positivos. Percebemos da parte dos jovens o interesse pelo tema. Vários deles apresentam questionamentos, pedem ajuda, orientação e até fazem denúncias. Já tivemos neste ano, durante palestras, situações em que o pedido de ajuda veio do jovem para um caso de violência que ele mesmo sofria ou até contra a mãe ou uma familiar mulher, e providências foram tomadas. Assim, com a palestra conseguimos levar conhecimento para o jovem, além de estarmos mais próximos deles”, comenta a policial militar Tessália Coelho da Silva.
“Por meio dessas palestras a gente tenta ajudar, levar informação, esclarecer e buscar mudar uma realidade que é muito triste. Às vezes uma simples informação de quais são tipos de violência, de como fazer a denúncia, pode mudar uma vida, dar fim a um ciclo de violência, ajudando muitas vítimas”, completa o policial Giliarde da Silva Tachinski.
O objetivo do MPSC é dar sequência à série de palestras em 2024. A continuidade da ação será discutida nas próximas semanas com todos os parceiros do programa.