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O que esperar da primavera em SC este ano? Dados alertam para eventos extremos; veja detalhes

O Estado ainda sofre com a influência do fenômeno La Niña, que deve permanecer até o fim do ano, contribuindo para a ocorrência de eventos extremos

Foto: Divulgação

Mudanças bruscas na temperatura e verão fora de época, estiagem em algumas regiões e chuvas em excesso em outras. O que se sabe sobre estas alterações climáticas tão perceptíveis? E o que podemos esperar da primavera deste ano em Santa Catarina?

Com a chegada da primavera, que ocorre em 22 de setembro, nesta quinta-feira (22), esperamos temperaturas agradáveis e um clima de alegria, típicos da estação das flores. No fim das contas, saímos de uma estação fria, que esse ano contou com temperaturas congelantes. A mínima registrada neste inverno chegou a -7,4°C, sem falar que tivemos quase 110 dias com geadas na Serra catarinense.

Neste ano, devido ao efeito do fenômeno conhecido como La Niña, especialistas alertam que a primavera no Estado será com temperaturas um pouco mais baixas. Além disso, poderá contar com pouca chuva na região Oeste, que foi fortemente castigada com a estiagem no início deste ano.

Conforme dados da Epagri/Ciram, com a influência da La Niña, corremos o risco de presenciar eventos “extremos”, com chuvas fortes em curto intervalo de tempo, temporais com muitos raios, granizo e rajadas de vento.

Esse fenômeno já está ocorrendo no Estado há mais de dois anos, explica o Supervisor do Laboratório de Climatologia da UFSC, professor Renato Ramos da Silva. Ele explica ainda que com a influência da La Niña, o Sul do Brasil sofre influência direta na quantidade de chuvas, deixando o índice abaixo da média, enquanto na região Norte e Nordeste ocorrem chuvas fortes.

O professor Renato comenta também que, no período da primavera, acontece uma pequena inclinação do eixo da Terra, que passa a receber mais radiação solar no hemisfério Sul. Isso contribui para elevar as temperaturas. Apesar disso, temos maior exposição às radiações solares. No inverno tínhamos nove horas de luz solar por dia, enquanto na primavera passamos a ter 12 horas aproximadamente.

Esse período de maior exposição contribui também para o efeito estufa e o aumento da radiação térmica no planeta, que, somado ao fenômeno La Niña, poderá causar eventos mais extremos.

Chuvas na média ou estiagem?

Conforme a Epagri/Ciram, as chuvas nesta primavera serão mal distribuídas, alertando para a ocorrência de chuvas fortes em algumas regiões do Estado. As chuvas seguem associadas à passagem de frentes frias mais comuns, a partir de setembro, e com mais influência no Oeste e Meio-Oeste de Santa Catarina.

Na área leste do Estado, que abrange a região da Grande Florianópolis, a circulação marítima tem maior influência na chuva nos meses de primavera (setembro a dezembro). Isso ocorre especialmente em anos de La Niña. Em setembro, os totais de chuva variam de 150 a 210 mm, no Oeste e Meio Oeste, e de 110 a 170 mm, nas demais regiões.

Para o mês de outubro, as chuvas terão os volumes mais elevados do trimestre e variam de 210 a 280 mm, no Oeste e Meio-Oeste, e de 140 a 180 mm, nas demais regiões. Já em novembro a chuva ocorre em Santa Catarina com volumes de 130 a 180 mm em média.

Ciclones

Um dos fatores que favorece a ocorrência desses fenômenos climáticos em Santa Catarina é a própria localização do Estado. Conforme explica o professor Renato, o Sul do Brasil é considerado um berço de ciclones na América do Sul, onde os ciclones se formam, e que inclui também Argentina e Uruguai.

Os ciclones extratropicais atuam especialmente no mês de setembro e na primeira quinzena de outubro, trazendo perigo às embarcações, com ventos fortes e mar agitado, que muitas vezes resultam em ressaca. Nevoeiros, com redução de visibilidade, também são esperados para as noites, madrugadas e amanhecer desta primavera.

O professor Ricardo explica que isso se deve a uma série de fatores meteorológicos, como o fluxo de ventos mais quentes da Amazônia, o ar mais seco vindo dos Andes e a umidade na atmosfera proporcionada pela região da Bacia da Prata, que se estende pelo Brasil, Uruguai, Paraguai e Argentina.

Efeito estufa e aquecimento global

Outro fator destacado por Renato é que a atmosfera está ficando mais ativa devido ao efeito estufa, que aquece mais o planeta a cada ano.

Esse fator acaba contribuindo com essas alterações climáticas tão expressivas. Por exemplo, com a elevação gradual da temperatura durante a primavera, em específico no período que antecede o verão, sofremos com uma maior evaporação das águas dos rios e do mar. Isso contribui para a ocorrência de bastante chuva. Outro fator que se deve ao efeito estufa é o “secamento dos continentes”, mais perceptível em regiões não litorâneas, contribuindo para a estiagem.

O Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), alerta para o aumento das temperaturas. Com o aquecimento global, a chuva pode aumentar em algumas áreas do planeta, enquanto, em outras, há uma tendência de redução.

Para grande parte do Brasil, o melhor cenário indica uma redução média de 10% no volume de chuvas anual, enquanto o cenário mais pessimista indica uma redução média de até 20%. Áreas menores das regiões Nordeste e Sul do Brasil indicam possibilidade de aumento da precipitação entre 10 e 20%, dependendo do cenário.

O Instituto projeta um aumento no número de eventos de chuvas extremas, inclusive no Brasil, mesmo em áreas com tendência de redução no total anual. Isso implica em maior probabilidade de enchentes e alagamentos.

O que é a La Niña?

La Niña é o nome dado ao fenômeno climático e oceânico caracterizado pelo resfriamento anormal das águas do oceano Pacífico. Ele provoca alterações sazonais na circulação geral da atmosfera, podendo durar de nove a 12 meses. Sua ocorrência se dá entre períodos de dois a sete anos.

Os efeitos do La Niña são sentidos em diversas localidades, como é o caso do Brasil. No país, há um aumento no volume de chuvas no Norte e Nordeste, bem como secas e temperaturas muito elevadas na região Sul. No Centro-Oeste e Sudeste, os impactos variam. Mais recentemente, a ocorrência do La Niña provocou chuvas intensas e queda de temperatura no verão.”

O que esperar do verão

Pelo menos até o início de 2023, o fenômeno La Niña permanecerá atuando e influenciando diretamente no clima do planeta. O alerta partiu da OMM (Organização Meteorológica Mundial), ligada à ONU (Organização das Nações Unidas).

Conforme dados do Inmet, de forma geral, as previsões climáticas indicam que nos meses de dezembro de 2022 e janeiro de 2023, há uma tendência de chuvas abaixo da média na região Sul, centro-sul do Mato Grosso do Sul e parte do Estado de São Paulo. Nas demais áreas, a previsão indica chuvas dentro da sua faixa normal.

Ainda não é possível prever com exatidão as temperaturas no verão, mas, se nos basearmos nos anteriores, é possível que o verão contemple temperaturas mais elevadas que a da temporada passada.

Com informações do ND+

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