O envelhecimento dos parreirais diminui a produção da fruta.
Com as videiras mais antigas produzindo cada vez menos uva, o Poder Público e órgãos ligados ao setor de uva e vinho resolveram trabalhar o estímulo ao plantio de novos parreirais. O Executivo municipal encaminhou à Câmara de Vereadores um projeto de lei que incentiva o produtor, oferecendo subsídio para a compra de novas mudas. A intenção é trabalhar o Goethe 4.0, como explica o prefeito Gustavo Cancellier.
“A partir do momento em que o produtor plantar, dali dois ou três anos na primeira colheita, isso tudo vai acelerar o segmento. Agricultor familiar, produtor de vinho e empreendedor terão subsídios diferentes, além de escolas e órgãos públicos que receberão as mudas de graça”, explica.
O vinicultor terá 80% de subsídio na compra da muda, que custa em média R$ 8, sendo R$ 6,40 pagos com verba municipal. Para o viticultor, o subsídio será de 60% e para quem deseja ingressar no segmento, e não se encaixa nessas duas categorias, o aporte será de 40% do valor de cada muda. Escolas, prédios públicos e pessoas físicas que quiserem plantar videiras como paisagismo, em pouca quantidade, terão as plantas de graça.
O objetivo do município é investir pelo menos R$ 300 mil no plantio de 30 hectares ainda em 2019, com recursos próprios. O prefeito entende que outras áreas necessitam de recursos, porém a iniciativa visa aproveitar a vocação da cidade para acelerar “uma locomotiva que vai puxar todo o resto”.
“Também terá subsídio que pode chegar a 100% do valor da muda para quem plantar às margens da SC-108. Queremos que o turista que passar por aqui já veja da estrada esses parreirais”, comenta.
O texto já foi discutido com os vereadores e deve ser aprovado assim que o Legislativo retornar do recesso de final de ano. Em agosto, época de plantio, as novas mudas devem começar a modificar o cenário da cidade. Antes disso, todos os participantes do programa irão passar por treinamento técnico para aprender sobre o manejo de solo e cuidados com a produção.
Calor auxilia no crescimento
Após o plantio, as novas mudas devem começar a dar frutos dentro de dois anos, estima o enólogo Stevan Arcari. Ele atua na Estação Experimental da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina – Epagri de Urussanga, e explica que como a região é bastante quente, o crescimento vegetativo é mais rápido. A primeira safra costuma ser de um terço da área normal, até que o parreiral esteja totalmente produtivo no ano seguinte.
“A gente estima um custo total desde preparar a terra até a véspera da primeira colheita, custo de implantação, pagando toda mão de obra, cerca de R$ 60 mil por hectare”, calcula.
De um vinhedo novo, a primeira safra deve ser de cerca de 18 toneladas, e nos anos seguintes, em plena produção, pode chegar a 20 toneladas por hectare. Nos parreirais mais antigos, como é o caso de boa parte dos produtores da região, a média fica em torno de 12 toneladas.
No projeto, 60% dos recursos serão destinados à uva Goethe, e o restante a variedades de mesa, como outra fonte de renda ao produtor. Ao final da primeira safra, caso as vinícolas não consigam absorver a nova demanda, está prevista a criação de uma cooperativa com subsídio municipal para escoar a produção.
Estação Experimental
Na região, a Epagri atende sete vinícolas, cinco delas inseridas no processo de Indicação Geográfica. Pelo menos 50 vitivinicultores têm no vinho artesanal uma renda importante para a família, porém, como a bebida necessita de registro junto ao Ministério da Agricultura, a produção é pequena e para consumo familiar, com venda direta nas propriedades. Na produção de Goethe são pelo menos 25 famílias envolvidas.
“A Epagri dá apoio técnico ao produtor, é a primeira porta que ele bate. A Estação Experimental trabalha na área de pesquisa de uva e vinho, com experimentos sobre sistemas de cultivo, de vinificação, além de treinamento técnico para os produtores”, explica o enólogo Stevan Arcari.
Mas nem só de Goethe vive a região. Urussanga e arredores tem participação importante na produção de uvas de mesa, para venda em supermercados. Para a safra, que começa em janeiro, a previsão geral é de baixa, segundo o especialista. As videiras brotaram com menos uva, menos cacho. Deve haver uma quebra de 30% na safra da uva de mesa.
Apesar do cacho menor, ele está mais bonito, porque o clima foi favorável para a uva. Um inverno frio e uma primavera e verão não muito secos, com regime de chuva regular e bastante sol, são garantia de saúde para as plantas. Com a produção da Goethe em uma área de 40 hectares, a estimativa é produzir 180 mil litros de vinho.
Indicações Geográficas e de Procedência
Com características únicas, cada região produtora de vinho no país tem buscado afirmar suas peculiaridades através de certificações de origem. O registro de Indicação Geográfica – IG atesta que determinado produto ou serviço é singular e encontrado somente naquele local, o diferenciado dos similares existentes no mercado. O Instituto Nacional de Propriedade Industrial – INPI é a instituição que concede esse registro, que pode ser de Indicação de Procedência – IP, como no caso da Uva Goethe, ou de Denominação de Origem – DO. Das seis regiões produtoras de uva e vinho que possuem certificação, as videiras do sul-catarinense são as únicas fora do Rio Grande do Sul.
Indicações Geográficas do setor vitivinícola brasileiro
Vale dos Vinhedos (RS) – Indicação de Procedência (2002) e Denominação de Origem (2012)
Pinto Bandeira (RS) – Indicação de Procedência (2010)
Altos Montes (RS) – Indicação de Procedência (2012)
Vales da Uva Goethe (SC) – Indicação de Procedência (2012)
Monte Belo (RS) – Indicação de Procedência (2013)
Farroupilha (RS) – Indicação de Procedência (2015)
Fonte: Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin)
Festas resgatam as origens
Na busca pelo resgate da origem italiana, o centenário de Urussanga, em 1978, foi um marco importante nesta retomada. Nos anos seguintes surgiu a Festa do Vinho, realizada até os dias de hoje, e no início da década de 1990 a assinatura do Gemellagio.
O pacto de amizade com a cidade de Longarone, na Itália, também serviu como ponte entre os dois países. Mais recentemente, a festa Ritorno Alle Origini e a Vindima, que celebra a colheita da uva, entraram para o calendário e fazem a alegria dos turistas e envolvidos com o plantio.
Em janeiro, ocorre nos dias 18, 19 e 20, a 11ª Vindima Goethe. Além das atividades tradicionais como colheita nos parreirais, esmagamento das uvas com os pés, piquenique e visitação nas vinícolas, a praça da cidade será palco de atividades gastronômicas e culturais, além do consagrado tombo da polenta gigante.
Pedras Grandes também terá programação com degustações orientadas de vinhos, voo de balão sobre os parreirais, bate-papo com especialistas, imersão cultural e ainda o lançamento de produtos cosméticos derivados da uva e do vinho.
Com informações de Lariane Cagnini / NSC Total