Situação é investigada pela Polícia Civil e Conselho Tutelar da Capital
Um caso de maus-tratos em uma creche particular de Florianópolis é investigado pela Polícia Civil e Conselho Tutelar. As supostas ações cometidas por uma funcionária do local foram relatadas por pais e denunciadas à polícia.
Uma mãe que pediu para não ser identificada relatou que sua filha, de apenas quatro anos, chegava em casa todos os dias com fome. De início, a mãe não desconfiou. “Acreditava que era pelo enorme parque em que corria”, disse ela. Porém, a situação continuou a se repetir.
Sua filha relatou então que na verdade estava com fome pois “a professora não me deu comida quando eu pedi”, disse a criança. Para a mãe, a situação foi tão estranha que decidiu começar a conversa com a escola, que negou a história.
Xixi e desespero
Um dia a filha de Jussara (nome fictício), além da fome, chegou em casa com a calça suja de urina. Já desfraldada (quando uma criança não usa mais fralda), a mãe desconfiou da ação. Ao questionar a filha, a criança contou que tinha ficado trancada em uma sala e tinha “gritado muito alto, mas ninguém abriu a porta”, contou à mãe.
O relato foi confirmado por uma antiga professora da escola, que gravou as imagens para ter provas suficientes para denunciar as situações. De acordo com Jussara, esta professora relatou que sua filha teria ficado trancada pois começou a relatar aos pais os maus-tratos que sofria.
Agora, a pequena de apenas quatro anos chora antes de dormir. Aos prantos, grita para a mãe “por favor, não saia de perto”, conta, em lágrimas, Jussara. Ela também afirma que todas as noites precisa confirmar à filha que irá protegê-la.
Tristeza absurda
“É muito difícil para a gente, é uma tristeza absurda saber que meu filho passou por tudo isso”, disse outra mãe, que também pede para não ser identificada. Seu filho de apenas dois anos teria também começado a relatar fome ao chegar em casa. Ela foi a primeira mãe a ser procurada pela ex-professora da escola para relatar as agressões.
O pequeno teria chegado em casa “caidinho”. Sua mãe acreditava ser alguma doença, como a passada por ele em dias anteriores. Mais tarde, o relato da antiga professora confirmou para a mãe que, supostamente, seu filho teria sido puxado pela orelha da rua até a sala. Isto, segundo a denúncia, foi motivado pois a mãe estava “muito desconfiada” de alguns comportamentos da criança e teria procurado a secretaria da escola.
Mães se unem
Cerca de dez mães uniram-se com outras quatro ex-professoras e, juntas, criaram um grupo de WhatsApp. De acordo com uma das integrantes, o intuito é divulgar as agressões e dar apoio umas às outras diante da “tristeza compartilhada”. As integrantes estão dando entrevistas sobre o tema e pedindo justiça por seus filhos.
Segundo uma das mães, a pedagogia da escola era atrativa e prometia um grande pátio, alimentação com prescrição de nutricionista e apoio aos pequenos. A mãe refere-se à metodologia da escola, que incluía um amplo espaço para “brincadeiras ao ar livre”.
Providências legais
A delegada da Polícia Civil, Michele Alves Correa Rebelo, explicou que o inquérito foi instaurado após denúncias recebidas. As investigações começaram neste sábado (2) e devem durar cerca de trinta dias. Inicialmente, de acordo com Rebelo, estão sendo ouvidos os pais das crianças.
A próxima fase será a escuta com os funcionários da instituição privada. De acordo com a delegada, informações recebidas não oficialmente apontam que a escola está fechada. A reportagem tentou contato com a suposta creche e não teve retorno em nenhuma das tentativas até a publicação desta matéria. O espaço segue disponível caso a creche queira pronunciar-se.
Em nota, o Conselho Tutelar de Florianópolis afirmou que recebeu a denúncia e está averiguando a situação. De acordo com o texto, a Secretaria de Assistência Social poderá ser acionada caso sejam necessárias ações de acompanhamento posterior aos envolvidos.
Com informações do ND+