Pesquisadores da USP e do Hospital Sírio Libanês constataram que o vírus tem se tornado mais ‘inteligente’, resistente ao sistema imune e mais transmissível
m estudo realizado pela USP (Universidade de São Paulo), em parceira com o Instituto de Química e o Hospital Sírio Libanês aponta que novas variantes da Covid-19 podem chegar nos próximos meses.
A pesquisa foi publicada na revista Viruses no dia 16 de abril e traz uma revisão de mais de 150 artigos sobre o coronavírus. Na ocasião, foram analisados diversos aspectos do vírus, como seu potencial de mutação, a capacidade de controle do sistema imune, a transmissibilidade e a eficácia das vacinas.
“A principal conclusão a que chegamos é que não devemos deixar o vírus circular, porque não sabemos como serão as variantes nos próximos meses”, afirma Cristiane Guzzo, professora do Departamento de Microbiologia do ICB-USP e pesquisadora principal do artigo.
A pesquisadora alerta que é um erro acreditar que a pandemia está sob controle e que não se trata mais de uma emergência sanitária, conforme anunciou o Ministério da Saúde na segunda-feira passada (18).
“Estamos em uma situação confortável para os próximos meses quando a imunidade criada pelas doses de reforço das vacinas e pelo alto índice de contaminação da Ômicron permanecerá alta. Mas depois a tendência é que as pessoas comecem a se infectar novamente e aí ficaremos sujeitos ao surgimento de variantes ainda mais contagiosas e fortes do que as que conhecemos, o que diminui a eficácia das vacinas”, explica a professora.
Com o retorno da alta do contágio, ela destaca que não é possível saber como será a evolução da pandemia e como as novas variantes vão se comportar.
Mais perigoso
Os pesquisadores observaram que o coronavírus é ainda mais mutável do que se imaginava. Isso porque a proteína Spike, parte superficial do vírus que faz contato com as células humanas, segue evoluindo.
“Identificamos em primeira mão que 9,5% das mutações produzidas pelas variantes estão localizadas na região N Terminal (NTD) da proteína. Isso mostra que estas mutações não estão diretamente associadas à interação ao receptor humano ACE2, mas afeta principalmente a capacidade dos anticorpos humanos reconhecerem o vírus”, afirma Guzzo.
Os pesquisadores também constataram um número expressivo de mutações (7,7%) localizadas na RDB, região que promove a interação com a ACE2. O que faz com que o contato entre vírus e célula humana seja maior e assim as contaminações aumentem.
“A hipótese encontrada é de que a maioria das vacinas tem como princípio o estímulo da produção de anticorpos que inibam a interação entre a proteína Spike ao ACE2, de forma a diminuir a infecção viral. E uma das formas que o vírus encontrou para burlar essa inibição é modificar a região de interação do vírus com a célula humana”, enfatiza.
Ainda de acordo com Cristiane Guzzo, a evolução do vírus é uma maneira de tentar se manter vivo, principalmente burlando a ação dos anticorpos e infectando o ser humano.
Neste meio tempo, foram identificados seis mecanismos que a proteína Spike adquiriu de forma a aumentar a eficiência de transmissão.
Um deles é o aumento da afinidade do Spike ao ACE2. Um outro é o aumento significativo da quantidade de proteínas Spike na superfície de cada partícula viral.
No artigo, os pesquisadores destacam que outras proteínas do vírus também estão se modificando. Isso ocasiona, por exemplo, o aumento da taxa com que o vírus consegue se multiplicar nas células humanas.
“Por esses e outros fatores, o vírus vai aprendendo a driblar a ação dos anticorpos e se adaptar ao ser humano”, acrescenta a pesquisadora.
Aumento de transmissão
Os pesquisadores observaram ainda que o período em que o período de transmissibilidade tem se iniciado cada vez mais cedo conforme as variantes surgem antes mesmo do aparecimento dos sintomas.
“Vimos que 74% das transmissões pela variante Delta foram feitas por assintomáticos. Na variante original, as pessoas começavam a transmitir o vírus um dia antes do início dos sintomas”, complementa a pesquisadora.
Atuais números da Covid-19 em SC
De acordo com o boletim epidemiológico divulgado pelo governo estadual no último domingo (24), Santa Catarina registrou 1.697.648 casos confirmados desde o início da pandemia.
Neste mesmo período, 21.743 catarinenses morreram em decorrência da Covid-19. A taxa de letalidade permanece em 1,28%.
Atualmente, o estado conta com 3.951 casos ativos, ou seja, pessoas que ainda não se recuperaram e podem transmitir a doença. Além disso, 1.671.954 pacientes já se recuperaram da Covid-19.
Com informações do ND+